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Sobre ser Corinthiano
Rafael Castilho

Rafael Castilho é sociólogo, especializado em Política e Relações Internacionais e coordenador do NECO - Núcleo de Estudos do Corinthians. Ele está no Twitter como @Rafael_Castilho.

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Sobre ser Corinthiano

Coluna do Rafael Castilho

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Sobre ser Corinthiano

Essa molecadinha da foto é corinthiana. Eu sou corinthiano. Somos todos corinthianos

Foto: Danilo Fernandes / Meu Timão

Desastrosa a fala de André Luiz Oliveira, diretor administrativo do Sport Club Corinthians Paulista. Disse ele que quem não é sócio do clube, correntista do BMG e Fiel Torcedor, nem deve ser considerado corinthiano.

Em qualquer tempo e circunstância a frase poderia ser considerada absolutamente ofensiva. Nesses dias tristes que estamos vivendo, seja pela terrível crise financeira que o clube enfrenta, seja pela pior crise da história recente provocada pela Covid-19, essa frase ganha contornos cruéis, arrogantes e sarcásticos.

Se não bastasse o sentimento de humilhação e vergonha que o torcedor experimenta em seu dia a dia, com o clube sendo exposto de maneira vexatória com processos, cobranças, protestos, com o nome sujo na praça, ainda é obrigado a ouvir uma frase como essa.

Sim, o torcedor sente-se sim humilhado com essa situação financeira e sente como se fosse com seu próprio nome ou seu próprio CPF. Pois é, com carteirinha ou não, o corinthiano sempre sentiu esse clube como seu. Quando o Corinthians ganha, ele ganha junto. Quando perde, seu torcedor perde junto. Quando escândalos acontecem, é como se fosse com nossa família, com nosso sobrenome.

Senhor André Luiz Oliveira, o senhor não sabe que, independentemente de qualquer cartão de plástico, carregamos o Corinthians na nossa pele? Não sabia que por onde andamos as pessoas nos chamam de Corinthians? “Ei, Corinthians, saiu pão quente”. “Corinthians, vai rolar uma carninha em casa, cola lá”. “Fala, Coringão, tem como fortalecer lá em casa pra me ajudar com a mudança”. “Corinthians, vou te falar a verdade, você é meu irmão de coração! ”. “Ah Corinthians, nosso lance é muito louco, você é o amor da minha vida, vamos nos casar”.

É assim que funciona. Não precisa de carteirinha, não precisa de porra nenhuma! Sabe por quê? Vou te falar, a nossa associação com o Corinthians vem da nossa alma! O Coringão tá dentro da gente, e a gente tá dentro do Corinthians. Somos uma fusão. Uma confusão também. Presta atenção, mesmo com seu cargo e seu tempo vivido nas estruturas do Corinthians, talvez o senhor não tenha entendido: não existe “história do Corinthians” e “história da torcida do Corinthians”. A história do Corinthians é a história de sua torcida. O Corinthians só existe em função disso. Nasceu para dar vez e voz ao nosso povo. Para nos representar. O Corinthians é uma extensão de nós mesmos numa experiência extraordinária e num projeto coletivo.

Veja, Seu André. O senhor bem sabe que nem todos tiveram a felicidade de ter o sucesso financeiro que o senhor alcançou. Estamos vivendo uma crise nunca antes vista. As pessoas estão perdendo seus empregos, vendo suas empresas e seus negócios ruírem. O esforço de uma vida toda indo pelo ralo. Outros irmãos corinthianos estão perdendo suas casas. É só olhar para as ruas. Famílias estão nesse momento procurando abrigo embaixo de algum viaduto. E muitos tentam se inspirar nas grandes viradas do Corinthians. Nas nossas histórias de superação. Dos dias em que vencemos mesmo com o time mais fraco. Com jogadores a menos. Em todas as vezes em que o Corinthians deu a volta por cima.

E esse sentimento vem do coração. A gente dá de graça. O que vale é o que a gente tem por dentro e para isso não importa se a camisa é oficial ou se ela é rabiscada com carvão. Não importa se estamos no camarote luxuoso da Arena, assistindo pay per view, ou ouvindo o jogo num radinho de pilha, no meio do plantão, na guarita do prédio, numa cama de hospital, no meio do busão lotado.

Com dinheiro ou sem dinheiro pra ter esse monte de cartões, nós somos a parte que vive para o Corinthians, não essa turma que vive do Corinthians, tá entendendo?

E digo mais, é sim um grande absurdo esse número irrisório que temos de associados. O Corinthiano gostaria sim de participar mais ativamente da vida política de seu clube, isso seria um dever, inclusive. Porém, o curral eleitoral que se tornou o Parque São Jorge ocorre, em parte, pela falta de capacidade de encontrar novas maneiras e alternativas para que o Corinthiano possa se associar e participar mais ativamente.

Qual benefício, além do direito de votar e ser votado e o acesso às deliciosas alamedas do Parque São Jorge, tem um associado? Por que ele precisa de duas carteirinhas, uma para o Parque São Jorge e outra para o estádio? Não seria melhor oferecer a CIDADANIA CORINTHIANA, conferindo ao associado os benefícios do Fiel Torcedor, possibilitando que o torcedor escolha ser sócio e perceba que não poderia haver nada mais glorioso em sua vida.

Será que a política do clube é inspiradora, para que os corinthianos sintam-se atraídos a contribuir e ajudar o Corinthians a crescer? Será que muitos torcedores não se sentem absolutamente desmotivados, quando não com verdadeiro asco com tudo que envolve a política do clube? Será que os preços são acessíveis para atender a grande massa que poderia colaborar, mas luta com muita dificuldade pelo próprio sustento?

Nada pode ofender mais um corinthiano do que ouvir alguém dizer que ele não é corinthiano. Isso é um soco na cara. Dá uma revolta danada. Remete às memórias dos nossos antepassados, faz lembrar das noites frias de chuva em que acompanhamos o Corinthians, dos nossos pais nos carregando no colo e nos jogando pro alto na hora de um gol, do dinheiro contado a semana inteira pra conseguir pagar um ingresso no Tobogã do Pacaembu, das vezes que nossa casa foi enfeitada com balões alvinegros, ou com bandeirinhas pra saudar o Coringão do nosso coração. Do bolo de fubá que minha mãe me fez pra comemorar o gol do Sócrates em 83. Da bandeira do Corinthians que ostentamos orgulhosamente na janela de casa. Do torcedor que vive ao lado do Estádio de Itaquera, mas nunca conseguiu entrar na parte de dentro, pois o dinheirinho nunca alcançou, ou porque nem internet ele tem pra fazer o tal cartão do Fiel Torcedor ou desse banco estranho.

Ser sócio do Corinthians é sim uma grande honra. E o associado na hora de votar deveria refletir sobre o privilégio que ele tem. Deve respirar fundo e saber que carrega uma responsabilidade. Deve representar os milhões de corinthianos que dão a vida por esse clube. Deve votar com sua consciência livre, pensando no Corinthians e na sua gente!
As coisas precisam mudar. Esse tipo de coisa não pode mais acontecer.

Vai Corinthians!

Veja mais em: Diretoria do Corinthians, Parque São Jorge e Torcida do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Rafael Castilho é sociólogo, especializado em Política e Relações Internacionais e coordenador do NECO - Núcleo de Estudos do Corinthians. Ele está no Twitter como @Rafael_Castilho.

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