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Ainda dá tempo de falar sobre ontem? Tem que dar
Lucas Faraldo

Editor e apresentador no canal do Meu Timão no YouTube

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Ainda dá tempo de falar sobre ontem? Tem que dar

Coluna do Lucas Faraldo Knopf

Opinião de Lucas Faraldo

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Ainda dá tempo de falar sobre ontem? Tem que dar

Estátua de Sócrates e bandeira pela democracia exibidas na Arena Corinthians

Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians

O ontem a que me refiro não é bem ontem. A coluna está sendo publicado na terça-feira dia 2 de abril de 2019. E faz referência a dois ontens distintos: domingo 31 de março também de 2019 e terça-feira 31 de março de 1964. Falar sobre o passado se faz necessário.

Primeiro que é impossível viver sem política. Já se faz necessário alertar. E política aqui não é defender partido A ou B. Política é o ato de viver em sociedade. A gente faz política da hora que manda uma mensagem de bom dia no grupo da família no WhatsApp à hora que debate na calada de uma quarta-feira à noite se Carille acertou ou não na escalação.

Segundo que o Corinthians é historicamente, goste o torcedor contemporâneo ou não, um clube de bandeira político-ideológica muito bem definida. E essa bandeira, cabe novamente enfatizar, não tem cor, símbolo ou legenda referente a qualquer partido. Mas é uma bandeira que flamula ventos democráticos desde sua fundação pela classe operária lá em 1910 até os dias atuais, com passagem relevantíssima pelos Anos de Chumbo através da Democracia Corinthiana com Sócrates, Wladimir, Casagrande & cia. na década de 80.

Seria fácil, assim, dizer que Corinthians e repressão jamais deveriam constar na mesma frase. Omitir-se diante de um debate que toma as ruas (e redes sociais) do país inteiro há dias seria, claro, a saída mais fácil. Mas não a saída suficiente. E o Corinthians soube disso.

O Corinthians tem é obrigação moral de se colocar numa mesma frase que a repressão. Numa frase de repúdio, claro. Ou em outras palavras: de clamor por democracia. Pelo direito de pensar, ter opinião, viver. Tudo isso sem ser torturado, sem ser assassinado pelo Estado.

É perverso fazer ode a um regime que, independentemente de resultados econômicos ou quaisquer outros, se baseou em violência da mais brutal contra crianças, mulheres e homens. E é lindo usar seu poder de influência e de alcance para reverberar contra. E foi o que o Corinthians fez: publicação nas redes sociais, estátua do Sócrates e bandeira em prol da democracia na Arena e até a pequena filha do goleiro Cássio em campo com a camisa da Democracia Corinthiana. Ali o Timão ganhou antes mesmo do apito de início do jogo.

Filha de Cássio foi a campo antes de Corinthians x Santos com camisa especial

Filha de Cássio, antes de Corinthians x Santos, com camisa especial

Reprodução/TV

Parabéns ao Corinthians. Parabéns também a Bahia e Vasco. Juntos, foram os únicos três clubes entre os 20 da Séria A do Campeonato Brasileiro que se manifestaram contra a Ditadura Militar no último domingo, aniversário de 55 anos do início do regime ditatorial.

Corinthians, Bahia e Vasco fizeram bonito assim como todos os grandes clubes da Argentina na semana anterior, quando se uniram em campanha contra o golpe militar de 1976, que fez aniversário no último dia 24. No país vizinho, é hoje motivo de desonra falar positivamente sobre o período ditatorial que sangrou a América Latina como um todo no século passado.

Em terras brasileiras, ainda é honroso e nobre para muitos. Incluindo o presidente atual.

Enquanto outros clubes Brasil afora sujam sua imagem dando camisetas e/ou associando suas cores (e até títulos) a quem não merece presente nem saudação, o Corinthians muito me orgulha. Assim como o Bahia. Assim como o Vasco. Assim como os argentinos. Assim como qualquer instituição ou povo que tenha aprendido com sua história. Aprender com o ontem é viver sem os mesmos erros hoje. E ter esperanças de um ainda melhor amanhã.

Veja mais em: História do Corinthians e Arena Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Lucas Faraldo Knopf

Por Lucas Faraldo Knopf

Jornalista pela ECA-USP e ex-Esporte Interativo, Jovem Pan e Lance!. Hoje trabalha no Meu Timão. Autor do livro 'Impedimento - Machismo, racismo, homofobia e elitização como opressões no futebol'.

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