Não é só o Corinthians que precisa de ajuda: foto na Arena pode custar quase 30% do salário mínimo
Opinião de Andrew Sousa
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Nessa quinta-feira, o Meu Timão antecipou que o Corinthians deu um jeito de "driblar" a quarentena e levar a torcida aos jogos de portões fechados na Arena. A medida se assemelha bastante ao que fez o Borussia Monchengladbach, da Alemanha.
Assim que subimos a matéria, passei a me perguntar como seriam os preços da ação. Por um lado, afinal, entendo que o clube precisa de dinheiro neste momento difícil. Por outro, há o torcedor, que deve ser prioridade e que, em sua maioria, passa por fase ainda mais delicada por conta da pandemia e da crise geral que passa o país.
Veio a sexta-feira e os detalhes foram divulgados pelo clube. Como esperado, me decepcionei. O plano mais básico, que coloca a foto em um bandeirão, custa R$ 50. Se fosse um preço único, entenderia. Mas saber que isso é o mais barato, já dá uma ideia de como o clube errou.
Os interessados ainda têm duas opções: por R$ 199,90, colocam um totem de 60 centímetros com sua foto nas cadeiras da Arena; e por R$ 299,90, leva esse totem para casa, com autógrafo dos jogadores do elenco. Os valores são abusivos. E para isso, podemos usar os alemães como exemplo.
A ação do Borussia Monchengladbach foi um sucesso justamente pelo seu valor. Por 19 euros (equivalente a R$ 120), os torcedores colocam um totem nas cadeiras de seu estádio - não há opção mais barata ou mais cara.
Por mais alto que o valor possa parecer por conta da desvalorização da nossa moeda, vale fazer uma relação com o salário mínimo de cada país. Vamos lá:
- Os 19 euros equivalem a 1,2% do salário mínimo local (1.057 euros);
- Os R$ 50 do plano mais barato na Arena são 4,8% dos vencimentos mínimos no Brasil (R$ 1.045);
- O plano seguinte, de R$ 199,90, custa a um brasileiro 19,1% do salário mínimo atual;
- A opção mais VIP da Casa do Povo, que sai por R$ 299,90, equivale a altíssimos 28,7% do salário mínimo.
Como entendo que a opção autografada sempre tem um custo maior e é de fato destinada a elite, ressalto o valor da segunda opção. Para ter sua foto sozinho em uma cadeira, como fez o clube alemão, o brasileiro gasta um quinto do valor atual de nosso salário mínimo.
Neste momento, porém, há muita gente economizando o máximo que pode por ter seus ganhos cortados ou até mesmo já ter sido demitido. Como pensar em ajudar o clube do coração se ele não parece ligar para você?
Se há uma opção mais barata, que seja de fato barata. Por que não cobrar os R$ 50 para o totem e um valor popular para o bandeirão? Nem que os totens fossem R$ 100... Pode até ser que a carga de "ingressos" seja esgotada, mas é tão pequeno abraçar a teoria do "se tem quem pague, é melhor cobrar caro".
Faltou aos responsáveis lembrar da frase famosa que define bem o que é o Corinthians: "é uma torcida que tem um clube".
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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