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Do sonho de infância à realidade campeã: Corinthians Steamrollers vira referência no Brasil

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Por Vinícius Souza*

Após uma parceria com o Corinthians, um time formado por jovens paulistas se tornou multicampeão no esporte da bola oval

Após uma parceria com o Corinthians, um time formado por jovens paulistas se tornou multicampeão no esporte da bola oval

Vinícius Souza / Meu Timão

‘End zone’, ‘fumble’, ‘tackle’, ‘field goal’ e ‘touchdown’. Esses e tantos outros termos fazem parte do vocabulário do futebol americano, o esporte mais popular dos Estados Unidos. E o que eles têm a ver com o Corinthians? Tudo. Há nove anos, dois amigos de infância tiveram a ideia despretensiosa de montar uma equipe que, mais tarde, se tornaria o Corinthians Steamrollers - o “Rolo Compressor” do Parque São Jorge.

Desde então, o Timão se tornou um dos principais times do Brasil e da América Latina na modalidade da bola oval. “O clube já conseguiu ser tetracampeão paulista, bicampeão brasileiro e campeão latino-americano. Esse título estrangeiro só o Corinthians tem, nenhum time conseguiu ainda, mesmo sendo um esporte totalmente amador. Nós não ganhamos nada pra jogar no Corinthians”, afirma Erick Quinteiro, 31, atleta e gerente de marketing do Steamrollers.

Em entrevista exclusiva ao Meu Timão, ele conta com detalhes os bastidores do início da parceria com o clube alvinegro, explica sua função à frente da comunicação do time, revela os rivais do Corinthians no futebol americano e o alto investimento feito nas categorias de base do Steamrollers.

Confira a entrevista na íntegra

De onde surgiu a ideia de montar uma equipe de futebol americano no Brasil?

O time foi fundado em 27 de junho de 2006 pelo Cauê, que é QB (quarterback), e pelo Paulinho, WR (wide receiver). Por ter sido fundado em Diadema, ele se chamava Diadema Steamrollers. O Cauê e o Paulinho são amigos de infância, são vizinhos desde que o mais velho (Cauê) tinha um ano de idade. Em 2004, eles conheceram o futebol americano e ficaram por dois anos só brincando entre os dois, aquela coisa bem de amigo. Através de alguns contatos, chegaram até o Ricardo Trigo, que é diretor do Corinthians, e aí rolou a parceira virando Corinthians Steamrollers, em 15 de março de 2008.

Quais os benefícios que o time passou a ter após a parceria com o clube?

A gente começou a usufruir a parte da infraestrutura do Corinthians. A gente usa os campos, a fisioterapia, a academia... Temos uma sala que é do Corinthians Steamrollers e onde fica nossos troféus, uma mesa para reunião com possíveis patrocinadores. E no fundo dela, há um depósito onde fica todo nosso material, desde equipamento para treino como o helmet (capacete) e shoulders (proteção de corpo), ficam também nossos tackle bags, sacos de areia pra a gente treinar o contato. Essa é a parte que o Corinthians disponibiliza para a gente.

E os custos do time? Quem financia?

A gente não usa um real do clube Corinthians, não damos prejuízo algum. Desde o começo, sempre fomos auto-sustentáveis, sempre tivemos patrocínios, uma ação que conseguimos arrecadar alguma coisa não dando prejuízo ao clube.

Quais os primeiros passos da equipe após a parceria com o Corinthians?

Tanto na época de Diadema Steamrollers quanto Corinthians, a gente começou como flag, que é uma categoria com menos contato onde para parar a jogada, em vez de dar a ‘porrada’ no jogador, tem umas fitas na cintura que é como se para a jogada. Depois a gente acabou indo para o esporte equipado, que é chamado de full pads. Desde então, o clube já conseguiu ser tetracampeão paulista, bicampeão brasileiro e campeão latino-americano. Esse título estrangeiro só o Corinthians tem no Brasil, nenhum time conseguiu ainda, mesmo sendo um esporte totalmente amador. Nós não ganhamos nada pra jogar no Corinthians, pelo contrário. Na verdade, a gente disponibiliza nosso tempo de finais de semana, que tem treino sábado e domingo, além de alguns extras durante a semana, sem contar a parte de ir pra academia pra você se sobressair dentro de campo. A gente se dedica ao clube, ao Corinthians, ao futebol americano sem receber nada em troca por ser exatamente um esporte totalmente amador.

