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Casagrande relembra Democracia e revela baques na amizade com 'ídolo' Sócrates

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Ídolo da Fiel, Casagrande lançou novo livro no Memorial do Corinthians no último fim de semana

Ídolo da Fiel, Casagrande lançou novo livro no Memorial do Corinthians no último fim de semana

Tamara Guimarães/Meu Timão

Uma relação entre pai e filho. É assim que Walter Casagrande Júnior, o Casão, define o início de sua amizade com Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Sócrates. Jogadores do Timão no início da década de 80, o centroavante e o meio-campista ganharam o coração da Fiel pela parceria dentro das quatro linhas. Fora delas, tiveram papel fundamental na construção da Democracia Corinthiana, período em que os atletas davam as cartas no clube.

No entanto, para que o movimento democrático não caísse por terra, os resultados em campo tinham de aparecer. “O governo da ditadura militar era contra a gente, tentavam nos boicotar de todas as maneiras. Existiam, na época, jornalistas que eram favoráveis à ditadura que também prejudicavam a gente, éramos perseguidos nas ruas (...). Como a gente podia combater isso? Jogando futebol com o time ganhando”, conta Casagrande em entrevista exclusiva ao Meu Timão.

Durante evento de lançamento do seu novo livro “Sócrates & Casagrande – Uma História de Amor”, na manhã do último sábado, no Parque São Jorge, o ex-camisa 9 recordou o início da carreira no Corinthians, o primeiro contato com o “ídolo” Sócrates e o rompimento da dupla que ergueu dois Campeonatos Paulistas (1982 e 1983) pela equipe alvinegra. Sincero, Casão abriu o jogo sobre sua dependência química e revelou ter se chocado duas vezes com atitudes de Magrão, que faleceu no dia 4 de dezembro de 2011 em decorrência do alcoolismo. Acompanhe:

Gilvan Ribeiro (à esq.), escritor, e Casagrande - Foto: Vinícius Souza/Meu Timão

Em 2013, você e o Gilvan Ribeiro lançaram o livro “Casagrande e Seus Demônios”. De onde surgiu a inspiração pra continuar essa parceria?

Walter Casagrande – O primeiro foi um livro diferente, foi um livro da minha história mesmo, baseado nas minhas dificuldades com as drogas, com outro foco. E ele até se definiu um livro mais de ajuda. Ele foi bem sucedido, e eu tinha outras ideias. Quando tive a ideia de fazer Sócrates e Casagrande, eu procurei o Gilvan rapidamente, ele topou fazer e o livro foi realizado. Não tem o que mudar, time que tá bom não se muda. Então, se eu for lançar um livro daqui pra frente, o Gilvan é meu parceiro ideal.

Por que deu tão certo a parceria Sócrates-Casagrande?

Várias coisas né, tem vários fatores. O que iniciou isso foi a minha idolatria pelo Sócrates como jogador. Quando eu era juvenil, eu era fã do Sócrates, ficava assistindo aos treinos, vendo o Sócrates treinar, tinha o sonho de jogar no Corinthians com o Sócrates, mas era um sonho de garoto, eu não pensava que ia se realizar. Quando se realizou, na primeira vez em que nós jogamos, nos entrosamos maravilhosamente bem no campo, foi uma coisa absurda, parecia que jogávamos juntos há dez anos. Me entusiasmou muito aquilo e deve tê-lo entusiasmado também. Aí nós fomos descobrindo coisas parecidas: filosofia de vida, ideologia política, preferências sociais, culturais, a própria musica. Apesar dele gostar mais de sertanejo, ele era eclético, gostava de vários tipos de músicas. Eu era mais radical, gostava mais de “rock and roll”, fui ficando eclético com o passar do tempo. Então tudo isso nos uniu, as nossas conversas eram interessantes, a nossa aparência... Ele sempre me falava assim: “Pô, Big, você sou eu com 18 anos”. E é claro que eu olhava pra ele e falava: “Eu quero ser esse cara com 27”. Isso dava uma aproximação emocional e sentimental muito grande. Foi o peso da parceria.

A Democracia Corinthiana não foi apenas um marco na história do Corinthians, mas na do país. O fato de vocês terem conseguido o bicampeonato paulista de 82 e 83, uma competição tão importante na época, corroborou pra isso?

