Lágrima por um trabalhador corinthianista
Opinião de Walter Falceta
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Recebemos a notícia do falecimento, aos 92 anos de idade, do senhor Kunihiro Watanabe, corinthiano, trabalhador da Zona Leste, mestre vidraceiro, nascido em 1924, em Yamagata, no Japão.
A peça exibida na foto de 2014 é uma bandeja de vidro de sua autoria, obra-prima popular, delicada, mas também brilhante, viva e efusiva, produzida em 1974, ano em que o Corinthians ensaiava sair da fila de 20 anos sem conquistar o título paulista de futebol.
Para dar forma ao símbolo do Timão, burilado pelo pintor Francisco Rebolo, o mestre nipônico recorreu ao rebolo, ferramenta cujo disco de material abrasivo permite o desbaste calculado de superfícies.
Na época em que Rivellino enchia de esperança os corações alvinegros, Watanabe não se importou em investir uma semana no trabalho. Depois da gravação, vieram a pintura, o polimento e o espelhamento.
Kyuzo Watanabe, o pai de Kunihiro, já era vidraceiro, inclinado a misturar ofícios operários com aventuras artísticas.
A oficina da família está há décadas na Vila Carrão, na Zona Leste de São Paulo, bairro com a maior proporção de corinthianos em São Paulo, ao lado de Limão e Casa Verde. Aos 91 anos, Kunihiro ainda comparecia religiosamente ao trabalho, mesmo depois de sofrer dois derrames.
A labuta dura e cortante é tocada por Roberto, o filho de 57 anos que adora o Corinthians.
- Minha maior glória foi ter ido ao Rio de Janeiro naquela maravilhosa invasão do Maracanã, em 1976 - recorda, emocionado.
A família vive hoje no Jardim Nordeste, no distrito de Arthur Alvim, pertinho do novo estádio do Corinthians.
- É ali do lado, mas ainda não fui - lamenta Roberto, que é leitor do Meu Timão. - O preço do ingresso está proibitivo.
Em 11 de novembro de 2014, a famosa bandeja corinthiana finalmente deixou a oficina da Vila Carrão.
- Cuidado para não quebrar - alertou, sorrindo, o simpático nonagenário.
- Trate bem dela e mostre a obra do meu velho - recomendou Roberto, feliz por saber que a arte trabalhadora do pai alcançaria o estrelato da Internet.
O velho e querido Kunihiro morreu sem nunca ter visitado o novo estádio do seu Corinthians, símbolo maior da elitização do nosso futebol.
Kunihiro Watanabe, presente!
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.