Quantos jogadores fazem parte do elenco do clube? Quais os campeonatos que o Steamrollers tem disputado?

Atualmente, a gente tem mais de 250 atletas no time. Temos hoje cinco categorias no Corinthians, que são o flag masculino e o flag feminino, e são as categorias de base. Então, hoje a porta de entrada do time é a categoria de base, a molecada acima de 14 anos entra pelo flag, vem conhecer o esporte e aprender a base em um esporte com menos contato, você consegue ter mais raciocínio e mais tempo pra poder pensar. E temos o full pads sub-19, que é o equipado, o full pads feminino e o full pads masculino. Neste segundo semestre, por exemplo, estamos disputando cinco campeonatos ao mesmo tempo. A gente tem o Campeonato Paulista do Flag Masculino, o Campeonato Paulista do Flag Feminino, a Taça Nove de Julho, que é um campeonato aqui no cenário de São Paulo; o Torneio Touchdown, que é um dos dois Campeonatos Brasileiros existentes da categoria; e o Campeonato Brasileiro do Torneio End Zone, do feminino. É bastante coisa que a gente faz, isso sem contar que temos uma escolinha para crianças de 8 a 13 anos. Então a molecada abaixo de 14 anos já tem como aprender o futebol americano. A gente fez essa escolinha pensando no futuro, tanto do clube pra poder começar a trazer jovens para conhecer e aprender o esporte, como também pensando nas crianças. Futebol americano tem uma educação muito boa, ele é muito rígido com a postura dentro e fora de campo. Sabe aquele ditado que “a bola pune”? No futebol americano é a mesma coisa, se você não se dedicar, se você não treinar, não se empenhar, a bola pune. Você vai apanhar feio pela vida...

Você comentou que o Corinthians não repassa nenhuma ajuda de custo para vocês. Como manter todas as categorias de base?

O clube não repassa nada pra gente. O que eles fazem por nós e disponibilizar a infraestrutura do clube. Não vou ser hipócrita e falar que não ajuda, ajuda muito. O fato de ter o nome Corinthians abre muitas portas pra gente e fecham algumas também. Tem muita gente que tem birra do Corinthians, que não gosta do clube... Então, o que eles nos cedem é essa parte da infraestrutura, a gente tem mais de um campo sintético para treino, academia, fisioterapia com os médicos do Corinthians, é uma coisa muito boa pra gente. Hoje, as categorias de base pagam uma mensalidade que serve pra suprir os custos da própria base. O time principal sobrevive com dinheiro de patrocínio, que hoje é a Super Pizza Pan, o único patrocinador oficial do clube. Às vezes, a gente consegue uma parceria pontual, por exemplo, com uma loja de suplementos... É assim que funciona, é mais na base da troca do que realmente dinheiro. A mensalidade paga pelas categorias de base é baixa, e tudo é revertido para eles porque os campeonatos têm custo com arbitragem, pintura de campo, mando de jogo... Porque a gente não consegue mandar dentro do clube. Imagina a seguinte situação: o clube é fechado, tem a catraca pra entrar, imagina se eu chegar lá com um monte de moleque pra jogar, com pais... A gente teria que colocar o nome de todos na lista e viraria uma bagunça. Então a gente está estudando uma forma de poder jogar do Parque São Jorge.

Quais os treinadores que dirigem as equipes?

Hoje, o Fábio Marin Júnior comanda o principal masculino e o Sub-19. Nos femininos flag e full pads, o treinador é o Diogo Heitor do Nascimento, e o Vinícius Palumbo no flag masculino.

Há quanto tempo você trabalha no clube? Como é para você cuidar do marketing e, ao mesmo tempo, estar em campo?

Eu estou no clube desde janeiro desse ano. Eu jogo futebol americano já há quase quatro anos e eu fui campeão paulista ano passado pelo Huskies na categoria flag. A gente fez um trabalho legal de marketing no time, começamos do zero em outubro de 2013 e fomos campeões em dezembro de 2014. E aí chamou a atenção do Corinthians, pela maneira que jogamos e pelo marketing que fizemos, rolou a parceria, o Huskies acabou e virou o flag do Corinthians, virou a base do Corinthians Steamrollers. Eu continuei com o trabalho de marketing, lógico que me adequei a algumas normas que o clube tem que a gente não pode fazer. Coisas totalmente entendíveis pelo tamanho do Corinthians, tomar cuidado pra não usar rosa, não usar nada verde... Tínhamos um trabalho no Huskies ano passado que era de falar muito com o público, coisa que o Corinthians não tinha. O Corinthians publicava, tinha uma grande visualização, mas não tinha aquela interação com o público. E é o que eu faço, eu respondo os comentários no Facebook, publico as postagens do clube em vários grupos de futebol americano pra poder divulgar mais, aproximar mais a galera.

