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Eles querem seu cérebro
Isabela Abrantes

Fez as pazes com o jornalismo, com quem tinha brigado ainda na faculdade. Saiu do mundo das agências de publicidade e das startups de tecnologia para fazer no Meu Timão tudo que acredita na vida.

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Eles querem seu cérebro

Coluna da Isabela Abrantes

Opinião de Isabela Abrantes

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Eles querem seu cérebro

A mídia brasileira anda meio afim de te comer. Vai aceitar?

Foto: Bad Taste

Sucesso, em tempos de internet, é algo medido pelo número de visualizações e likes. Ao contrário dos tempos onde tudo o que a gente sabia (e confiava) vinha dos livros, jornais, do rádio e da TV, o que importa para nós, hoje, vem da nossa rede. Nossos amigos são os canais ao qual estamos muito mais sintonizados.

E como eles falam! Somados os amigos, os blogs, os sites e os canais tradicionais de mídia, a quantidade de informação produzida gera um ruído. Há sempre muito barulho e no meio de tantas informações e notificações, chamar a atenção de alguém é tarefa árdua. Numa versão moderna, produzir um texto que seja lido até o fim é uma tarefa tão difícil quanto atravessar desarmado um campo aberto infestado de zumbis.

Talvez por isso, num misto de estratégia para conseguir cliques, malícia e inaptidão, o jornalismo virou cada vez mais sensacionalista. Os jornais viraram aquela horda de zumbis da qual é preciso escapar. Todos loucos, desesperados e trôpegos para chamar sua atenção, mesmo que a custa dos chamados click baits - que para quem não sabe, são aqueles truques meio sujos de gerar curiosidade absurda nos títulos, esconder fotos, usar listas e ainda mandar comentários tipo “Você não vai acreditar nisso:”.

Claro, com o tempo, esse modelo da corrida zumbi parece se desgastar. O que a gente vê é que quem não tem um bom canal e um bom conteúdo acaba virando o tipo de zumbi inofensivo sem as pernas, caído pelo caminho, quase esquecido que fica balbuciando qualquer coisa inaudível. Mas não se iluda, dos zumbis inteirões aos despedaçados: todos ainda querem seu cérebro.

Por sorte ou azar, porém, o cérebro corinthiano não é nem mais e nem menos saboroso que os são-paulinos, flamenguistas, palmeirenses ou vascaínos. Para eles, é tudo carne - ou visualizações. O problema é que o Corinthians virou uma baita de uma isca, sabe? Basta o Corinthians aparecer e as vítimas dos zumbis vão caminhar até ele. Todo mundo sempre quer saber do Corinthians: seja para amar ou odiar.

E aí, quando isso acontecem, os nossos zumbis mostraram que ainda estão lá um pouco vivos. Fazem ataques ao Corinthians. Pense comigo, a estratégia é boa: o corinthiano, preocupado, vai chegar lá para saber do que se trata; o anti, também, sempre interessado em Corinthians diminuído, acuado, criticado. Resultado: cliques - e cérebros.

E aí você chegou lá - no jornal ou na matéria onde pretendia encontrar o Corinthians. Mas chegou depois de uma luta exaustiva para encontrar a informação, desviando da horda de conteúdo nas redes sociais. Por conta disso, muitas vezes você chega distraído, desligado.

Quando isso acontece, fica muito mais fácil você cair na armadilha. A armadilha de uma informação contada pela metade, cheia de intenções disfarçadas. No primeiro dia, talvez você escape, mas em outro, pode ser que sucumba. Por que a estratégia zumbi é força bruta e repetição. E muito barulho - por quem é consegue pensar enquanto todo mundo grunhe?

E se os zumbis te confundem, eles te pegam. Se você deixar eles mastigarem seu cérebro, você também será infectado. De repente, você já não sabe mais quem você ama ou odeia, ou o porque tem resistido há tanto tempo naquela cruzada atrás do Corinthians - quando precisa o tempo todo ficar correndo dos zumbis. E porque você foi mordido, sente medo do que pode se tornar.

Assim, você já nem sabe mais se gosta tanto do Corinthians como antes. De repente, tem certeza que odeia o irmão torcedor (ou porque ele é de organizada - ou porque ele não é), mesmo sendo ele o único que está lado a lado. Mesmo sendo ele o único que você tem certeza que luta sua luta.

A essa altura já nem sabe se mesmo se gosta da Arena, o seu antigo porto seguro, e Itaquera vira um nome quase amaldiçoado depois do esforço da horda. Você, preso na armadilha do jornalismo-zumbi, não sabe mais em quem confiar. Agora, você também já não confia mais nos líderes, na diretoria, e não tem mais nenhuma certeza se eles também estão lutando pelo Timão ou se apenas usam tudo isso para te enganar, para te servir de banquete ao zumbi.

Na armadilha, você está sozinho. Mas é ali, nessa hora, talvez, você tenha uma chance de sobreviver. Em silêncio, você pensa, pensa e entende que é sua a responsabilidade de carregar viva a ideia verdadeira do que é ser corinthiano. E se você parar para pensar, se fizer as perguntas certas, vai conseguir montar a sua própria estratégia para escapar dos zumbis. Ela é feita de pensamento crítico e implica em questionar tudo o que vê, e ouve.

E enfim, quando estiver livre, vai poder construir sua própria opinião, livre dos gritos da multidão fétida. Só quando enxergar o caminho para fugir da horda insaciável, vai se dar conta: o Corinthians é para sempre. E o jornalismo-zumbi? Bom, ele é apenas uma horda de mortos-vivos que não vai durar muito tempo - desde que você não deixe eles comerem seu cérebro.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna da Isabela Abrantes

Por Isabela Abrantes

Fez as pazes com o jornalismo, com quem tinha brigado ainda na faculdade. Saiu do mundo das agências de publicidade e das startups de tecnologia para fazer no Meu Timão tudo que acredita na vida.

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