Claro. O processo da Democracia Corinthiana foi muito importante para a história política do país, para a história política, sem falar de futebol. Só que tudo que você tenta fazer no futebol, todo o processo novo que se entra no futebol depende muito de resultado. Se o time não ganha, qualquer tipo de processo acaba, não dá pra dar andamento, e naquela época a gente tinha muita consciência disso, isso era uma das coisas mais importantes do processo da Democracia. Os jogadores da época tinham plena consciência de que nós tínhamos que jogar bem para aquilo andar, não tinha outra escolha. O governo da ditadura militar era contra a gente, tentavam nos boicotar de todas as maneiras. Existiam, na época, jornalistas que eram favoráveis à ditadura que também prejudicavam a gente, éramos perseguidos nas ruas, alvos de qualquer tentativa de desmoralização pessoal e da Democracia. Como a gente podia combater isso? Jogando futebol com o time ganhando, jogando bem, tendo grandes vitórias. Durante a Democracia Corinthiana tiveram várias tentativas de golpe, e sempre a gente resolvia no campo. Nós nunca brigamos com as pessoas que queriam nos derrubar, íamos para o campo e ganhávamos o jogo. Foi assim com o Vicente Matheus (ex-presidente do Corinthians). No início dos anos 80, ele estava tentando dar um golpe na Democracia, nós fomos ao Pacaembu e ganhamos do Juventus e de 5 a 1 do Palmeiras, o golpe foi por água abaixo. Então o resultado do campo era muito importante.

Falando especificamente de uma passagem do livro, você conta o quanto ficou chateado ao saber que, mesmo depois de operado, Sócrates não admitia a dependência química. Isso foi o que mais te machucou no relacionamento com ele?

Teve duas coisas que eu fiquei chocado, não fiquei magoado com o Magrão, fiquei chateado. Quando fui visitá-lo no hospital, no primeiro dia eu não consegui vê-lo, ele estava em coma, no segundo eu consegui, mas ele estava em coma ainda, e no terceiro ele estava acordado e nós conversamos. Quando entrei no quarto, ele falou exatamente isso: “Porra, Big, pensei que eu fosse morrer, mas eu tô pronto pra outra”. Aquilo ali me chocou porque ele não estava pronto pra outra, aquilo me demonstrou que ele não estava percebendo a gravidade da doença dele. Passando isso, nós nos encontramos no programa Arena SporTV, e ele teve uma fala durante a entrevista que também me chocou: “Eu não sou dependente químico, eu não sou alcoólatra, vou parar agora de beber tranquilamente, não tenho nenhum problema”. Isso é um puro processo de negação da doença, estou falando com profundo conhecimento porque sou dependente químico. Fiquei internado um ano pra me cuidar de drogas, faço terapias, me trato ainda e vou me tratar a vida toda. Faz dez anos que eu faço tratamento, tenho acompanhamento terapêutico, tô aqui no lançamento do livro com um psicólogo, porque a emoção é grande. Você se altera um pouco, depois tenho o psicólogo do lado pra conversar e baixar a bola. Tudo isso eu faço exatamente pra que eu consiga me manter em controle da minha vida e da minha doença. E foi exatamente o contrário o que ele falou: “Eu não sou alcoólatra”. Aquilo me chocou porque não ia dar tempo dele entender, não deu tempo dele entender. Na realidade me chocou as duas coisas, mas na minha cabeça eu falei assim: “Pô, esse cara não percebeu ainda, mas nós vamos ter outras possibilidades, nós vamos sentar pra almoçar, vamos sentar pra conversar e eu vou conseguir ajudá-lo e mostrá-lo que ele é doente e tem que se tratar”. Só que não deu tempo, né? Ele morreu muito antes disso...

Se você pudesse mandar um recado pra Fiel, qual seria?

Quero mandar um abraço, agradecer a presença de todo mundo, o interesse pelo livro. O livro não é só a história de Sócrates e Casagrande, só uma história de amor entre Sócrates e Casagrande. É uma história do amor de Sócrates, Casagrande e Corinthians. Então um abraço a todo mundo, aos corinthianos, e vamos só torcer, vamos deixar de lado a violência nos estádios, porque isso não faz parte mais do mundo. Pega a frase “uma história de amor” e vai torcer com amor pelo seu clube, pelo Corinthians obviamente. Mas sem pensar em violência.

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