Quando um jogador muda time e começa a jogar mal, sempre se levanta o questionamento se o mesmo está sendo aproveitado da melhor maneira. As vezes esse efeito acontece com o jogador que também faz parte do selecionado de seu pais e joga muito pelo clube mas decepciona na seleção. Para esses casos se criou o mito da posição ideal. É aquela fala de que o jogador, pra jogar bem, tem que jogar em determinado lugar do campo (dentro de suas funções originais, claro). No Corinthians, quem está sempre em evidência neste mito são jogadores como Araos, Vital, Pedrinho, Jadson e agora Sornoza e Ramiro.
Falemos primeiro do ex gremista. O volante fez sucesso no tricolor gaúcho jogando pelo lado direito, como um meia aberto. Como não tem rendido muita coisa como segundo volante, sua posição de origem, falasse a todo momento que ele não está na sua posição ideal.
O Sornoza nós já vimos jogar no Del Valle e no Fluminense. Em ambos, jogou centralizado. Já falou que prefere jogar centralizado. Como Carille o colocou para fazer o lado esquerdo e, às vezes, até como um terceiro homem de meio de campo, a torcida e muitos comentaristas esportivos procuram justificar o baixo rendimento com a desculpa da posição ideal.
Eu, particularmente, não acredito na 'posição ideal' para o jogador. Mas sim, para o jogador-esquema. O que torna times verdadeiras máquinas táticas são o perfeito encaixe entre esquema e características dos jogadores. Esquema tático não ganha jogo sozinho. O Corinthians de 2015 encantou o Brasil no 4-1-4-1. De lá para cá vimos Carille tentar implantar o esquema em 2017,2018 e 2019. Todas, até agora, fracassadas. E por uma razão: os jogadores não encaixam no esquema. O Manchester City a tempos monta esquadrões, agora o PSG, mas ambos não conseguem chegar sequer a final da Champions. Aqui o Flamengo gasta uma grana para sempre ficar no cheiro, e o Palmeiras para, no fim, ganhar campeonato fazendo chuveirinho na área. Um monte de bons jogadores juntos não dá time.
Onde quero chegar? Que mudar as peças no tabuleiro por si só não adianta. Tomemos alguns exemplos do Corinthians.
Será que o Ramiro só joga bem do lado direito ou o encaixe do time que proporcional o seu destaque? Primeiro que ninguém reagiria bem a alguém colocar um volante de meia, ainda mais um Ramiro que sequer agradava a torcida. Mas o Renato teve uma leitura tática muito boa. Ramiro no lado do campo geraria liberdade para dois jogadores em especial ao esquema: Arthur e Edílson. Os movimentos do volante/meia hora abriam espaço para Arthur armar o jogo, hora para Edílson descer e usar o corredor para cruzar ou chutar de fora da área. Arthur e Edílson foram embora, mas Maicon e Léo Moura tinham as mesmas características. Inclusiva com o Léo afunilando para se tornar um outro meia enquanto o Ramiro fechava a lateral. No esquema atual, Ramiro pouco acrescentaria. Fagner já tem liberdade para descer, independentemente dele. Sofreríamos pois não temos um volante armador como Arthur ou Maicon e Jadson/Sornoza não tem a mobilidade que o Luan tem. Ramiro seria facilmente encaixotado pela marcação e viveria de tocar para trás.
Um outro caso de uso que podemos usar é o Sornoza. Não é o fim do mundo jogar como meia aberto, mas o desenho do time tem que colaborar com isso. Para um meia do estilo do Sornoza jogar aberto com pé trocado, alguns elementos precisam existir: Um lateral veloz que ataque espaços passando nas suas costas, um meia central que hora arme, hora vire um segundo atacante (como fazia o Rodriguinho) e um volante que no mínimo encoste para tabelar. Atualmente o Sornoza fica perdido em campo. Jadson circula pelo meio e não infiltra, Avelar não passa (e quando passa erra) e o volante que fica do lado esquerdo é o Ralf, que é de contenção. Não tem como dar certo. Se você puxar da mente, essa foi até mesmo a receita para o Jadson funcionar como ponta armador, antes da idade pesar. Fagner passava na lateral, Elias tabelava e rompia as linhas, enquanto o R. Augusto se apresentava na frente quando a jogada vinha da direita.
Tudo depende da montagem do time. É possível para o mediano jogador estar em múltiplas posições no campo, desde que o time esteja montado pra isso.
Saudações corintianas!