Torcedora agredida no Pacaembu e a reação chauvinista de parte da Fiel
Opinião de Ana Paula Araújo
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No último sábado, uma torcedora foi agredida durante o Dérbi contra o Palmeiras, no Pacaembu. Não bastasse a violência, as reações que cercaram o fato também me deixaram, digamos, consternada.
Abaixo o comentário mais curtido na nota que o Meu Timão soltou sobre o ocorrido.
Pasmem, 539 leitores aqui do site concordam com essa opinião. Isso reflete bem o pesamento da sociedade e a mentalidade deturpada de quem acha justificativa para qualquer tipo de violência.
Dos mesmos criadores de "pediu para ser estuprada" agora o "pediu para ser agredida"
Se a menina saiu por aí sozinha, vestindo trajes "inadequados", coitada, mas vacilou, né? Pediu para alguém violar seu corpo. Quem sabe ela até não queria? Afinal, tentou fazer doce dizendo não. Se ficasse em casa fazendo trabalhos domésticos, estaria segura. Na igreja então, nem se fala. Onde já se viu alguém ser estuprado em casa, no trabalho, na igreja? Quem faria isso? O pai, irmão, padrasto, tio, vizinho?
O caso é igual para o negro que se acha no direito de frequentar "lugar de branco". Pediu para sofrer racismo. O gay que não age de "forma normal" queria ser alvo de preconceito.
Agora a menina que foi ver o jogo pediu para tomar uma porrada, na verdade, até mereceu!
Geralmente, quando não se é a vítima, é fácil buscar justificativas e relativizar os fatos. Alimentar discussões com comentários banais e tentar encontrar uma razão para um ato violento não é opinião, é cumplicidade.
A implementação de torcida única como atestado de incompetência do Estado
Desde 2016, os clássicos em São Paulo passaram a ter torcida única. O objetivo é evitar confrontos entre torcedores rivais.
A medida fere o direito de ir e vir e só atesta o quanto o poder público é falho ao punir o cidadão de bem por conta de atos de um grupo específico. É o reflexo de um país em que o bandido anda solto, enquanto nós, honestos, precisamos ficar presos atrás de muros altos, janelas gradeadas e ainda assim, correndo risco.
A impunidade é um dos maiores problemas do Brasil.
Dados do Segundo Batalhão de Choque da PM - três anos após a implementação - mostram redução de confrontos em dias de clássicos, mas também queda no efetivo policial nesse período. De toda forma, mortes continuam acontecendo em momentos aleatórios usando futebol como premissa. Os enfrentamentos são realidade, mas de forma dispersa e não inflam as estatísticas. É uma maneira de tapar o sol com a peneira.
Quando você é impedido de ir a um clássico ou frequentar qualquer evento público, você está sofrendo as consequências de atos imorais de uma minoria. Até quando vamos viver alterando nossos hábitos por causa de gente mal-intencionada? Vivemos presos e limitados e ainda assim fingimos que somos livres. Que liberdade é essa?
Enquanto existir quem ainda encontre justificativa para violência e que ache correto culpar as vítimas, vamos todos voltar, dia após dia, para nossas celas particulares chamadas utopicamente de lares. O Estado ficará do jeito que está e nada, nunca, vai realmente mudar. Torcida única é a rendição da sociedade ante a minoria de bandidos trajados de torcedores.
Atacar a consequência e não a causa, não é solução. Mas isso fica como tema para uma outra coluna, quem sabe.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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