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1 em 30 milhões: com mãe eternizada em faixas, filho corinthiano vai da arquibancada aos céus

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Enquanto milhares de corinthianos assistiam aos fogos, Luciano conversava com a mãe

Enquanto milhares de corinthianos assistiam aos fogos, Luciano conversava com a mãe

Arquivo pessoal

Quando eu senti o valor dessa faixinha? Quando percebi que eu podia ajoelhar nas arquibancadas para orar e conversar com minha mãe. Vou levar essa faixa aonde eu puder e homenageá-la até o fim da minha vida.

Há uma semana, o céu de Itaquera se iluminava num show pirotécnico jamais antes visto na história ainda curta da Arena Corinthians. Precedendo a final da Copa do Brasil, atrações nos painéis de LED, danças e apresentações musicais no gramado e mais um dos já tradicionais mosaicos da Fiel nas arquibancadas também contribuíram para fazer de Itaquera um dos mais belos lugares naquela noite de quarta-feira. Dona Ana que o diga. Assistiu a tudo com vista privilegiada. E batendo papo de cima pra baixo com o filho Luciano, um especial torcedor do Timão em meio aos 30 milhões atentos àquele jogo.

Ana Luciano faixa

Arquivo pessoal

Corinthianismo raiz: de mãe pra filho

A relação entre Corinthians e Luciano Oliveira surgiu quando este ainda era pirralho. Criança de tudo, já frequentava os estádios de futebol ao lado da mãe. Mas muitas vezes nem mesmo passavam pelo portão de entrada. Isso porque Dona Ana, quase sempre acompanhada do filho e ajudante, era vendedora ambulante e tinha uma barraquinha de lanches e churrasco que levava de um canto a outro da cidade, do Pacaembu ao Morumbi, do Canindé ao Parque Antártica. A prioridade eram os palcos de jogos do Timão. E não apenas pelo corinthianismo.

"Maioria das vezes era jogo do Coringão porque era o que dava mais renda pra gente", conta Luciano, em entrevista concedida ao Meu Timão dias após sua foto na Arena Corinthians com a faixa "Dona Ana eternamente" se espalhar entre corinthianos nas redes sociais.

"Naquele momento da foto, eu chorava. Olhando pra cima, no foguetório, pedindo energias para a minha mãe. E ela lá de cima está olhando por nós todos, pelo nosso Coringão."

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Dona Ana era mãe solteira. Assim, muitas vezes precisava levar o filho consigo ao trabalho. O sempre companheiro Luciano se gaba até hoje dos tempos em que ajudava como caixa na barraquinha. "Era uma parceria. Ela cuidava dos lanches, eu do dinheiro." Mas mãe corinthiana que era, sabia muito bem o filho corinthiano que estava criando. Papo aqui e ali com seguranças na porta dos estádios, ela fazia questão de sempre tentar colocá-lo para dentro dos jogos do Timão. Às vezes não conseguia – o que também não era um problema.

"Quando não conseguia entrar nos estádios, ficava com ela. Eram noites e noites vagando por São Paulo em busca de trabalho, dinheiro. Assim o Corinthians floresceu na minha vida. Minha mãe me colocou nesse mundo para ser mais um louco que vive pelo Corinthians."

Luciano deixa na cozinha de casa bandeira em homenagem à mãe

Luciano deixa na cozinha de casa bandeira em homenagem à mãe

Arquivo pessoal

'Tira a mão do meu filho!'

É possível apontar a Libertadores como origem das principais lembranças de Luciano envolvendo o Corinthians e sua mãe. Muito antes do título invicto de 2012, o ainda pequeno torcedor já vivia suas primeiras "experiências sul-americanas" nas arquibancadas. E ainda bem que Dona Ana estava sempre por perto. Se dependesse exclusivamente do Timão...

Tanto em 1999 quanto em 2000, a história se repetiu: Dona Ana conseguiu "dobrar" os seguranças do Morumbi, e Luciano assistiu de graça às eliminações corinthianas para o arquirrival Palmeiras. Restou ao garoto de dez, 11 anos, deixar o estádio correndo e aos prantos em busca da barraquinha da mãe, única zona de conforto possível.

"Voltei chorando, desolado. Eu chorava entre os braços dela e ela vendendo os churrasquinhos. O lado que a gente ficava era mando dos palmeirenses, ponto fixo ali no Morumbi na época. Um palmeirense veio pôr a mão em mim e minha mãe me protegeu: 'Não põe a mão nele, não põe a mão nele'", lembra Luciano, entre soluços de saudade.