E você realizou algum curso na área de marketing esportivo?

Sou farmacêutico, não tem nada a ver com educação física ou futebol americano (risos). Trabalho em laboratório e análises clínicas, mas eu trabalho no Corinthians porque eu gosto. Futebol americano é uma coisa que eu gosto, estudo pra caramba o esporte e é gostoso dividir o tempo entre jogar e mexer com marketing. Eu quase não tenho jogado recentemente porque eu ainda estou me recuperando de uma lesão no joelho e por conta do horário do trabalho, mas logo resolvo essa situação e eu volto a jogar. Mas é fantástico, de verdade é muito bom, seria muito interessante os brasileiros conhecerem a cultura do futebol americano pra ver como é muito diferente. A gente reclama de tanta coisa no soccer em relação à arbitragem e tudo mais, e no futebol americano essas coisas são diferentes.

Qual o grande rival do Corinthians Steamrollers na atualidade?

No Campeonato Paulista, o grande “inimigo” é o São Paulo Storm, pela história que os dois têm há anos atrás. Então no estado de São Paulo é o Storm. No Brasileiro, cada um disputa uma liga ainda, o Corinthians disputa o Torneio Touchdown e o Storm disputa o campeonato da CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano). Então no Brasileiro essa rivalidade não rola... É mesmo difícil falar, é muita gente de muito estado diferente. Tem os times do Rio de Janeiro, Vasco e Flamengo, que rola mais a rixa por causa do próprio futebol. Os times do Sul também, Paraná HP, Jaraguá Breakers, são os mais fortes... Acho que ainda não deu tempo de ter um grande adversário. Mas é aquela coisa, a gente é Corinthians e todo mundo odeia a gente. A gente não tem rixa com ninguém no Brasileiro, mas todo mundo tem com a gente (risos).

Recentemente, vocês anunciaram que o time voltou a mandar jogos em São Paulo. Qual o valor dos ingressos aos torcedores?

Jogos no Centro Olímpico de graça. Só chegar lá e fazer muito barulho, não vai ter custo nenhum de ingresso. Lá cabem mais ou menos 2.500 pessoas em uma arquibancada coberta. Estamos tentando lotar todos os jogos e, quem sabe, depois conseguirmos a fazendinha. Mostrar pro clube que a gente pode mandar nossos jogos lá e, aí sim, cobrar R$ 5, R$ 10 pelo ingresso pra poder fazer um caixa maior para o time. Infelizmente, pelo fato de ser muito difícil o campo aqui em São Paulo, a gente estava mandando nossos jogos em Leme, no interior. Pra se ter uma idéia, o último jogo do Corinthians aqui em São Paulo foi em janeiro do ano passado. Faz muito tempo que não tinha um jogo aqui, ainda mais aberto pra torcida.

(Nota da Redação: No último sábado (08), o Corinthians Steamrollers realizou sua primeira partida atuando na capital paulista pelo Torneio Touchdown. Com a presença em peso da Fiel, o Rolo Compressor bateu o Botafogo Challengers por 32 a 12, em duelo realizado no Centro Olímpico, na zona sul de São Paulo.)

O Corinthians tem algum projeto a curto, médio e longo prazo?

Para o marketing, de imediato, não. A gente tenta trabalhar sem muita programação para ficar antenado no que acontece pelo mundo. No ano passado, por exemplo, rolou aquele desafio viral do balde de gelo... Trabalhamos dessa maneira. Com o trabalho que estamos fazendo, de acompanhar os jogos, estamos montando um material visual bacana. É mesmo a cobertura de jogos, datas especiais, algo nessa linha. Dentro de campo, já traçamos tudo para este segundo semestre. Além dos campeonatos, vamos reformular as equipes no início do ano. A seletiva visa à base, o flag, vamos subir jogadores que se destacarem na base para o principal. É diferente, mesmo sendo futebol americano, a velocidade do esporte é muito diferente.

*Colaborou sob a supervisão de Mayara Munhoz.

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