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Do projeto ousado ao 'veto são-paulino': como a Fazendinha quase foi ampliada em 1987

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Parque São Jorge, durante treino do Corinthians em 2010

Parque São Jorge, durante treino do Corinthians em 2010

Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians

Décadas antes de a Arena Corinthians ser inaugurada em Itaquera, em maio de 2014, o torcedor do Timão esteve próximo de receber uma casa à sua altura. O estádio Alfredo Schürig, popularmente conhecido como Fazendinha, localizado no Parque São Jorge, chegou a ter um plano de ampliação de sua capacidade orquestrado pela diretoria do clube em 1987.

Às margens do Rio Tietê, o terreno do segundo lar do Corinthians foi adquirido em 1926 pelo então presidente Ernesto Casano. A partida de inauguração aconteceria dois anos depois, quando cerca de duas mil pessoas assistiram ao empate por 2 a 2 entre a equipe paulista e o América-RJ. Pouco imaginava-se, porém, que as arquibancadas preta e branca receberiam até 33 mil torcedores num clássico contra o Santos.

Terreno da Fazendinha, adquirido pelo Timão em 1926

Terreno da Fazendinha, adquirido pelo Timão em 1926

Foto: Divulgação

Em meados da década de 80, a Fazendinha já não comportava a Fiel como antigamente, e as promessas da construção de um novo estádio para a massa corinthiana não saíam do papel. Foi então que o folclórico presidente Vicente Matheus, já em seu oitavo mandato no Timão, deu as cartas a fim de revitalizar e ampliar o Alfredo Schürig. As obras contaram com o planejamento do Instituto de Engenharia e se dariam por meio de uma parceria público-privada, como conta o jornalista Gracindo Caram, 52, em entrevista ao Meu Timão.

“Eu já tinha me formado, tinha um ano de jornalismo na Cásper Líbero, na época em que a faculdade valia alguma coisa (risos). E houve essa tentativa de ampliação do estádio do Parque São Jorge. Por quê? Caíram na real que não ia ter dinheiro pra construir um novo estádio como vinham prometendo ano após ano. Por que não aumentar aqui? Era uma vontade de muitos corinthianos”, afirma Caram.

“A ideia é que aumentasse pra 30 ou 35 mil na época. Tinham os engenheiros do próprio Instituto de Engenharia, que eram ligados às grandes empreiteiras. Eu trabalhava no Instituto, era um repórter iniciante, tinha uma assessoria de imprensa... Vieram laudos do próprio Instituto, das empreiteiras. O prefeito já era o Jânio Quadros, ele ganhou do Fernando Henrique pra prefeitura de São Paulo. Juntou todo o secretariado e todo mundo foi aprovando, aprovando, aprovando...”, relembra.

Fazendinha recebeu treinos do elenco profissional até 2010, quando o CT Dr. Joaquim Grava foi inaugurado

Fazendinha recebeu treinos do elenco profissional até 2010

Foto: Divulgação

O otimismo dos corinthianos em relação à nova casa que mal ganhara força não demorou a ter fim. Tudo porque Roberto Salvador Scaringella, fundador da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), logo barrou o empreendimento na zona leste de São Paulo sob a alegação de que a movimentação de torcedores alvinegros nos arredores da Fazendinha faria do trânsito local verdadeiro congestionamento.

“Até que o Scaringella, que era um ótimo engenheiro, jogou água na fervura. Ele falou: ‘Olha, por A mais B mais C não dá, vai travar o trânsito, já trava com os seis mil que tinham ali de público no Parque São Jorge...’”, relata Gracindo. “Mas no fim veio essa canetada da CET, do Scaringella, junto com a Secretaria de Transportes, falou: ‘Não dá, é muito ônibus, é muito carro, vai travar tudo’. E creio que não estivessem mentindo, não”, frisa.

Embora reconheça o profissionalismo de Scaringella, engenheiro e jornalista renomado à época, Caram não tem dúvidas: o coração do torcedor do São Paulo, mandachuva do trânsito paulistano, falou mais alto. “Era um cara técnico. Esse foi um cara que jogou água na fervura aí, pediu desculpas, era são-paulino esse filha da mãe (risos). Tinha uma pontinha de raiva”, brinca o corinthiano, em tom bem humorado.

Atualmente, Parque São Jorge abriga treinos da equipe sub-20

Atualmente, Parque São Jorge abriga treinos da equipe Sub-20

Foto: Divulgação

“Anos depois teve uma bela reforma lá, não ampliação, reforma. Tocamos mais vários jogos no Parque São Jorge até que, por fim, inviabilizou mesmo, até os 15 mil por questão de trânsito, e o Pacaembu se tornou mais viável financeiramente pro clube”, cita – o último compromisso do time profissional na Fazendinha ocorreu em 2002, na vitória por 1 a 0 sobre o Brasiliense, em duelo amistoso.

Nesta quinta-feira (18), o Corinthians comemorou 90 anos da compra do terreno do Parque São Jorge, cercado de tradições e glórias mil. Lá, o Timão disputou exatas 469 partidas, sendo 347 vitórias, 60 empates e apenas 62 derrotas – aproveitamento superior a 70%. Ciente da mística em volta do campo sempre altaneiro, utilizado atualmente por categorias de base e outras modalidades do clube, o jornalista opina a respeito de como seria a história corinthiana caso o campeão dos campeões mandasse seus jogos não na Arena, mas em seu antigo lar, situado na rua São Jorge, 777.

“A gente ia ganhar todos os jogos, aquilo ali ia ser um Pacaembu em miniatura, ia ser mais forte que a La Bombonera. Ia ser a La Bombonera do Corinthians, porque a La Bombonera é dentro de um bairro também. É como a rua Javari, é no meio de um bairro como o Parque São Jorge. E com uma baita tradição de décadas, de geração em geração, isso aí quebrou”, finalizou.

Atualização (13:50) – O Alfredo Schürig não foi a primeira casa do Corinthians, como informado na reportagem. O estádio Ponte Grande, construído próximo à Ponte das Bandeiras, abrigou partidas do Timão entre 1918 e 1926.

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