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Publicado no Fórum do Meu Timão em 20/04/2025 às 02:20
Por Angelo Ferreira
(@angelo.ferreira3)
Papo chato sobre tática, influência cultural e interpretação. Se não tiver paciência ou não seja algo que se interesse, não gaste tempo ofendendo, apenas siga a vida.
A vitória contra o Sport tirou um peso das costas dos jogadores e a corda do pescoço da direção. Três semanas atrás, com um título em cima do rival a expectativa de guinada na temporada era grande mas não se imaginava para este e rumo.
A saída do Ramon deixou um gosto agridoce em boa parte do elenco, em alguns membros da direção e alguns torcedores que entendem a odisseia que foi sair da zona de rebaixamento ao título paulista. Em um mundo onde o hate e a instilação de ódio predominam, sentir gratidão às vezes também é reconfortante.
Daí vem as reflexões. Por que o trabalho não deu certo? Por que o teto era tão baixo? Quem escolher agora? Para a primeira pergunta, o trabalho até certo ponto deu certo. A parte mais óbvia, foi evitado o rebaixamento mas não apenas no sentido de não cair, mas sim de forma categórica mostrando qualidade e força pra se manter dependendo apenas de si e possibilidade de aspirar por mais. O trabalho rendeu também frutos conseguindo resgatar Yuri Alberto e Matheus Bidu, também foi entregue um padrão de atuação ao time (algo que sinceramente desde 2022 não se tinha).
Isso nos leva a segunda questão, a do teto baixo. Bom, a comissão técnica da Família Díaz assim como qualquer outra tem suas raízes futebolísticas que a define. Ramon e Emiliano assim como a maioria dos técnicos sul americanos chegaram mexendo muito no anímico do grupo, visão criar autoestima e o que na psicologia costumam classificar como coesão grupal. Isso frente ao contexto do rebaixamento foi capaz de mobilizar o grupo, mas era impossível se imaginar sustentar a longo prazo, uma vez que a ameaça não existiria com o início de uma nova temporada (e a chegada de um estrangeiro europeu, totalmente fora dos padrões, também turbinou essa mobilização interna e externa, o que não dava pra repetir).
Um segundo ponto importante e cultural é a formação escolhida. De 2008 para cá, “pirâmide” da formação tática mudou bastante. Do 4-4-2 a revolução com o 4-3-3 do Barcelona, passando ao 4-1-4-1 e outras variações. Ramon como um argentino da velha guarda se valeu do antigo 4-4-2 (em losango), para conseguir valorizar o “enganche” Garro que é o que essa formação faz, abrir campo para que seus “carrilero” Carrillo conseguir ter um trabalho de área a área e aproximar mais seus atacantes do gol. Retrocedeu na história do futebol e contrariou o pragmatismo do futebol atual que é a de todos os times utilizarem a mesma formação e os jogos se transformarem num campo estéril de pouca emoção. Então somado ao barril de mobilização contra o rebaixamento, Ramon e Emiliano organizaram o time da forma como os argentinos mais estão acostumados e foram bem sucedidos.
Então vem o teto. A mobilização já não era a mesma com o início de uma nova temporada.Quando a peça que motivou toda essa formação em losango se ausentou (Rodrigo Garro) o esquema ruiu. Sem alguém que alimente dois jogadores terminais de finalização, qualquer time sente e é onde se percebe uma falta de flexibilidade na ideia. O jogo contra o Sport pode acender a dúvida em quem vier que sem Garro, talvez a melhor opção seja Memphis como referência com dois jogadores de velocidade pelos lados tentando alimentar o atacante. Memphis necessita de menos chances para ser efetivo e sem um criador como Rodrigo é necessário ser extremamente efetivo. Sou fã do Yuri, um artilheiro nato, mas opção tática do para o bem do time vem primeiro, e se na ausência do meia essa alternativa ser efetiva, não vejo problema. Isso favoreceria também no balanço defensivo, permitindo que o Memphis faça a primeira pressão na linha de zagueiros e percorra um espaço menor, ao contrário de quando joga aberto pela esquerda.
Na minha visão é bom ter um elenco qualificado para que esse tipo de escolha seja possível do que ter sempre só 11 para escalar e rezar para que funcione a cada rodada. Talvez essa leitura, como muitas outras, faltou aos Díaz de que abrir mão do camisa 9 fosse uma opção para que o 4-3-3 fosse sustentável.
Existiram outros equívocos também, como a escolha dos volantes, Matheuzinho como lateral construtor por dentro, em substituições que tornavam o time menos efetivo durante os jogos. Mas acho que nascem do mesmo lugar, da inflexibilidade de ideias. Que o próximo treinador tenham uma ideia mais ampla, que aproveite que a comissão que passou deixou um caminho pavimentado na forma como que Yuri e Memphis precisam estar próximos, potencializados pelo Garro, e que tenha uma visão mais ampla com repertório mais vasto nas escolhas e melhor leitura dos momentos para lançá-las.
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