Romarinho, um dos samurais corinthianos - a história do menino predestinado
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- Você vai entrar no lugar do Danilo. Fala pro Sheik ficar mais centralizado. Fica pelas beiradas, e vai pra cima!
Romarinho não sabe se foram essas, exatas, as palavras de Tite no último dia 27 de junho, à beira do gramado da Bombonera. Mas são essas as palavras que ele guarda na cabeça. Palavras que mudaram a sua vida e a do Corinthians. O jovem de 21 anos nem sequer viajaria para a Argentina. Recém-chegado do Bragantino, tinha pouquíssimas chances de entrar em campo, na avaliação do técnico. Cenário que Romarinho tratou de modificar três dias antes, ao fazer dois gols no Palmeiras e carimbar um lugar no avião rumo à final da Libertadores.
Romário Ricardo da Silva nasceu em Palestina, interior de São Paulo, e apesar de ter o nome do cara que brilhou com a camisa 11 da seleção brasileira, principalmente na Copa de 1994, foi batizado assim por uma combinação dos nomes do pai, Ronaldo, e do avô, Mário. Em Buenos Aires, após fazer história com a 21 do Timão, jornais até disseram que ele era filho do Baixinho. Mal informados, apesar da precisão semelhante na finalização histórica por cima do goleiro Orión, do Boca Juniors. Romarinho é mesmo filho de Vera e Ronaldo, prova de que os nomes de craques são uma sina da família. Irmão de Bruno, Renata e outro Ronaldo. E já viajou da Palestina brasileira até Dubai para tentar ser jogador de futebol. Viagem que foi um fracasso.
Pouco depois de se profissionalizar, no Rio Branco, aos 18 anos, o jovem passou pelo Desportivo Brasil e pelo São Bernardo, quando foi convidado por um empresário para, junto a outros garotos, fazer uma excursão a Dubai. Não era para ser uma excursão daquelas de colégio, de bagunça e passeio, mas acabou sendo praticamente isso. O intuito era mostrar os rapazes aos clubes locais e agregar interessados, mas, depois de cinco jogos, nenhum árabe quis Romarinho ou qualquer outro jogador brasileiro.
- Ficamos 15 dias, andamos pela cidade, fomos à praia, conhecemos o maior prédio do mundo. Mas não deu certo. Voltamos meio desanimados, é complicado fazer testes e ser reprovado. Não pensei em desistir, mas passou pela minha cabeça: será que isso é pra mim, mesmo?
Após o “passeio”, Romarinho passou dois meses em casa, sob os mimos da mãe, agricultora. O colo de dona Vera sempre foi essencial ao menino, que passou a frequentar a escolinha de futebol da cidade aos sete anos e pouco depois foi para Salvador, tentar a sorte no Vitória. De lá para o agora rival São Paulo. Em comum, as ligações para casa, aos prantos, por sentir saudade.
Mais perto de casa, ele ainda passou pelos clubes de São José do Rio Preto, maior município da região de Palestina: o América e o Rio Preto, onde passou a acreditar que poderia se tornar profissional
Quando se é bem novinho, leva tudo na brincadeira, mas chega uma certa hora em que começamos a pegar firme. Tem uma molecada que começou comigo, a maioria ficou para trás. Quando me perguntavam o que eu seria quando crescesse, sempre respondi jogador de futebol. Mas só aos 15 anos eu passei a acreditar que tinha o dom.
Foi também nessa época que surgiram os maiores empecilhos para Romarinho, um dia, se tornar herói corintiano. Nas categorias de base do Rio Preto, a alimentação não era das mais satisfatórias para o adolescente, que não se esquece mesmo do dia em que diz ter sido humilhado por um treinador.
- Ele me tirou, falou que eu não ia virar nada. A gente fazia um treino físico forte e não comer era f... . Meu almoço, às vezes, era bolacha, iogurte e suco. Foram várias dificuldades, velho, mas o cara ter falado isso só me motivou mais. A gente cresce nesses detalhes.
Romarinho estava treinando sozinho em casa quando o Bragantino surgiu em sua vida. A boa campanha no tradicional time do interior o levou ao Corinthians numa negociação difícil. No início de 2012, ele já sabia do interesse do auxiliar-técnico Mauro em sua contratação, mas evitava tocar no assunto para que os companheiros não pensassem que ele faria corpo mole para forçar a diretoria a aceitar a proposta do Timão.
Nas primeiras rodadas da Série B, houve, enfim, o acerto. Ninguém poderia imaginar que daquela assinatura de contrato sairia um dos gols mais importantes da história do Corinthians. Muito menos Romarinho, que passou a sofrer uma “lavagem cerebral” de Tite e dos companheiros para que a mudança repentina de vida não tirasse seus pés do chão e sua cabeça de órbita.
O início arrebatador, com gols no arquirrival e na final da Libertadores, deu a Romarinho fama, dinheiro, e até mesmo mulheres e primos. Sim, o novo astro ganhou primos! Gente que, antes, mal falava com ele.
- A gente tem que prestar bem atenção porque a vida muda de repente e você não está preparado. Comprei uma casa para minha mãe. Você não tem nada e agora tem tudo. Já teve primo em Palestina que nem falava comigo, agora diz “você sabe que é meu primo, né?”. Apareceram uns dez primos depois que vim para o Corinthians - conta o bem humorado e solteiro Romarinho.
Fonte: Globo Esporte