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Entrevista com o jogador mais velho do Timão ainda vivo: Furacão Jackson
Maurício Sabará

Nascido em São Paulo no dia 12 de janeiro de 1976, jornalista formado e profundo conhecedor da história do Corinthians. Autor do livro sobre ilustre corinthiano: 'O Generalíssimo Amilcar Barbuy'.

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Entrevista com o jogador mais velho do Timão ainda vivo: Furacão Jackson

Coluna do Maurício Sabará Markiewicz

Opinião de Maurício Sabará

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Entrevista com o jogador mais velho do Timão ainda vivo: Furacão Jackson

Jackson Nascimento é o jogador do Corinthians mais velho ainda vivo

Foto: Arquivo Pessoal

Jackson Nascimento é o jogador do Corinthians mais velho ainda vivo. Atualmente está com 91 anos. Nasceu em Paranaguá (Paraná) no dia 24 de agosto de 1924, coincidentemente no mesmo ano do Atlético Paranaense, que foi fundado em 26 de março. Foi no clube rubro-negro que teve a melhor fase da sua carreira, na década de 40, fazendo parte do time campeão estadual de 1949, que ficou conhecido pelo apelido de Furacão, que é citado na letra do hino.

Sua passagem pelo Corinthians foi rápida como um furacão, mas muito proveitosa. Atuou de 1950 a 1952, anotando 37 gols em 62 partidas. Foi campeão paulista de 1951.

No dia 07 de agosto de 1940 o médio Damasceno atuou em sua única partida pelo Corinthians, goleando o Vasco por 4 a 1 em um amistoso que aconteceu no Estádio da Rua Campos Salles, pertencente ao America do Rio. Nasceu em 20/07/1917, vindo a falecer no dia 27/05/2010, com 92 anos. Sua melhor passagem foi no Nacional da Comendador de Souza, na época, o SPR. Sempre foi corinthiano, passando para a neta a mesma paixão. Ela é jornalista e trabalhou no R7 da Record.

Jackson é o penúltimo da esquerda para a direita agachado;

E cito também o antigo goleiro Zico. Existem rumores que ainda esteja vivo, mas nada comprovado devido às poucas informações da sua vida e carreira. Da mesma forma que Damasceno, jogou pouco pelo Corinthians, apenas duas partidas. Mas o segundo não foi um jogo qualquer. Esteve no gol em uma derrota por 2 a 1 para o rival Palestra Itália, no Parque Antárctica, em 21 de abril de 1940. No domingo seguinte, em 28 de abril, foi o arqueiro da primeira partida corinthiana no Estádio do Pacaembu, na goleada de 4 a 1 em cima do Atlético Mineiro. Melhor dizendo, jogou uma partida e meia, pois foi substituído por Barcheta.

Confiram a minha entrevista com o Sr. Jackson que foi enviada para o e-mail de sua filha, a Vera, que gentilmente transmitiu ao pai todas as perguntas, respondidas com muita lucidez.

No ano de 1950 é contratado pelo Sport Club Corinthians Paulista. Como foi essa contratação?
Foi o maior sucesso na minha carreira como jogador de futebol. Jogar no time com a maior torcida do Brasil e ser campeão, foi uma excepcional conquista na vida de um profissional da bola. Além deste magnífico troféu, conquistei mais um clube para meu coração de amor. Adoro o CORINGÃO.

Em 1951 o Corinthians, depois de um jejum de dez anos, volta a ser campeão paulista. A linha de ataque corinthiana era formada inicialmente por Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário, o primeiro time paulista a marcar mais de 100 gols no futebol profissional. Como jogavam esses cinco jogadores?
Foi um deslumbramento ter participado de um ataque (linha) de futebol que conseguiu marcar 103 gols em um campeonato. Creio que será difícil, senão impossível a superação deste prodigioso feito. Quem poderia compensar hoje, esta linha formada por Claúdio, Luizinho, Baltazar, Jackson, Carbone e Mário? Os dois primeiros eram deslumbrantes armadores, um batendo faltas, penalidades e escanteios com uma precisão incomparável e o segundo que driblava com uma habilidade de encher os olhos. Baltazar era inigualável pra cabecear, com uma impulsão extraordinária. Carbone tinha um faro de gol impressionante. E o Mário era um driblador que não vi igual, que dizia pra nós quando questionávamos de não marcar gols, de ser algo fácil de fazer, mas o difícil mesmo era dominar a bola quanto tempo queria como conseguia. Sem se esquecer da classe do volante Roberto Belangero, muito técnico e exímio lançador. Além da defesa, com os valentes Idário e Julião, a classe de Murilo e os maravilhosos Gilmar e Cabeção no gol.

