Andrés Sanchez: a radiografia de um retumbante fracasso
Opinião de Walter Falceta
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1) Precisamos ser justos. A gestão de Andrés Sanchez à frente do Corinthians vai se concluindo de maneira melancólica, mas convém destacar seus feitos recentes. Conquistou um Paulista na casa do maior adversário, em abril de 2018. Reconhecemos esta proeza.
2) Também ultrapassou o mesmo rival no retrospecto histórico, em Julho deste ano, com a vitória por placar mínimo na então Arena Corinthians. Foram 53 anos de luta para se recuperar a hegemonia no confronto.
3) Ora, mas em 2020, perdeu o título paulista no mesmo palco, em disputa contra o mesmo adversário. E a vantagem na competição à parte contra os verdes foi entregue, 50 dias depois, na dolorosa derrota dentro de casa por 0 a 2. Agora, há novamente igualdade no número de vitórias.
4) O Corinthians enfrentou os palestrinos por quatro vezes nesse período. Venceu uma, empatou duas e perdeu uma. No entanto, convém lembrar que jogou três vezes em casa, e apenas uma nos domínios alviverdes. E um desses empates convergiu para uma disputa de penalidades na qual fomos derrotados.
5) Dois títulos do Paulistão, convenhamos, é efetivamente muito pouco para um clube como o Corinthians, que vinha de um longo período de expressivas conquistas.
6) Neste período, o aproveitamento da equipe masculina de futebol profissional é sofrível. Em 177 jogos, apenas 258 pontos conquistados. Média de 48,58%. Ou seja, não conquistou nem mesmo metade dos pontos disputados.
7) Em sua gestão, o antecessor, Roberto de Andrade, obteve aproveitamento de 63,06%, com 403 pontos em 213 jogos. Na administração anterior, de Mario Gobbi, o Corinthians obteve 369 pontos em 211 jogos. Aproveitamento de 58,29%.
8) Há quem diga que a frieza dos números não expressa a realidade. Pois bem, Mário Gobbi foi campeão da Copa Libertadores de América (2012), do Mundial de Clubes FIFA (2012), da Recopa Sul-Americana (2013), além de levantar o caneco do Paulistão daquele ano. Engana-se você, caro leitor, se acredita que Gobbi rezou de acordo com o catecismo de Andrés.
9) Roberto de Andrade liderou o clube na conquista do Brasileirão de 2015 e do Brasileirão de 2017. Também ergueu a taça do Paulista de 2017.
10) Andrés Sanchez, como já lembramos, botou nas prateleiras do Parque São Jorge dois troféus máximos do campeonato estadual. Vale lembrar, no entanto, mais uma vez, que perdeu o título de 2020. O time chegou a beirar a zona de rebaixamento durante boa parte da competição. Em sua gestão capenga, o torcedor experimentou o gosto acre de uma eliminação nas oitavas de final da Libertadores (2018) e outra na chamada pré-Libertadores (2020).
11) Mais: no Brasileiro de 2018, o Corinthians brigou para não cair, terminando a corrida dos cavalinhos apenas dois pontos acima do primeiro degolado. No ano seguinte, obteve um modesto oitavo lugar, com desempenho pífio no segundo turno. Nesta gestão de Andrés, perdeu-se em casa a Copa do Brasil de 2018. No ano passado, eliminação nas oitavas de final. Na Sul-Americana, eliminação na semifinal.
12) A atual gestão, que se destacou pelo atraso nos salários dos atletas, gastou muito e gastou mal, gerando satisfação apenas para os tubarões intermediários. Vou recorrer à memória. Se faltar alguém, por favor, me corrijam. Para o futebol profissional, foram contratados nada menos que 36 jogadores: Marlon, Gil, Manoel, Bruno Méndez, Danilo Avelar, Sidcley, Michel Macedo, Matheus Alexandre, Ralf, Douglas, Richard, Ramiro, Junior Urso, Matheus Jesus, Ederson, Cantillo, Araos, Bruno Xavier, Sergio Díaz, Régis, Sornoza, Luan, Otero, Roger, Matheus Matias, Thiaguinho, Jonathas, André Luís, Mosquito, Boselli, Everaldo, Vagner Love, Matheus Davó, Léo Natel, Jô e Yony González. Mesmo com esse batalhão de boleiros bem remunerados, a Fiel não viu bom futebol neste período. A rigor, na verdade, não temos esse prazer desde a parada do Brasileirão 2017, quando o time promoveu um churrasco para comemorar a ótima campanha na competição.
