Que mude a mentalidade e não o treinador
Opinião de Mateus Pinheiro
10 mil visualizações 100 comentários Comunicar erro
Carille, como qualquer ser humano, tem suas qualidades e defeitos. Como técnico de futebol profissional, tem muito mais das primeiras do que dos segundos. Ao expor essa opinião após uma eliminação tão traumática e com muito da culpa sendo do próprio comandante, a crítica comum será a do “passa pano”. Como se defender a manutenção do trabalho de um treinador campeão fosse passar pano. Houve quem chamou os defensores de Tite no início de 2011 de “passa pano”, não é mesmo?
Bom, razoavelmente é necessário avaliar os prós e contras do trabalho do treinador e o que o mercado poderia oferecer antes de pedir a cabeça de um campeão, como é Fábio Carille. Nessa análise, pode se ter certeza que a arrogância, teimosia e limitação tática vão ser abordadas. Afinal, você pode não gostar do que faz o treinador de sua equipe sem desejar, jogo após jogo, que ele seja demitido.
LIMITAÇÃO TÁTICA DE CARILLE X LIMITAÇÃO TÉCNICA DO TIME
O começo de conversa se dá em 2017, quando o treinador recebeu um time sem participar da montagem do elenco, e sem experiência nenhuma, encantou a crítica do esporte. Não encantou em nenhum momento pelo futebol bonito, vistoso ou ofensivo, mas sim por consistência e solidez como poucos já haviam demonstrado.
Sem base alguma, já que recebia em suas mãos remanescentes da pior leva do Corinthians na década, que foi o time de 2016, conseguiu montar um time cascudo, campeão. Isso tudo através de um 4-2-3-1 clássico, com centroavante matador, ponta direito marcador e meio-campistas criativos. O apoio do lateral e a segurança da defesa foram pontos cruciais para o sucesso.
Afinal, o que isso importa para o time de hoje? É necessário para entender como o Carille se limitou, infelizmente, a um sistema que muda muito pouco independente de qualquer mexida no time.
Nesse escrete, em 2019, já se testou todos os centroavantes do elenco sozinhos, cada qual com sua peculiaridade. Love já atuou aberto – erroneamente – e todos acabaram atuando juntos em certos momentos específicos de um jogo ou outro. De todas opções, o 4-4-2 que se formou ontem, apesar de não ser o ideal para todas as partidas, pareceu o melhor com Love e Boselli na frente.
Aí, que a relação entre a limitação técnica do time e a tática de Carille se torna prejudicial. O elenco não é bom, sendo no máximo, regular. As opções são poucas e titulares, como Danilo Avelar e Manoel, não tem a qualidade e regularidade suficientes para atuar no Corinthians.
Avelar é citado pois deixa claro, jogo após jogo, que desequilibra o time. Não consegue marcar e não passa do meio do campo em lances que não sejam de bolas paradas. Em caso de jogos ruins de Fagner, como foi nos dois da Sul-Americana, o time perde completamente o apoio da lateral.
O time precisa ser melhor, com mais contratações pontuais para que se cobre resultados maiores aindas. Mas Carille precisa, também, de maneira urgente, desenvolver alternativas ao seu sistema de jogo para que as vitórias parem de depender de acasos e consigam voltar a serem conquistadas com trabalho em campo. Os melhores jogadores do elenco precisam ser usados.
TEIMOSIA, ARROGÂNCIA E SOBERBA
Não conheço Carille para divagar sobre sua personalidade como pessoa no âmbito de vida. Acredito até, que seja muito humilde. Acontece, que, depois da temporada de 2017, criou tamanha desavença com a imprensa e a crítica comum que seu comportamento passou a ser arrogante e prepotente, no sentido de “vou mostrar a todos que estou certo”.
Todos precisam ter convicções. Isso não é, nem de longe, o maior problema. O que é prejudicial é tratar suas convicções como dogmas. Isso reflete diretamente no comportamento do time. Transparece crer estar sempre certo, e assim, não precisa nunca mudar nada.
Certas cobranças da torcida e da imprensa – não todas, com certeza não todas – são passíveis de serem ouvidas e analisadas. Ter mais de uma escalação para atuar contra times que se defendem muito e times que te agridem muito é necessário.
É completamente razoável acreditar que, em casa, contra o CSA, o time possa entrar com apenas um volante de ofício, sendo esse um jogador com saída de bola como Gabriel, Urso ou Jesus, e trazer um meio-campista para compor essa ligação. E nesses jogos, escalar Love e Boselli juntos. Até contar com a entrada de Gustavo caso haja a necessidade. E no mesmo sentido, aceitar que o time precise de Ralf para jogar contra Flamengo, Palmeiras, Santos.
Não tem problema ser reativo. O defeito é ser reativo sempre pelo simples fato de não ter outra variação de jogo. Se seu elenco treina apenas um modo de jogar, é assim que ele vai jogar, e quando não estiverem inspirados, não vão render.
O treinador não tem que mudar. Mas, sua mentalidade precisa e de maneira urgente. Carille, com dois anos e meio como técnico tem 4 títulos – esses conquistados após 174 jogos, 84 vitórias, 53 empates e 37 derrotas. O mata-mata desta semana, tão prejudicial, é aquele no qual Carille saiu vitorioso em 23 das 27 vezes que disputou.
Agora, quem pede sua cabeça é o mesmo que analisa o futebol europeu e profere, com inveja, os dizeres: "Lá, os treinadores tem tempo para trabalhar" ?
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
Avalie esta coluna
Veja mais posts do Mateus Pinheiro
- Oya projeta evolução no Sub-23 e promete títulos no Corinthians: 'Vamos ser uma equipe vitoriosa'
- Claudinho, Sub-23, planejamento e paciência: o que têm a ver?
- O Corinthians tem que usar um time sub-23 no Paulistão 2021. Confira o elenco!
- Corinthians precisa de três zagueiros e explicamos por quê
- Patrocínio do BMG tinha potencial de ser o maior do país, mas se perdeu na bagunça do Corinthians
- Cogitar volta do futebol no Brasil é loucura