Cláudio, Jackson e Roberto Belangero

No decorrer do segundo turno da competição, após a derrota por 7 a 3 para a forte Portuguesa de Desportos, você entra na meia-esquerda no lugar de Carbone, que é transferido para a ponta-esquerda. Relembre sua atuação e da equipe nas rodadas finais do campeonato, sendo que você marcou gol em quase todos os jogos restantes, inclusive na decisão em que golearam o Guarani por 4 a 0 e no último, vencendo o Palmeiras por 3 a 1.
Eu, Mário, Colombo, Nardo, Souzinha e Nelsinho, não nos considerávamos reservas. Nós fazíamos parte inseparável do grupo. E sem nós certamente nada seria conquistado. O Corinthians é indivisível. Desde os insuperáveis, Narciso, Cabeção e Gilmar, até o Souzinha, nós construímos uma equipe indissolúvel, amigos, irmãos, razão do nosso sucesso.

Durante a temporada de 1952 o Corinthians excursiona pela primeira vez ao continente europeu. Ficou invicto durante 15 partidas, enfrentando equipes da Turquia, Dinamarca, Suécia e Finlândia (inaugurando o estádio olímpico de Helsinki). O time deixou uma excelente impressão no Velho Mundo. A equipe deu show na Europa?
Não exageraria, dizendo que demos um show em nossas exibições na Turquia e Escandinávia. Mostramos, sim, o futebol brasileiro, Pentacampeão Mundial. O Corinthians sempre foi um time, que embora tivesse suas "estrelas", sempre porfiou com o amor a camisa alvinegra. Foi assim que nos exibimos. Como uma só bandeira. A força do conjunto.

Defina como era o seu estilo de jogo.
Não é fácil falar de si próprio. Especialmente quando temos que abordar virtudes que achamos ter. Ao qualificar um jogador de futebol (artista) não podemos separar o jogador, do homem. Eu considero a lealdade, o respeito, e o amor, qualidades indispensáveis ao sucesso em qualquer sociedade, seja ela esportiva ou social. Eu me considero, sem falsa modéstia, ter sido um bom jogador. As minhas armas eram a velocidade, drible e chute certeiro com os dois pés. Gostava de fazer gols, sem ser egoísta. Não tinha medo de nenhum tipo de jogador. Ninguém me intimidava com agressões físicas ou pressões com palavras. Não revidava. Dava conhecimento ao arbitro. Nunca humilhei nenhum adversário quando estava com vantagens no placar, para também não ser envergonhado.



Na sua passagem pelo futebol paulista tinha algum marcador que te deu mais trabalho e qual time que era mais difícil de enfrentar?
Nunca tive um marcador que me marcasse com plena eficiência. Sempre fui respeitado pela minha lealdade. Nunca agredi um adversário. Tenho o prêmio Belfort Duarte. Nosso adversário mais forte sempre foi o Palmeiras.

Após a excursão ao Velho Mundo, você disputa as duas partidas finais da Taça Brasil, com o Fluminense sendo campeão. E para surpresa de todos, decide retornar à Curitiba, por ter passado em um concurso na área de advocacia, algo impensável no milionário futebol atual. Houve muito esforço da diretoria corinthiana para que continuasse no clube?
Houve insistência do Corinthians para que eu permanecesse por mais um ano. Meu coração ficou partido entre o Clube, meus companheiros, e o meu futuro profissional, como advogado. Neste ano eu concluí o meu Curso de Direito e prestei concurso público para Procurador Federal, da Advocacia Geral da União. A minha posse seria em Curitiba, como minha sede de trabalho. Não havia escolha.

