Conheça Tuffy, nosso primeiro super goleiro
Opinião de Walter Falceta
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Elegante, de uniforme sempre bem ajustado e costeletas de dândi, Tuffy Neujm foi um dos primeiros galãs do futebol brasileiro, uma cortejada celebridade.
Arqueiro voluntarioso e destemido, costumava cortar os cruzamentos adversários com poderosos munhecaços. De reflexos rápidos, destacava-se ao defender pênaltis, mesmo dos mais calibrados oponentes.
Formando um trio com os beques Grané e Del Debbio, contribuiu decisivamente para dar ao nosso Timão o segundo tricampeonato de sua história, em 1928/29/30.
Pode ainda ser considerado nosso primeiro goleiro campeão nacional. Era quem defendia nossa meta em fevereiro de 1930, no famoso tira-teima entre os dois mais qualificados esquadrões da época: Vasco e Corinthians.
Vencemos por 4 a 2 no Parque São Jorge e confirmamos a conquista em São Januário, com um placar de 2 a 3. Detalhe: perdíamos de 2 a 0 até os 27 minutos do segundo tempo. Esse triunfo nos deu o título eterno de “campeão dos campeões”.
Mas Tuffy não era somente um bom atleta. Era considerado um cidadão intelectualmente à frente do seu tempo, um homem de bons princípios e inimigo das injustiças.
Em novembro de 1927, quando ainda defendia o Santos, foi um dos líderes da rebelião que paralisou a partida decisiva do torneio brasileiro de seleções, entre paulistas e cariocas.
Com o placar de 1 a 1, já no segundo tempo, assinalara-se um pênalti injusto contra sua meta e Tuffy iniciou uma altercação com o árbitro.
Da tribuna de honra, o então presidente da República, Washington Luís, enviou um recado aos atletas, exigindo que reiniciassem prontamente o prélio.
Com apoio de Tuffy, o artilheiro Feitiço mandou um recado ao governante: “pois fale para o Doutor Washington Luís, que lá em cima, na tribuna de honra, manda ele, mas aqui embaixo, no campo, mandamos nós, os jogadores”.
Os cariocas bateram o pênalti com o gol vazio. Escândalo nacional. E vários jogadores paulistas, inclusive Tuffy, foram suspensos da prática esportiva.
Em razão do clamor popular, o perdão veio no ano seguinte, quando o arqueiro já tinha se transferido para o Corinthians. E a torcida alvinegra promoveu uma festa para celebrar o seu retorno aos gramados.
Tuffy é lembrado como o primeiro goleiro a defender a meta do Corinthians no Parque São Jorge como território corinthiano, na partida contra o América RJ (2 a 2), em julho de 1928.
No entanto, durante bom tempo foi também conhecido como o sujeito camarada, rebelde, que botava as crianças pobres para dentro do clube, para desespero do segurança da época.
Em 1931, pagou do próprio bolso a publicação de um anúncio no jornal “A Gazeta”, conclamando cartolas e esportistas a auxiliar o jogador Tatu, que se encontrava empobrecido e enfermo.
Tratava-se de uma educada solicitação, mas também de uma crítica velada aos dirigentes e colegas que, no crepúsculo do amadorismo no futebol brasileiro, largavam à mingua atletas desfavorecidos, antes venerados como heróis em seus clubes.
Cabe lembrar que Tatu (Altino Marcondes) foi o primeiro negro a envergar, com sucesso e constância, a camisa do Corinthians, no início dos anos 1920. Foi o autor do golaço contra o Paulistano, no festejado 1 a 0 que nos deu o título de 1924.
Amante das artes, Tuffy aventurou-se naquela época também pelo mundo do cinema. Como ator, desempenhou-se com garbo no filme "Campeão de Futebol".
Gostou tanto da experiência artística que, em seguida, comprou o Penha Teatro. Ali, fazia questão de escolher o que seria exibido ao público.
Há registros, segundo o historiador Maurício Sabará, de que também assumiu um cargo de gerente no Edifício Martinelli, o mais chique e mais alto arranha-céu do Brasil na época.
Nas fotos, Tuffy expõe uma personalidade confiante, mas generosa e solidária. Na imagem histórica dos tricampeões, em 1930, abraça o companheiro Nerino Gallanti e recebe o carinho de outro ítalo-brasileiro, o famoso Filó (Amphilóquio Guarisi), que seria o primeiro futebolista brasileiro campeão do mundo, ao tomar parte na Seleção Italiana na Copa de 1934.
Tuffy, de tantas aventuras e histórias, morreu em 1935, aos 37 anos, vítima de pneumonia. Dizem que adoeceu de tanto andar pelas noites da São Paulo da garoa, em busca bons espetáculos e boas companhias.
Outros dizem que se preocupava tanto com os outros que deixava de lado os cuidados com a própria saúde.
Está sepultado no Cemitério São Paulo, em túmulo projetado pelo escultor Eugênio Prati. Reza a lenda que, em seu refúgio derradeiro, descansa com a camisa de seu amado Corinthians.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.