Sobre o que vi hoje nas eleições do Corinthians
Opinião de Danilo Augusto
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Saí de casa às 9h30 a caminho do Parque São Jorge. A missão era ajudar a cobrir as eleições. Comigo estava a Rafaela de Oliveira, jornalista do Meu Timão. Chegando na rua do clube já dava para ouvir os barulhos das caixas de som. Várias músicas tocando, de vários candidatos. Muitos papeis no chão e muita gente pedindo votos nas chapinhas.
O clima era de festa, cada chapa fazendo sua própria confraternização (e são mais de vinte chapinhas). Pelo Meu Timão, tentamos entrevistar os cinco candidatos e fizemos a mesma pergunta: "O que você espera para hoje e o que você espera do Corinthians nos próximos três anos?". Dos cinco candidatos, dois não quiseram responder. Um dele era Andrés Sanchez, confiante na própria vitória.
Saí para almoçar, voltei e esperei. Próximo das 17h, o clima era de ansiedade, mas também de felicidade. Como se todos pensassem "aqui todo mundo é Corinthians e não teve nenhum tumulto nesse dia de eleição". Começaram a cantar o hino do Corinthians. Até então, nada podia ser mais bonito.
Até que saiu o resultado...
Sanchez venceu com 33% dos votos. A divisão da oposição fez a situação sagrar-se campeã da quarta eleição consecutiva do Corinthians. Andrés comemorou com seus aliados e foi abordado pela imprensa. Enquanto falava, começaram os protestos, cerca de cinco minutos depois de ele ser anunciado o mandatário principal do Corinthians pelos próximos três anos.
"Andrés, aqui não burguês", "ladrão, devolve o futebol pro povão" e alguns insultos ecoaram no pequeno ginásio. O novo presidente não deu muita bola, nem quando tacaram objetos nele, incluindo um copo de cerveja na cabeça. Sanchez finalizou a entrevista e tentou sair de lá, mas a coisa ficou pior.
Seguranças protegeram Andrés. Escoltado, deu meia volta, acabou encurralado e foi parar dentro de um banheiro feminino. Lá ficou por cerca de 30 minutos, protegido por seguranças que estavam do lado de fora. Saiu escoltado novamente, foi direto para o estacionamento. No caminho, mais protestos, no mesmo momento em que meu colega Flavio Ortega foi agredido.
Dezenas de carros de polícia chegaram e, então, a confusão terminou. Sanchez daria uma entrevista coletiva no anfiteatro do clube, evento cancelado pelo Corinthians e remarcado para terça-feira.
Ainda no estacionamento, no subsolo do Parque São Jorge, Sanchez aguardou cerca de uma hora e meia. Saiu de lá escondido, deitado no banco de trás de um carro, com um boné escondendo seu rosto. Cena bem deprimente, acuado, se escondendo no momento em que imaginava estar desfilando como presidente eleito do clube.
Aos 54 anos, o deputado federal viu, talvez pela primeira vez, parte da torcida querendo agredi-lo. E foi o primeiro dia de quase três anos em que ele será a figura máxima do Corinthians.
É normal a situação, que completará 12 anos dentro do clube, ter cada dia mais opositores. Protestos eram e são esperados. Só lamento muito o final trágico e violento deste 3 de fevereiro de 2018.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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