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Corinthians e a prisão do goleiro Jean por violência doméstica
Lucas Faraldo

Editor e apresentador no canal do Meu Timão no YouTube

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Corinthians e a prisão do goleiro Jean por violência doméstica

Coluna do Lucas Faraldo Knopf

Opinião de Lucas Faraldo

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Corinthians e a prisão do goleiro Jean por violência doméstica

Mulher do goleiro Jean gravou vídeo trancada no banheiro e disse ter sido agredida pelo marido

Foto: Reprodução/Instagram

A denúncia de agressão da esposa de Jean, goleiro do São Paulo, me remete a um episódio envolvendo o Corinthians. E mostra que no fundo está tudo interligado.

Antes de qualquer coisa: intuito aqui não é clubista. Não é levantar a bola do Corinthians diante de um caso de violência contra mulher envolvendo jogador de clube rival.

O ponto aqui é aproveitar o espaço do Meu Timão para convidar os leitores (majoritariamente torcedores alvinegros) a refletirem sobre uma questão mais importante que o futebol. Mas que por muitas vezes passa pelo futebol. Porque o futebol não é um mundo paralelo, afinal.

O goleiro Jean, do São Paulo, foi preso nesta quarta-feira, no condado de Orange, na Florida, nos Estados Unidos, acusado de agredir sua esposa. Durante a madrugada, Milena Bemfica publicou vídeos com o rosto machucado, trancada em um banheiro de hotel, acusando o marido de tê-la agredida. Na sequência, numa troca de mensagens também compartilhada pela mulher, o jogador usa de violência psicológica dizendo que ela acabou com sua carreira.

Em mensagem à esposa, Jean pressiona Milena e esquece que as filhas também são dele (e não só da esposa)

Em mensagem à esposa, Jean ironiza denúncia de Milena, a pressiona e ainda "esquece" que as filhas também são dele (e não só da esposa)

Reprodução

Para mim, a associação foi direta: o Corinthians barrou a contratação do atacante Juninho, do Sport, após inúmeros protestos virtuais da torcida em 2018. Quando era noticiada a negociação do Timão com o jogador, a Fiel protestava diante de um processo pelo qual o atleta respondia acusado de agredir a ex-namorada. Mês passado, aguardando em liberdade o resultado do processo sobre violência doméstica que já se arrasta por dois anos, ele voltou a se envolver em problemas com a polícia: investigado por briga e uso de arma numa boate.

Falamos que o futebol é reflexo da sociedade quando pobre tem acesso restrito a uma arena, quando negro é chamado de macaco no estádio, quando gay é ameaçado em campo ou nas arquibancadas, quando jogadoras ganham menos do que jogadores... E é assim também quando um homem bate na esposa. Seja ele jogador ou não. Esteja ele num quartinho no barraco, num quartão na mansão ou num hotel durante férias de família nos Estados Unidos.

O debate sobre a violência contra a mulher é importantíssimo no esporte. Se na esfera social cobramos atitude de autoridades políticas, policiais e judiciárias, na esportiva a cobrança recai sobre os clubes. São eles, no popular e influente futebol, os responsáveis a dar exemplos às crianças. Aos marmanjos. Aos torcedores no geral. São os clubes quem têm o poder de escolha de não passar pano para agressor. São os clubes que vêm embarcando em campanhas contra machismo nas redes sociais e nos estádios. Que assim seja cada vez mais!

Claro que também cabe aos próprios atletas entenderem seu papel como influenciadores principalmente de jovens da nossa sociedade. Mas como cobrar esse entendimento de um jogador que, antes de se enxergar como potencial ídolo de alguém, bate na esposa?

  • Entre janeiro e outubro de 2019 foram registradas 3.664 denúncias de feminicídio e tentativa de feminicídio no Brasil, segundo a Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, serviço do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Conforme relatado em reportagem do G1, houve aumento de 272% em relação aos casos do ano passado.

Foi muito importante o Corinthians tomar as rédeas da situação ano passado, não contratar Juninho e assim mostrar respeito à torcida e principalmente à ex-namorada agredida. Já basta a Justiça deixá-lo solto – diferente do que aconteceu com Jean nos Estados Unidos. Imaginem se ainda por cima um dos maiores clubes do país recompensa o cidadão com um contrato profissional (e altos salários)?! Seria o cúmulo da inversão de valores.

Nesse sentido, também foi muito importante o São Paulo rapidamente se posicionar sobre o episódio de seu goleiro. Que, como prometido, tome as tais medidas cabíveis. Que dê exemplo aos milhões de torcedores que seguem o clube e seus mandamentos como religião. Mostre que lugar de agressor de mulheres é atrás das grades e não à frente do gol. Isso sim seria um golaço – comemorado por torcedores tricolores, alvinegros, alviverdes...

Veja mais em: Majestoso e Torcida do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Lucas Faraldo Knopf

Por Lucas Faraldo Knopf

Jornalista pela ECA-USP e ex-Esporte Interativo, Jovem Pan e Lance!. Hoje trabalha no Meu Timão. Autor do livro 'Impedimento - Machismo, racismo, homofobia e elitização como opressões no futebol'.

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