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Douglas se tornou tetraplégico. E isso não o impediu de marcar um golaço pelo Corinthians

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Douglas recebeu reportagem do Meu Timão em Santana do Parnaíba (SP)

Douglas recebeu reportagem do Meu Timão em Santana do Parnaíba (SP)

Lucas Faraldo / Meu Timão

Ao imaginar um golaço, é comum pensarmos num lance envolvente, com elasticidade, rapidez, disputa corpo a corpo, ginga nas pernas... Nem todos os golaços, porém, possuem tais características. E Douglas Jericó está aí para provar.

Dôdi, como é mais conhecido, é um dos 30 e muitos milhões de torcedores do Corinthians espalhados mundo afora. É músico também. E autor de um gol de letra: superou as limitações impostas pela tetraplegia e compôs uma música em homenagem ao Timão.

"Eu cantava desde muito cedo, não à toa hoje tenho mais de 800 músicas gravadas. Com uns oito anos minha mãe me colocou na aula de violão. Aí estudei violão, estudei canto, comecei a compôr... E aí veio o acidente", contou, ao receber o Meu Timão em sua casa, em Santana do Parnaíba (SP).

Em 2009, quando tinha 27 anos, Dôdi sofreu um acidente doméstico: caiu do telhado de sua casa e lesionou a medula óssea. "Logo quando acontece a queda, antes de apagar, senti um choque muito grande no corpo. Ali eu já havia compreendido a gravidade do machucado", recordou.

Diagnosticado com tetraplegia, Dôdi foi entendendo aos poucos as consequências trazidas pelo acidente: além de perder para sempre o movimento das pernas, dos braços e do tronco, ele também sofreu distúrbios em seu sistema respiratório, fragilizando assim seu diafragma e comprometendo a força de sua voz.

"Se você pegar uma pessoa que é tetraplégica, o que mais afeta é o pulmão. E cantar era o que eu mais gostava, além do Corinthians, né? Sabia que violão nunca mais iria tocar... Perdi 99,99% de tudo que eu podia fazer com os pés, as mãos. Se você deixar um sanduíche na minha frente, não dá para comer, morro de fome. Mas comecei a tentar cantar", relatou.

Dôdi e sua família durante jogo do Corinthians no Pacaembu

Dôdi e sua família durante jogo do Corinthians no Pacaembu

Arquivo pessoal

Incentivado por amigos e familiares, que o encheram de mimos ligados ao Corinthians (camisas autografadas, objetos, pôsteres, etc.), Dôdi voltou à rotina de quando era criança: aulas e mais aulas de canto. Sofreu com tontura e cansaço nos primeiros meses. Mas estufou o peito superando os obstáculos da mesma forma que um atacante dribla a defesa adversária para estufar as redes.

"Ouvindo qualquer tetraplégico, percebe-se que a fala não tem muita força. Fala fraquinho. Cantar, então... Uma fonoaudióloga disse esses dias para mim: 'Nossa, nunca vi alguém assim cantando'. É força de vontade, né. Força de vontade de cantar", comentou.

E foi o Corinthians um dos principais responsáveis pela retomada do canto na vida de Dôdi. Em 2010, inspirado na passagem de sucesso de Ronaldo Fenômeno pelo Parque São Jorge, deixou-se envolver pelo lado torcedor e compôs a música "Incondicional" em homenagem ao Centenário do Timão – a letra passou por recentes adaptações para que pudesse ser cantada atemporalmente.

Vai desse jeito sem medo
Que o zagueiro se perde entre a bola
E o teu corpo passando...
É você e o goleiro agora!
Era... Porque é gol!
E eu vou comemorar da arquibancada
com a Fiel
Que eu sou Corinthians
Apaixonado invoco o meu cantar!
Agradecendo a tua história
E a tua grandeza em minha vida!
O meu amor é infinito,
consciente na derrota
E em campo é incondicional
Eternamente roxo!
Vai Corinthians!
Que esse jogo já é nosso
Bota fé, vamos ganhar
Sou sofredor desde criança
Entre a alegria e a esperança
Sou Timão êo Timão êo
Esteja em primeiro ou na lanterna
Em Copa, Taça, ou Campeonato
Eu nunca saio do teu lado
Eu nunca vou te abandonar!

(refrão 4x)
Não precisa ganhar
Não importa perder
Independe o placar
Corintiano até morrer!

Acostumado com o ambiente de arquibancada desde os tempos de Pacaembu e Morumbi da década de 90 à única vez que foi à Arena Corinthians em 2015, Dôdi tem como um de seus sonhos a popularização de "Incondicional" entre os torcedores corinthianos. Imagina a Fiel cantando a música nas arquibancadas?!

"Nossa, eu ia morrer. Ia ser da hora, né? Você imagina? Quando vou ao estádio já choro normalmente só de ver a torcida cantar, porque arrepia. O som de torcida é muito poderoso. Quando começam a gritar... Eu ia ficar doido, muito feliz, capaz até de eu pular da cadeira, sair cantando e pulando junto com a galera", brincou.

Esse seria um dos sonhos de Dôdi. Um outro vai além da música e do Corinthians, atingindo a sociedade como um todo. Mais do que um sonho, aliás, trata-se de um apelo: gostaria de mais respeito das pessoas em geral com aqueles que sofrem de tetraplegia e/ou, por outros motivos, dependem de cadeiras de rodas e outras ferramentas de acessibilidade.

"Sei que nunca será possível e que também pode soar meio perverso ou egoísta, mas fico imaginando se todas as pessoas do mundo experimentassem, por um dia só, a sensação de estarem tetraplégicas. A sensação que eu tenho é que só assim as pessoas entenderiam e então passariam a respeitar, não usariam mais as vagas exclusivas em estacionamentos, se preocupariam com questões de acessibilidade e outras coisas. O respeito é que é o grande sonho, né? Mas é algo muito difícil de imaginar", ponderou.

Difícil de imaginar, de fato. Assim como é difícil imaginar alguém fazendo um golaço sem auxílio de pernas, mãos e tronco. Ora, não foi isso que Dôdi fez? Se há alguém capaz de provar que o inimaginável pode sim se tornar palpável, esse alguém é Dôdi. Aquele que dominou no peito os diagnósticos médicos e os transformou em motivação para seguir em frente. Seguir "desse jeito sem medo", como diz sua música, "entre a alegria e a esperança".

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