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Lembrança que dói

Mais de uma década se passou. E o já marmanjo Luciano enfim tirou da garganta o grito entalado de campeão da Libertadores. Naquele ano de 2012, Dona Ana já não era mais tão presente nas portas dos estádios: problemas de artrose nos dois joelhos dificultavam a locomoção da ambulante – e acima de tudo mãe – pelas ruas paulistanas. Não que isso fizesse o filho corinthiano se sentir sozinho nas arquibancadas durante os jogos do Timão.

"Minha mãe se fazia presente comigo nos estádios mesmo quando não estava dentro do estádio. Ligava para mim durante o jogo, eu gravava áudios e vídeos e mandava para ela durante os jogos. A relação com minha mãe era inexplicável. Fazia tudo com ela", recorda.

Luciano e Dona Ana: parceiros de arquibancada em jogos do Timão

Luciano e Dona Ana: parceiros de arquibancada em jogos do Timão

Arquivo pessoal

Ao descrever a noite histórica de 4 de julho de 2012, Luciano chora. "Deixa eu dar uma segurada aqui." Pede desculpa à reportagem pela pausa na entrevista. Volta a falar.

"Dentro de tantos títulos que vivi no Corinthians, minha mãe me ligava todo jogo e falava: 'Filho, é só um jogo. A mãe precisa de você. Vem pra casa inteiro'. Eu sabia que ela se preocupava. Naquela final de Libertadores, fui falando com ela pelo telefone do Pacaembu até a estação Santana, que foi onde peguei ônibus. Minha mãe chorando, eu chorando... Foi surreal. Parceria monstra que nós tínhamos. Nossa relação era de mãe, filho, amigo... Não conheci meu pai. Minha mãe era guerreira. Era tudo na minha vida. É até hoje", relata Luciano, citando a caminhada de mais de oito quilômetros madrugada afora.

Ressurreição na ‘faixinha’

Aos 65 anos de idade, Dona Ana faleceu no dia 1º de janeiro de 2015. "Vai ser o pior dia da minha vida enquanto eu estiver respirando. Queria jogar tudo para o alto: casamento, faculdade... Queria morrer para encontrar minha mãe. Ali eu perdi minha parceria, tudo."

Luciano não se matou. A solução para seguir em contato com a mãe foi outra. E envolve o Corinthians, que naquele mês de janeiro chegaria à final da Copa São Paulo de Futebol Júnior e conquistaria o título sub-20 no estádio do Pacaembu no feriado do dia 25.

Com ajuda da esposa Ketily, Luciano improvisou uma homenagem com tinta guache numa faixa do Corinthians. Foi a primeira vez que a mensagem "Dona Ana eternamente" ganhou as arquibancadas. A emoção do filho, num contato diferente e então inédito com a mãe, o impediu até de assistir à final do Timãozinho. "Chorei o jogo todo. Praticamente não assisti. Cantava as músicas da Fiel o jogo todo olhando para o céu", diz, novamente entre lágrimas.

Naquela manhã do dia 25 de janeiro, Luciano reencontrou a mãe no Pacaembu

Naquela manhã de 25 de janeiro, Luciano reencontrou Ana no Pacaembu

Arquivo pessoal

A partir dali, as homenagens só evoluíram. Luciano mandou fazer outras faixas e as distribuiu para familiares. Ganhou de brinde uma bandeira do Timão, também personalizada com o nome da mãe, que leva aos estádios e mantém estendida na sala ou na cozinha de casa. "Ela era cozinheira também, né?", justifica, lembrando os deliciosos churrasquinhos.

"Até hoje minha zona de conforto é levar essa faixa aos jogos. Eu levo para qualquer lugar. Eu me senti na obrigação, pensando no meu conforto espiritual, para que o espírito da minha mãe fique comigo através dessa faixinha", acrescenta o corinthiano, hoje com 29 anos.

Luciano se formou em fisioterapia em 2016. Não deixou de homenagear a mãe na colação de grau. Só não deu pra tirar o verde da beca, brinca

Luciano se formou em fisioterapia em 2016. Não deixou de homenagear a mãe na colação de grau. 'Só não deu pra tirar o verde da beca', brinca

Arquivo pessoal

Sabem a máxima de corinthiano não "virar" corinthiano, mas sim nascer? O corinthianismo de Luciano põe o ditado em xeque. É possível categoricamente afirmar que foi Dona Ana quem o transformou em corinthiano como ele hoje é. Que os deuses alvinegros do futebol abram essa exceção – e já aproveitem para, beliscando espetinhos e assistindo de camarote a jogos do Timão, se entender no céu mesmo com esta maravilhosa mulher que com eles por lá está.

Sua vez!

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Veja mais em: 1 em 30 milhões, Torcida do Corinthians e Arena Corinthians.

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