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Orgulho e preconceito
Marco Bello

Setorista do Corinthians desde 2009 pela Rádio Transamérica, Marco Bello acompanha o dia a dia do clube

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Orgulho e preconceito

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Orgulho e preconceito

Romero desabafou sobre o preconceito sofrido no Brasil

Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians

É difícil olhar para o próprio umbigo. Cortar na própria carne. Reconhecer seus erros.

Machuca. Mas é essencial.

O que Romero fez nesta terça-feira, o que ele falou, o dedo que tocou na ferida, precisa ser levado para um âmbito acima do esportivo.

O brasileiro é extremamente preconceituoso. Aliás, nós. Nós somos. Coloco na primeira pessoa do plural. Colocamos adjetivos pejorativos em estrangeiros e em populações dentro do nosso próprio país.

Não vou entrar aqui no assunto do preconceito contra pobres, negros ou nordestinos, entre outros. Teremos outras oportunidades.

Mas Romero tocou no preconceito contra estrangeiros, a chamada xenofobia.

Admiramos, e muito, quem vem dos países ricos. Estadunidenses, europeus, australianos. Brancos, de olhos claros, são muito bem-vindos ao nosso país.

Mas será que recebemos bem os guatemaltecos, nigerianos, indianos, moçambicanos?

Recebemos bem nossos vizinhos paraguaios?

Voltando um pouco ao ambiente do futebol, temos esse preconceito absurdo com os argentinos, elevado por narradores e comentaristas que querem criar uma rivalidade acima do jogo. A rivalidade unilateral dos brasileiros é algo digno de estudo. A grande maioria dos argentinos nem sabe disso.

E mais, todo imigrante colombiano é lembrado quase todo dia da relação de seu país com as drogas, o narcotráfico. Os bolivianos são considerados quase uma sub-raça por boa parte dos nossos compatriotas.

Inúmeros são os exemplos de outros países e como nós os tratamos por aqui.

O brasileiro, que sofre preconceito também quando sai de sua pátria, não olha para o próprio quintal.

Às vezes nos consideramos a primazia da América Latina, por falarmos uma língua diferente.

Temos música, temos beleza, temos praias, futebol, etc. Como somos bons. E somos. Mas será que somos melhores?

Como povo, seguramente não. Vide todos os males que passamos diariamente com violência e corrupção.

Para voltar ao assunto abordado por Romero, muitos me falaram: mas o Gamarra nunca passou por isso.

Pois é, só quando queremos criticar alguém é que aparece o nosso preconceito. O imigrante precisa ser muito bom para não ouvir piadinhas em nosso país.

É mais ou menos, guardadas as devidas proporções claro, que dizer: o Pelé nunca sofreu preconceito em nenhum país, então o racismo não existe. Quantos jogadores brasileiros ruins e até bem melhores que Romero já não foram chamados pejorativamente no primeiro erro de passe, na primeira conclusão equivocada a gol.

Produto falsificado, atacante falso, pirateado, contrabandeado. Deve ser muito FODA ouvir isso quase todo dia. Tudo isso existe no país dele. Mas também existe no nosso.

E há coisas muito piores também. O preconceito é seguramente uma das coisas ruins que precisamos, e podemos mudar.

E não é difícil. Basta saber ouvir, e refletir.

Veja mais em: Romero.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Marco Bello

Marco Bello é jornalista, apresentador e repórter da Rede Transamérica de Rádio, setorista do Corinthians desde 2009

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  • Comentários mais curtidos

    Kenny
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    Kenny 257 comentários

    @kenny.xavier em

    Acima do futebol tem o ser humano. O cara tem orgulho de ser do Paraguai. Ouvir essas piadas de merd* deve ser horrível. Parabéns ao Romero pela coragem de falar o que falou. Mais respeito ao nosso artilheiro da arena e acima de tudo mais respeito ao ser humano.
    Aqui é Corinthians, aqui é o time do povo. Não só do nosso, de todos os povos que forem apaixonadas pelo todo poderoso Timão!

  • Leandro
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    Leandro 6301 comentários

    @leandro.newsted em

    Como já esperava, o corporativismo tá comendo solto na Band (Jogo Aberto), praticamente todos se fazendo de desentendidos e tentando desqualificar o que o garoto falou, usando justamente desse argumento de que "o Gamarra não sofreu preconceito", "o Balbuena não sofre preconceito" e blá blá blá. Porque realmente, um jogador estrangeiro que vem para o Brasil tem que ser acima da média pra merecer respeito, caso contrário podem escrachar nas críticas, vide o que fazem com o próprio Romero, e o Kazim também. A verdade é que inconscientemente o brasileiro acredita ser superior aos seus compatriotas sulamericanos, então quando um jogador estrangeiro vem pra cá e se mostra mediano tecnicamente, é como se ele tivesse tirando o espaço de outros brasileiros e por isso não merece respeito algum. A falácia de que o brasileiro "é o povo mais acolhedor do mundo" se perpetuou de tal forma, que ninguém aceita ouvir o contrário.

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  • Últimos comentários

    Jimmy
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    Jimmy 390 comentários

    71º. @jimmy.fenner em

    E digo com domínio de causa: são os brasileiros que vão pra lá comprar coisa pra contrabandear. Paraguay tem imposto mínimo, alíquotas de fazer qualquer empresário se emocionar e nunca mais querer ir embora. São os brasileiros que vão lá comprar e trazer pra cá escondido da PF. Logo, muambeiro é o brasileiro.

  • Poderoso
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    Poderoso 780 comentários

    70º. @willian.de.almeida em

    Um texto quase poético de tão revelador e belo sobre a pobreza espiritual de boa parte do povo brasileiro que, cego na sua ignorância e alienação, chama paraguaios, bolivianos, africanos de atrasados, sem perceber o quanto o Brasil é mal visto lá fora, justamente por europeuse norte-americanos de "olhos azuis". Somos os piores em rankings de educação, qualidadede vida, IDH etc, com uns 30 milhões de analfabetos, milhões de pobres em favelas e o sujeit que critica o Paraguai ou o Haiti, que seja, é incapaz de enxergar isso, o quanto o Brasil é um lixo diante do mundo, em termos de progresso etc. Aliás, esqueci o autor que disse que a deterioração atualdo mundo, diante do neoliberalismo, é uma espécie de "abrasileiramento" que os países civilizados enfrentam, ou seja, viramos um adjetivo pejorativo para qualificar condições sociais degradantes.

  • Felipe
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    Felipe 877 comentários

    69º. @felipe.ferreira55 em

    Ótima reflexão.
    Está faltando educação e conhecimento histórico para nosso povo. Precisamos respeitar mais o próximo.

  • Pedro
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    Pedro 1453 comentários

    68º. @pemarques em

    Excelente, marco

  • Fábio
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    Fábio 485 comentários

    67º. @torcedor.consciente em

    Texto excelente! Parabéns Marco Bello