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Conheça Tuffy, nosso primeiro super goleiro
Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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Conheça Tuffy, nosso primeiro super goleiro

Coluna do Walter Falceta

Opinião de Walter Falceta

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Conheça Tuffy, nosso primeiro super goleiro

Tuffy: defensor de pênaltis, defensor da dignidade dos atletas

Elegante, de uniforme sempre bem ajustado e costeletas de dândi, Tuffy Neujm foi um dos primeiros galãs do futebol brasileiro, uma cortejada celebridade.

Arqueiro voluntarioso e destemido, costumava cortar os cruzamentos adversários com poderosos munhecaços. De reflexos rápidos, destacava-se ao defender pênaltis, mesmo dos mais calibrados oponentes.

Formando um trio com os beques Grané e Del Debbio, contribuiu decisivamente para dar ao nosso Timão o segundo tricampeonato de sua história, em 1928/29/30.

Pode ainda ser considerado nosso primeiro goleiro campeão nacional. Era quem defendia nossa meta em fevereiro de 1930, no famoso tira-teima entre os dois mais qualificados esquadrões da época: Vasco e Corinthians.

Vencemos por 4 a 2 no Parque São Jorge e confirmamos a conquista em São Januário, com um placar de 2 a 3. Detalhe: perdíamos de 2 a 0 até os 27 minutos do segundo tempo. Esse triunfo nos deu o título eterno de “campeão dos campeões”.

Mas Tuffy não era somente um bom atleta. Era considerado um cidadão intelectualmente à frente do seu tempo, um homem de bons princípios e inimigo das injustiças.

Em novembro de 1927, quando ainda defendia o Santos, foi um dos líderes da rebelião que paralisou a partida decisiva do torneio brasileiro de seleções, entre paulistas e cariocas.

Com o placar de 1 a 1, já no segundo tempo, assinalara-se um pênalti injusto contra sua meta e Tuffy iniciou uma altercação com o árbitro.

Da tribuna de honra, o então presidente da República, Washington Luís, enviou um recado aos atletas, exigindo que reiniciassem prontamente o prélio.

Com apoio de Tuffy, o artilheiro Feitiço mandou um recado ao governante: “pois fale para o Doutor Washington Luís, que lá em cima, na tribuna de honra, manda ele, mas aqui embaixo, no campo, mandamos nós, os jogadores”.

Os cariocas bateram o pênalti com o gol vazio. Escândalo nacional. E vários jogadores paulistas, inclusive Tuffy, foram suspensos da prática esportiva.

Em razão do clamor popular, o perdão veio no ano seguinte, quando o arqueiro já tinha se transferido para o Corinthians. E a torcida alvinegra promoveu uma festa para celebrar o seu retorno aos gramados.

Tuffy é lembrado como o primeiro goleiro a defender a meta do Corinthians no Parque São Jorge como território corinthiano, na partida contra o América RJ (2 a 2), em julho de 1928.

No entanto, durante bom tempo foi também conhecido como o sujeito camarada, rebelde, que botava as crianças pobres para dentro do clube, para desespero do segurança da época.

Em 1931, pagou do próprio bolso a publicação de um anúncio no jornal “A Gazeta”, conclamando cartolas e esportistas a auxiliar o jogador Tatu, que se encontrava empobrecido e enfermo.

Tratava-se de uma educada solicitação, mas também de uma crítica velada aos dirigentes e colegas que, no crepúsculo do amadorismo no futebol brasileiro, largavam à mingua atletas desfavorecidos, antes venerados como heróis em seus clubes.

Cabe lembrar que Tatu (Altino Marcondes) foi o primeiro negro a envergar, com sucesso e constância, a camisa do Corinthians, no início dos anos 1920. Foi o autor do golaço contra o Paulistano, no festejado 1 a 0 que nos deu o título de 1924.

Amante das artes, Tuffy aventurou-se naquela época também pelo mundo do cinema. Como ator, desempenhou-se com garbo no filme "Campeão de Futebol".

Gostou tanto da experiência artística que, em seguida, comprou o Penha Teatro. Ali, fazia questão de escolher o que seria exibido ao público.

Há registros, segundo o historiador Maurício Sabará, de que também assumiu um cargo de gerente no Edifício Martinelli, o mais chique e mais alto arranha-céu do Brasil na época.

Nas fotos, Tuffy expõe uma personalidade confiante, mas generosa e solidária. Na imagem histórica dos tricampeões, em 1930, abraça o companheiro Nerino Gallanti e recebe o carinho de outro ítalo-brasileiro, o famoso Filó (Amphilóquio Guarisi), que seria o primeiro futebolista brasileiro campeão do mundo, ao tomar parte na Seleção Italiana na Copa de 1934.

Tuffy, de tantas aventuras e histórias, morreu em 1935, aos 37 anos, vítima de pneumonia. Dizem que adoeceu de tanto andar pelas noites da São Paulo da garoa, em busca bons espetáculos e boas companhias.

Outros dizem que se preocupava tanto com os outros que deixava de lado os cuidados com a própria saúde.

Está sepultado no Cemitério São Paulo, em túmulo projetado pelo escultor Eugênio Prati. Reza a lenda que, em seu refúgio derradeiro, descansa com a camisa de seu amado Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Walter Falceta

Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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    Silva 182 comentários

    @robertlucas em

    Show de conteúdo para os amantes de futebol, Parabéns Walter Falceta Jr.

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    Múcio 14 comentários

    @mucio.rodolfo.neto em

    Pois é. Walter conforme já foi dito por aí, a história de Tuffy seria um enredo para um filme sensacional. E nem seria necessário inventar coisas para tornar a história interessante, ou seja, seria um filme sem adaptações. Aproveito a ocasião para parabenizar-lhe pela iniciativa de proporcionar às novas gerações de corinthianos um conhecimento ainda maior do time ao qual dedicam sua paixão. Tuffy é mais um entre tantos exemplos de que a história do Corinthians é vasta e maravilhosa. É bom saber que já num passado distante, contamos com jogadores de personalidade forte, com profunda consciência social e que não se curvavam aos donos do poder.

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    Foto do perfil de eduardo

    Eduardo 152 comentários

    37º. @negodagua em

    Já falei uma vez mais falo de novo, mesmo que já tivesse partido desta vida eu queria ter vivido nesta época e assistindo o elegante Tuffy defendendo a meta do AlviPreto...uma pena este grande ser humano ter partido precocemente...

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    Dartanhà 97 comentários

    36º. @dartanhan em

    Rapaz a partir de agora não perco um poste seu, maravilhoso ler sobre a história de personagens corajosos como esse, que fizeram a história do Corinthians.

    Parabéns mais uma vez.

    Fica a sugestão e pergunta sobre os irmão Solito e Solitinho por onde andam?

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    José 16 comentários

    35º. @jose.roberto.silva3 em

    Texto enriquecedor do grande corinthianista Tuffy.

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    Guilherme 42967 comentários

    34º. @guilherme.teixeira.d em

    Muito bacana seu post

  • Foto do perfil de Ciro

    Ranking: 12º

    Ciro 39344 comentários

    33º. @ciro.hey em

    Meu vo falava de Grane e Del Debbio. Mas vivendo e aprendendo.. Não conhecia o Tuffy hehe não lembro nem de citar no documentário do Centenário.