1 em 30 milhões: ele trocou Barcelona pela 'cidade Corinthians' após premonição da Libertadores
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Por Lucas Faraldo
Imagine você trabalhando com o que gosta e estabilizado financeiramente em um dos mais procurados destinos turísticos da Europa. Difícil surgir algo que o faça largar tudo e tentar um recomeço em terras brasileiras. Ainda mais difícil se esse "algo" aparecer apenas em um sonho, certo? Ao menos para o corinthiano Gabriel Parras, errado.
O torcedor encontrado pela reportagem do Meu Timão deixou para trás a vida dos sonhos em Barcelona por conta de um... sonho. Literalmente! Gabriel diz ter sonhado com a final da Libertadores de 2012 em janeiro daquele ano - seis meses antes da decisão, portanto. Enquanto dormia na cidade catalã, teve uma espécie de premonição: imaginou o inédito título do Corinthians conquistado naquela temporada e de quebra em cima de um dos maiores clubes da América do Sul, o Boca Juniors. Coisa de louco?
"Desde quando havia saído o sorteio das chaves, fiquei brincando com um amigo brasileiro: 'Pô, esse ano podia dar uma final Corinthians e Boca, em?'. Aí um dia dormi e sonhei com a final entre Corinthians e Boca. Acordei, liguei para ele e contei meu sonho. E aí conversando decidi voltar para o Brasil, mesmo ele falando para eu deixar de loucura e ficar de boa em Barcelona. Mas eu tinha certeza que ganharíamos a Libertadores! Não avisei para ninguém, só para esse meu amigo: 'estou voltando'", contou.
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Na época com 34 anos (hoje, 40), Gabriel largou o emprego que tinha em Barcelona, numa confeitaria vegana, e voltou às pressas para São Paulo. "Se o Corinthians fosse mesmo para a final, eu iria querer acompanhar a campanha toda", explicou. Ele se hospedou num quartinho na casa do tal amigo, Marcio, e já tratou ir para o Pacaembu logo em seu primeiro dia no retorno ao país: na final da Copinha entre Corinthians e Fluminense. Antes mesmo chegar ao estádio, já se deu conta de que seria difícil voltar a se distanciar do Timão.
"Quando pega a avenida Pacaembu, você passa pelos torcedores indo a pé, revê os amigos... Foi ali que me dei conta: 'Estou de volta à cidade de Corinthians. Não tem como fugir disso'", recordou, antes de completar: "É muito difícil ser corinthiano e viver longe do Corinthians."
Separados por um bar? Que nada!
Tão logo a Libertadores daquele ano começou para o Corinthians, em meados de fevereiro, Gabriel arrumou emprego em um bar. Um problema um tanto quanto óbvio já surgiu de cara: como conciliar a rotina de trabalho noturno com os jogos do Timão às quartas-feiras?
"Tinha sempre de inventar uma história, uma desculpa para faltar. Até que um dia cheguei na Dulce, a gerente, e dei a real nela: 'É para ir ao jogo do Corinthians'. Aí ela deixou eu ir mais cedo para o bar, fazer os esquemas para abrir e depois do jogo voltava para o bar para continuar trabalhando. E assim foi indo até as finais..."
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Com o Corinthians devidamente classificado para a decisão contra o Boca Juniors, Gabriel não pensou duas vezes antes de reservar uma vaga na caravana da Camisa 12 para ir de ônibus a Buenos Aires assistir ao jogo de ida na Bombonera. E foi aí que a gerente do bar onde trabalhava se tornou uma espécie de obstáculo.
"Cheguei para ela e falei: 'Dulce, existe alguma maneira de adiantar uns dias das férias?'. Ela já tinha entendido que era para o jogo e me explicou que era complicado porque outras pessoas do bar iriam querer o mesmo privilégio. Só que eu já tinha reservado meu lugar na caravana, então já comecei a pensar em dar fuga, inventar doença, sei lá."
