Venha fazer parte da KTO
x
Três mentiras sobre as finanças da Arena Corinthians que você não pode acreditar
Rodrigo Vessoni

Formado pela FIAM, trabalhou na Rádio Transamérica e, por 12 anos, no LANCE!. Neste momento, também é repórter da Rádio 9 de Julho, SP (AM 1600). Participa ainda, quando chamado, de programas na TV.

ver detalhes

Três mentiras sobre as finanças da Arena Corinthians que você não pode acreditar

Coluna do Rodrigo Vessoni

Opinião de Rodrigo Vessoni

60 mil visualizações 204 comentários Comunicar erro

Três mentiras sobre as finanças da Arena Corinthians que você não pode acreditar

Arena Corinthians tem média anual de R$ 60 milhões de arrecadação só com bilheteria

Foto: Rodrigo Vessoni/ Meu Timão

Em meio à quarentena vários assuntos voltaram à tona. Entre eles, o impacto da Arena Corinthians na vida do clube. Nos últimos tempos vi, ouvi e li três afirmações que me causaram uma certa indignação. Preciso dividir com os leitores do Meu Timão, a título até de informação e esclarecimento aos torcedores.

A primeira: "o Corinthians não tem grana por causa da Arena"

Vamos lá:

As últimas receitas do Corinthians antes da Arena foram: R$ 290 milhões (2011), R$ 358,5 milhões (2012) e R$ 316 milhões (2013);

Já com a Arena em andamento, as últimas receitas do Corinthians foram: R$ 485,5 milhões (2016), R$ 455 milhões (2017) e R$ 469,9 milhões (2018);

Esses valores acima, obviamente, não incluem todas as receitas ligadas ao próprio estádio, que vão direto para o fundo. Esses valores são apenas das receitas ligadas ao futebol e ao clube em si (TV, patrocínios, royalties, premiações, Fiel Torcedor, etc).

Ou seja, o Corinthians nunca arrecadou tanto como agora durante essa curta era da Arena Corinthians.

Obs: não estou analisando se o clube usou essa grana de maneira certa ou errada, estou apenas falando da receita nua e crua.

A segunda: "Se tivesse no Pacaembu, o Corinthians estaria melhor de grana"

Essa é uma bobagem sem tamanho, daquelas que me causam calafrios.

Vamos lá:

O Corinthians tinha direito a uma única receita nos jogos do Pacaembu: bilheteria. Nada mais.

Estacionamento? Não. Bares e restaurantes? Não. Camarotes? Não. Cadeiras cativas? Não. Lojas? Não. E ainda pagava uma taxa de aluguel...

Pois bem.

O ano de maior bilheteria do Corinthians no Pacaembu foi em 2012. Naquele ano mágico do clube, a bilheteria bruta foi de R$ 35.834.471,24. A renda líquida da bilheteria naquele ano de 2012 foi de R$ 22.261.287,96.

Ou seja, no melhor ano, na maior arrecadação, no seu melhor momento em campo, o Corinthians usufruiu de apenas 22 milhões de reais do Pacaembu.

Isso não pagaria nem dois meses da folha salarial do atual elenco (segundo Andrés, a folha custa R$ 12,3 milhões/mês).

Agora, você que acha que "voltar ao Pacaembu seria melhor", responda a essas perguntas:

"O que mudaria na vida do Corinthians receber 22 milhões de reais a mais? O que são 22 milhões de reais para quem arrecada 450 milhões? Valeria a pena voltar a um estádio defasado para pagar dois meses de salário? Ter duas folhas salariais pagas ou ter um estádio próprio, que pode ser uma máquina de fazer dinheiro se bem administrada?

Uma pessoa precisa ser muito mal informada (pra falar pouco) para desejar trocar um estádio moderno, com quase dez mil lugares a mais de capacidade, com inúmeras possibilidades de receita, por um estádio antigo, de uma única receita e ainda pagando aluguel...

A terceira: 'a Arena Corinthians é impagável'

Uma outra bobagem sem tamanho. Vejam abaixo essa 'conta de padaria'. Uso esse termo porque não tenho maiores detalhes, o clube nunca esmiuçou financeiramente o estádio como deveria. Por isso, vou falar de maneira de maneira macro, com valores macros.

Os números que trarei abaixo mostram que, se a diretoria conseguir sucesso nas conversas com a Caixa Econômica e a Odebrecht, se os novos acordos tiverem números compatíveis às receitas do estádio, é possível pagar a Arena mensalmente e usufruir da mesma (nos termos de hoje, com os valores de hoje, a conta não fecha). Por isso ressalto a importância e a necessidade de fazer bons acordos.