13) Não para por aí, entretanto, a gastança descontrolada. O Sub-23, se bem me lembro, adquiriu 33 jogadores nesta gestão de Andrés Sanchez. Vieram para o PSJ: Eugênio Marques Ferreira, Christofer Alves, Luan Serafim, Renan Brainer, Raul Cardoso, Willian Félix, Kauê Souza, Lucas Gabriel, Hígor Lapa, Ígor Morais, Eduardo de Brito, Gabriel Ferreira, Allan Ferreira, Altair José Soares Júnior, Eduardo Gonçalvez Blanco, Emerson de Sousa Silva, Rodrigo Fernandes Nóbrega, Marcio Ferrari, João Gabriel Navarro Ramalho, Francisco Papaiordanou, Ezequiel Facundo Capellino, Lucas Daniel, Dimitri Lima Souza, Douglas Santos, Reifit Alves de Faria, Jorge Colman, Hugo Borges, Gildomar da Silva Ferreira, Gabriel Silva Costa, Arlindo Neto, Yuri Souza, Felipe Cuero e Gabriel Lima. Ufa!!!
14) Em Junho, com 32 contratações para o profissional (17 deles já afastados do plantel na época), o diretor-adjunto de futebol, Jorge Kalil, declarava no Canal do Praetzel, no Youtube, que a atual diretoria cometera exageros nas contratações. "Na minha avaliação, o Andrés, o Duílio (Monteiro Alves), eu, contratamos demais. Nós exageramos na quantidade de jogadores que vieram para o nosso elenco. (...) Penso que o ideal é ter uma coluna vertebral para o time e reforçar com quatro, cinco, no máximo, sei", explicou, admitindo o erro.
15) Até dias atrás, este mesmo clube gastador tinha três meses de salários atrasados. E muitos dos boleiros não pareciam satisfeitos com a situação, mesmo se considerada a situação atípica vivida por empresas e clubes durante a pandemia de Covid-19.
16) A insatisfação dos atletas magnatas, aliás, é uma constante nesta fracassada gestão de Andrés Sanchez e de seu ex-diretor de futebol, Duílio Monteiro Alves, agora candidato à presidência do clube. Em um modelo de governança antiquado e ruinoso, que misturou o neocoronelismo do presidente e o laissez-faire do esquivo Duílio, ouvimos mais de uma vez que o técnico havia "perdido o vestiário". Antes da demissão de Tiago Nunes, a insurreição dos boleiros já tinha contribuído para queimar o filme de Fabio Carille, demitido ainda durante o Brasileirão 2019.
17) Constitui-se, sim, em boa notícia a venda dos "naming rights" da Arena Corinthians para a Neo Química. A negociação reduz o desespero de um clube tremendamente endividado e constantemente ameaçado de assistir ao sequestro legal de seus ativos. Vale, no entanto, considerar que o valor é menor do que aquele anunciado pelo próprio Andrés Sanchez quase uma década atrás. O prazo esticado de pagamento, 20 longos anos, torna as parcelas magricelas, o que nos exigirá ainda muito esforço para honrar os compromissos financeiros assumidos com a construção do estádio em Itaquera. Nesta e noutras negociações falta clareza e transparência de Andrés Sanchez, inclusive em sua interlocução com o Conselho Deliberativo do clube. A ideia de "compliance" não seduz os cartolas do PSJ.
18) Andrés Sanchez já contribuiu, sem dúvida, para a glória corinthiana. Não sejamos injustos. Vai aqui, portanto, uma alta e clara mensagem de gratidão: "obrigado, meu caro". Mas é certo que o mandatário alvinegro "perdeu a mão", especialmente pela incapacidade de ouvir a palavra divergente, seja de adversários, seja de aliados. Tornou-se uma pessoa amarga, convencida de que é vítima de complôs internos e internos e que, infelizmente, desconsidera os preceitos da civilidade na relação com associados e torcedores.
19) Hora de mudar. Um presidente pode ser grande. Mas o Corinthians é maior. Muito maior!
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.