O medo de perder o emprego, porém, falou mais alto, e Gabriel cancelou a reserva com a torcida organizada. No domingo 24 de junho, o corinthiano assistiu ao clássico contra o Palmeiras, com direito ao primeiro gol de um tal de Romarinho com a camisa alvinegra, pela televisão do bar, onde estava trabalhando naquele dia. Estranhamente cabisbaixo em meio à vitória do Timão no Dérbi, ele percebeu a gerente se aproximando:
"Eu estava com a maior cara de coitado, e a Dulce chegou para mim e perguntou o quão importante o Corinthians era na minha vida. Assim, do nada. '100%', eu respondi. Ela me perguntou quantas vezes o Corinthians havia me decepcionado. 'Várias', respondi. E aí ela questionou se eu nunca havia abandonado o Corinthians por causa dessas decepções. E eu expliquei que a decepção dura no pós-jogo, você vai para casa, dorme e acorda no outro dia de manhã mais corinthiano ainda."
E assim Gabriel tocou o coração de Dulce.
"Ela olhou para minha cara e falou: 'Eu ocupo seu lugar no caixa. Cuido para você. Vai para esse jogo se não você vai ter um treco e morrer'. No mesmo minuto liguei lá na sede da Camisa 12 e reservei a viagem de novo e fui para Buenos Aires. Aí fui de ônibus e voltei de avião, a pedido da minha chefe, para conseguir trabalhar no dia seguinte."
Gabriel e os amigos da uniformizada foram à Bombonera, assistiram ao vivo e em cores ao histórico (e segundo) gol de Romarinho pelo Corinthians e passaram a madrugada festejando pelas ruas de Buenos Aires. No dia seguinte, ele foi ao aeroporto e chegou a tempo de trabalhar em sua volta a São Paulo. Volta essa que ainda não era definitiva. Ainda...
Frustração japonesa se tornou 'fico' no Brasil
O fim daquela Libertadores todos os corinthianos já conhecem. E como bem podem ter percebido, casa perfeitamente com a premonição que Gabriel afirma ter tido.
"O Corinthians foi campeão da Libertadores e eu tinha data marcada para voltar a Barcelona. Meu, mas o Corinthians estava classificado para o Mundial. Pensei: 'Quer saber? Vou é juntar dinheiro para ir ao Japão. Peguei pesado no trabalho para juntar dinheiro, perdi a passagem de volta e no fim acabei não voltando mais para a Espanha", discorreu.
Ainda pagando a viagem de Barcelona para São Paulo, comprada lá no início do ano, nem mesmo uma rotina de horas extras no bar da Dulce possibilitou a realização do sonho de ir ao Japão. O louco corinthiano desta vez tomou uma sã decisão: pegou o dinheiro que conseguira juntar e investiu no negócio de seus sonhos, uma loja de produtos veganos.
"Até hoje não consegui me estabilizar, cinco anos de altos e baixos. Cada dia é um dia. A nossa economia não é estabilizada, então a gente fica nisso, investindo, insistindo, sonhando para tudo dar certo. É difícil para caramba, mas é prazeroso, trabalho com algo que eu gosto, sou vegano há 24 anos, sempre trabalhei nesses restaurantes", argumentou.
Então calma lá! Você chegou até aqui e deve estar se indagando: o corinthiano que estava com a vida feita em Barcelona está há cinco anos passando por perrengues e incertezas no Brasil? Será que não se arrependeu da loucura feita pelo Timão?
"A princípio foi difícil. Voltar para o Brasil, mesma situação de sempre, não encontrar trabalho, passar perrengue... Estava tranquilo, vida estável, não faltava dinheiro, não faltava nada... Mas é aquilo. Lá no começo de 2012, em Barcelona, pensei: 'Meu, e se o Corinthians realmente for campeão da Libertadores e eu não estiver lá? Eu nunca vou me perdoar por isso'."
Perdão? Não há de quê, Gabriel!
Sua vez
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