Venha fazer parte da KTO
x
João Carlos, trabalhador, primeira vez na Arena em Itaquera
Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

ver detalhes

João Carlos, trabalhador, primeira vez na Arena em Itaquera

Coluna do Walter Falceta

Opinião de Walter Falceta

1.8 mil visualizações 18 comentários Comunicar erro

João Carlos, trabalhador, primeira vez na Arena em Itaquera

Galera em Itaquera: corinthianismo de tradição

Foto: Acervo Particular

Sábado, 19 de agosto, tarde fria e úmida na Grande São Paulo. Em uma avenida no ABC, no carro do compa Rafa LHP, o aposentado João Carlos de Andrade, de 77 anos, está inquieto e ansioso. Pela primeira vez, ele vai assistir a um jogo do seu Timão na Arena Corinthians, em Itaquera.

Do estacionamento, em uma cadeira de rodas, ele ingressa sorridente e espantado no magnífico estádio do Sport Club Corinthians Paulista. Emociona-se. É um sonho que está sendo realizado.

Não faz muito tempo, em uma das casas da Fundação José Carlos da Rocha, ele manifestou esse desejo de torcedor, expresso em giz sobre um quadro que lembrava um gramado.

Os Gaviões se sensibilizaram e botaram mãos à obra para realizar a proeza, em uma ação colaborativa do departamento social da torcida.

De repente, saiu o ingresso, gratuito, coisa que somente o Corinthians, entre os grandes clubes, fornece para idosos e outros cidadãos em situação de vulnerabilidade.

No meio da Fiel, João Carlos torcia de modo preocupado e afligiu-se quando o Vitória venceu a meta do grande Cassio. No entanto, era somente o começo, e seu espírito transbordava de esperança.

Porque João Carlos já venceu muitos obstáculos na vida. Durante anos, ele serviu como trabalhador exemplar no Moinho São Jorge. E foi na planta de produção que perdeu um dedo, levado pelo destino implacável.

João Carlos superou esse, entre tantos obstáculos que a vida lhe impôs. Na Arena Corinthians, com tantos irmãos, com tanto carinho dos jovens, não havia de suceder nenhum fracasso.

Mas o tempo passava, e o time de Carille não suplantava a barreira rubronegra baiana. Os minutos escoavam céleres e nada do empate.

Enfim, o tempo presente desta narrativa. Os lábios premidos expõem a apreensão. Finda a partida e a invencibilidade.

João Carlos sofre, profundamente... O Rafa o consola. O Rafa é aquele cara gente boa, da Leste, o mesmo que, tempos atrás, levou à arena de Itaquera o famoso Denis, o rapaz humilde que morava no Aeroporto de Cumbica.

Mas o João Carlos tem essa pulga atrás da orelha. Cismou que contaminou o Corinthians com sua suposta má sorte. Sofre dolorosamente porque acredita que tem responsabilidade no resultado.

Agora, é a volta para casa, a noite longa, na qual enfrentará as provocações e piadas dos colegas da casa para idosos.

Sabe de uma coisa, João Carlos? Você é um baita pé quente, porque trouxe para nós algo muito mais importante que uma simples vitória.

Você trouxe para nós o sentido do verdadeiro corinthianismo: solidariedade. Era com isso, com inclusão, com empatia e com amor autêntico, que sonhavam os heróis fundadores do Timão, lá no Bom Retiro, em 1910.

Com a gente, na bancada ou em pensamento, você nos faz mais corinthianos, mais fiéis e mais felizes na alegria compartilhada.

João Carlos, o Rafa, ou outro dos mais jovens, vai logo te buscar de novo, desta vez para comemorar uma vitória.

Porque a gente curte a sua companhia e valoriza sua história.

Porque aqui, amigo, aqui é Corinthians!

*** Post scriptum

Logo depois de publicar este texto, recebi a informação de que o confrade Samir Hauache realizou façanha semelhante nesta mesma partida.

Ele levou para o estádio o David, de 42 anos, um homem marcado pela vida, que trabalha nas imediações da Arena, catando latinhas de cerveja.

Esse corinthiano não ingressava no estádio desde o início dos anos 2000. Chegou a ter uma banca de camelô, mas seu material de trabalho e sua mercadoria foram confiscadas por guardas metropolitanos.

Assistindo ao jogo, o resistente David confessou a Samir que seu ídolo é Romero. É pela garra, pela dedicação!

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Avalie esta coluna
Coluna do Walter Falceta

Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

O que você achou do post do Walter Falceta?