E assim se passaram 10 anos
Opinião de Walter Falceta
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Cara leitora, caro leitor,
Eu me recordo muito bem daquele 2 de Dezembro de 2007. Havia o sufoco, o gosto amargo da derrota sofrida em casa para o Vasco. Lembra? Um temor, mas também a esperança. E assim o meu almoço desceu torto e ácido.
Eu e o Lucca, meu filho, grudamos na tela da TV. O Grêmio, afinal, não tinha motivos para nos opor ferrenha resistência. Mas veio o gol gaúcho, de Jonas, e o coração pulou estranho no peito.
Depois, Clodoaldo empatou. Em Goiânia, o teatro se via armado, com o clube do DVD garantindo o triunfo do Goiás.
O tempo correu doido e injusto, uma tentativa final, arremate para fora... Logo depois, o apito cortante do árbitro. Aqui, choramos de montão, e confesso que quebrei uma cadeira no quintal. Lá na arquibancada do Olímpico, entretanto, vimos a cartolina com uma inscrição em caneta azul: "eu nunca vou te abandonar".
Foi um dia de muitas tristezas, e me ficou na memória, sobretudo, a lágrima feminina. Lembro do pranto duro da Larissa Beppler Santiago, entre outras irmãs que lastimaram a queda.
E o destino nos aplicou outro duro golpe no ano seguinte, quando o árbitro maldito apitou vergonhosamente em favor do Sport, na final da Copa do Brasil.
Recordo como a torcida foi mais fiel naqueles tempos. Carregamos o time nos ombros na Série B. E nunca vi tanta gente chorando quanto ao fim daquele jogo contra o Ceará, no Pacaembu, em que subimos de volta à Série A.
Por um momento, deixei o Lucca e o afilhado Rafael Forcione para acudir um rapaz e a namorada que, de cócoras, choravam copiosamente ao pé da escada do setor laranja. Abraçaram-me, anônimos. Soltaram o grito de dor para dar lugar ao júbilo no coração.
De lá para cá, não parece, mas a torcida amadureceu. Aprendeu a ser paciente, a compreender a importância da defesa, a reviver o corinthianismo de raiz.
De 2007 para cá, parte da torcida recuperou o ethos de 1910 e a mística de 1982. A partir da algia do rebaixamento, revivemos o corinthianismo.
Surgiu o Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO), fundado pelo Rafael Castilho; o batuta Movimento Toda Poderosa Corinthiana (MTPC), das companheiras torcedoras; e o Coletivo Democracia Corinthiana (CDC), que faz um trabalho bacana, educacional, especialmente na reinclusão de jovens em conflito com a lei.
Nestes dez anos, o Corinthians da bola desenvolveu uma nova filosofia de jogo, que privilegia a lógica. Primeiro não tomar gol; depois, fazê-los. Com Mano, Tite e Carille, triunfamos pensando assim, colocando em prática essa inteligência operativa.
Vejam só... Ganhamos três brasileirões, uma Libertadores invictos, mais um Mundial, uma Recopa, uma Copa do Brasil, além de três Paulistões. E quando a coisa ficou difícil, a torcida carregou o time nos braços, de novo, oferecendo a bronca e o carinho, como no treino que antecedeu o jogo contra o Palmeiras, neste Brasileiro de 2017.
Nestes tempos, muita coisa aconteceu, no Brasil e no mundo. Foram invenções, tragédias, avanços, calamidades, razões para a lágrima, motivos para o sorriso largo. O bem e o mal se sucederam, na minha vida, na sua vida. E a gente continuou na luta, sem desistir.
Há um balanço possível: aprendemos muito nestes anos, nos transformamos, porque, honrando o filósofo Heráclito, o mesmo ser nunca se banha duas vezes no mesmo rio.
Neste tempo vertiginoso, apurou-se o senso crítico. E sabemos quem está ao lado do pioneiro Battaglia, sempre na fé e na partilha, e quem está perdido pelo caminho.
Ainda falta muito, porque, como dizia o escritor uruguaio Eduardo Galeano, a utopia se distancia a cada passo que completamos em sua direção. Porém, foram dez anos de uma jornada maravilhosa, pedagógica, passos firmes, sempre em frente. E você sabe a glória de estar nesta massa.
O sonho inspirado pelo Cometa Halley, lá no querido Bom Retiro, se define pelo movimento. Então, se queremos processar o conceito, convém repetir: "vai, Corinthians!"
Abraço fraterno a você, corinthiana, corinthiano!
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.