Vamos lá:

Arena tem pouco menos de seis anos. Foram 200 jogos até aquele último duelo com o Ituano. Bilheteria bruta até agora: R$ 357.706.350.97.

Ou seja, a torcida deixou nas bilheterias só com a compra de ingresso quase R$ 360 milhões em apenas seis anos. Então, em média, a Arena numa única temporada faz R$ 60 milhões brutos de bilheteria (R$ 40 milhões líquidos, já descontando tudo aquilo que sai no borderô dos jogos).

Soma-se a esse valor, outros R$ 20 milhões anuais de outras receitas (98 camarotes, quase três mil cativas, publicidade visual no LED e no telão, bares, restaurantes, lojas internas e externas, três estacionamentos, eventos corporativos, academia, shows na parte externa, etc). Informação desse valor é do próprio clube.

Ou seja, a arrecadação anual líquida da Arena é de 60 milhões de reais (R$ 5 milhões por mês).

Pois bem.

Se os acordos pretendidos pela diretoria forem concretizados, o que teria de ser pago é o seguinte:

  • R$ 2,3 milhões de manutenção (funcionários fixos e terceirizados, seguros, segurança, consertos, limpeza, água, luz, etc);
  • R$ 3,5 milhões da parcela da Caixa (valor pretendido pelo clube é até menor do que isso, mas preferi colocar um meio termo, um valor mais factível):

Ou seja, se conseguir esse acordo com a Caixa e zerar mesmo a dívida com a Odebrecht como Andrés anuncia que fará ainda este ano (com base na totalidade dos CIDs e obras não realizadas), o clube teria R$ 5 milhões/mês de receita líquida para pagar R$ 5,8 milhões.

Sim, faltaria um pouco mensalmente. Mas longe (muito longe!) de ser algo impagável, já que estaríamos falando de uma necessidade de ajuda do clube de cerca de R$ 10 milhões por ano. Ou seja, apenas 2,2% da receita anual do clube (média de R$ 450 milhões).

Percebam que sequer contei com a chance de naming rights, já que virou um assunto desgastante a todos. Obviamente receber mais R$ 10 mi, R$ 15 mi, R$ 20 mi anuais deixaria a situação ainda mais fácil de ser equacionada, mas preferi nem levar isso em conta.

Obs: se sobrar algum residual da Odebrecht (internamente se fala na possibilidade de R$ 160 milhões), o parcelamento teria de ser a longuíssimo prazo, para não atrapalhar o pagamento dos dois valores maiores mencionados acima.

Em resumo:

É pagável, sim. Para um clube do tamanho do Corinthians, com a torcida que tem, sediado na maior e mais rica cidade do país, obviamente é pagável. Poucos clubes do país conseguiriam pagar... o Corinthians é um deles.

Em tempo: eu ouvi durante anos e anos da minha vida que 'a dívida do Flamengo é impagável'. Uma gestão competente estabilizou o clube e, praticamente, equalizou mais de R$ 800 milhões de dívida em cerca de cinco anos.

É muito mais fácil um Flamengo ou um Corinthians quitar quase R$ 1 bilhão de dívida do que um Guarani, uma Ponte Preta, um CRB quitarem R$ 100 milhões... a mobilização de torcedores e o poder de criação de receitas são incomparáveis.

Por isso repito: é pagável, sim. Para um clube do tamanho do Corinthians é pagável. Basta fazer um trabalho sério e competente fora de campo. A torcida fará a parte dela.

Importante!

Percebam que não entrei na parte esportiva do estádio. O ganho dentro das quatro linhas com a Arena é impressionante. São apenas 23 derrotas em 200 jogos (apenas um revés a cada 10 jogos, praticamente); Para cada gol tomado, o Corinthians faz três (134 x 318); E, claro, sem falar nos cinco títulos conquistados durante os primeiros cinco anos do estádio (dois Brasileiros e três Paulistas).

Não vou entrar nesse mérito... seria chover no molhado.

Veja mais em: Arena Corinthians, Diretoria do Corinthians, Ações de marketing e Andrés Sanchez.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Avalie esta coluna
Coluna do Rodrigo Vessoni

Por Rodrigo Vessoni

Formado pela FIAM, trabalhou na Rádio Transamérica e, por 12 anos, no LANCE!. Neste momento, também é repórter da Rádio 9 de Julho, SP (AM 1600). Participa ainda, quando chamado, de programas na TV.

O que você achou do post do Rodrigo Vessoni?