Se o Atlético de 1949 enfrentasse o Corinthians de 1951, quem venceria? Ambos os times, por sinal, eram quase contemporâneos.
Posso te garantir que seria um jogo para 100 mil assistentes. Com certeza só haveria um vencedor, o Público. Quem me dera poder realizar este sonho. Matar as saudades, me abraçar com amigos. Seria um deslumbramento. O sol iria nos aquecer no Parque São Jorge e na Baixada. Vou pensar em todos como se estivéssemos unidos na alegria de uma vitória.

Atualmente acompanha os dois clubes? O que tem a dizer da fase atual de ambos? Quando jogam torce pra quem?
Não perco jogos do S.C.Corinthians Paulista e Clube Atlético Paranaense. O Corinthians está bem dirigido. Tem força. Vai ter sucesso. Quando jogam os dois, para quem torço? É pergunta que se faça? Não sei. São os meus times do coração.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Maurício Sabará Markiewicz

Por Maurício Sabará Markiewicz

Nascido em São Paulo no dia 12 de janeiro de 1976, jornalista formado e profundo conhecedor da história do Corinthians. Autor do livro sobre ilustre corinthiano: 'O Generalíssimo Amilcar Barbuy'.

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    Foto do perfil de Bruno

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    Bruno 1541 comentários

    @bruno.lelis1 em

    A janela vai se fechando, eles vão partindo dessa pra uma melhor e sabe lá deus quantas histórias levarão para o túmulo. Tem que pegar esse pessoal velho de guerra e botar pra falar, escrever, filmar, deve dar um material fantástico!

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    Indio 4702 comentários

    @indio.campaner em

    Que bela matéria, não conhecia a história do Jackson, mas o Sr. Dividir essas histórias com belas palavras é uma honra para todos nós.
    Que viva pra sempre Jackson!

    VAI CORINTHIANS

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    Belmiro 38 comentários

    42º. @belmiro.chaparral em

    Me sinto entristecido por receber a notícia do seu desligamento do site #meutimão.
    Realmente conheço seu trabalho e a dedicação pela história do grande Corinthians Paulista.
    Poucas pessoas conhecem tanto a rica história do Timão como Mauricio Sabará.
    Pra ser sincero tenho conhecimento apenas de Celso Unzelte com o mesmo nível de conhecimento.
    Creio que o site esteja perdendo uma peça importante, porém, cada um tem o direito de escolher o melhor caminho.Desejo sorte ao amigo Maurício, com a certeza que continuará tratando a história do futebol mundial e principalmente do Sport Club Corinthians Paulista com o empenho de sempre.

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    Maurício 39 comentários

    41º. @mauricio.sabara em

    Pessoal, finalizo com a entrevista do Jackson Nascimento minha última matéria no site Meu Timão. Agradeço os comentários dos que gostaram do meu trabalho. Aos que não gostaram ou tripudiaram (o que é um direito, pois afinal de contas vivemos em uma democracia), aconselho a estudarem sobre a história do Corinthians, a mais rica de um clube, não apenas por suas origens humildes e participação política, mas também por seu passado futebolístico, não sendo grande depois de 1977, do título brasileiro de 1990 ou mesmo após o título da Libertadores. Podem observar em minhas outras matérias, algumas grandes e outras com tamanho normal, que sempre foi o maior. Também presto um especial agradecimento ao Alberto Lotito, até mesmo me chamando de melhor colunista do site, algo que não sei se fui, mas confiando sempre no meu conhecimento sobre o Corinthians e sua história. E da mesma forma que o meu agradecimento fica para o amigo Belmiro Chaparral, que já conhece o meu trabalho desde os tempos da FTT.

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    Corinthiano 1560 comentários

    40º. @rodrigaviao em

    Legal, ela poderia ter feito um vídeo

  • Foto do perfil de Alberto

    Alberto 12 comentários

    39º. @corinthiano.fan em

    Que história bonita. Só você mesmo para nos trazer um texto tão rico. Com certeza fez meu dia ser melhor. Obrigado amigo.

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    Eronildo 19561 comentários

    38º. @eronildo em

    A história do Corinthians não pode ser esquecida. Bom é fazer um documentário com eles..