Perdi meu pai na tarde de 14 junho último. Grande homem, batalhador, correto e também um corintiano daqueles de dar orgulho à Nação. Nordestino, que chegou a São Paulo de “mala e cuia”, há seis décadas com esposa e filhos, Sr. Daniel Severino dos Santos, ao mesmo tempo em que se dedicou à luta pela vida e sustento de família, com seu inseparável radinho de pilha colado ao ouvido tomou gosto pelo futebol com afeição, identificação e simpatia especial pelo Sport Club Corinthians Paulista.
Nascia, então, um dos corintianos mais fervorosos de já conheci. Com isso aprendi que uma pessoa não vira corintiana. Nasce, com a empatia e identidade pelo time que é o “campeão dos campeões”. A família, claro, seguiu o bom exemplo do patriarca. Entre os muitos ensinamentos, conselhos e orientações do Sr. Daniel para os filhos, não foi preciso pedir para torcer pelo Corinthians. Além de seguir o seu exemplo de vida como homem, bastou para nós aprender com sua emoção e vibração cada vez que o Timão entrava em campo.
Lembro-me da primeira vez que fomos ao estádio, na Fazendinha, anos 60 do século 20. Nosso Corinthians foi derrotado pelo Comercial de Ribeirão Preto por 2 x 1. Saímos da arquibancada, passeamos pelo clube e meu pai não proferiu uma palavra sequer sobre o jogo. Apenas fazia nossos gostos de crianças encantadas com as novidades e alegria em conhecer o “templo” da Nação corintiana.
Outro marco inesquecível para mim foi o segundo jogo da final do Paulistão, em 1977. Dia de semana, uma quarta-feira de compromisso com o trabalho, meu pai e eu assistimos ao jogo pela TV. Resultado: Corinthians campeão paulista. Minha mãe e meu irmão dormiam e nós, na sala, chorávamos diante da emoção e alegria em ver o nosso Timão quebrar o então jejum de títulos. Sem gritos, sem fogos, nossas lágrimas e sorrisos expressaram a comemoração daquele momento mágico
Por óbvio que muitas vezes e muitos anos comemoramos suas glórias e também lamentamos e choramos os tropeços do Timão. Mas aprendi, com meu pai e com o próprio Corinthians, que só ele é capaz de se fortalecer, ampliar torcida e despertar paixões como nenhum outro clube, mesmo nas derrotas. E assim tem sido, desde 1910.
Agora, por exemplo, há pouco mais de uma semana nosso Timão perdeu um grande torcedor (Sr Daniel Severino dos Santos -1928/2021), um anônimo, como milhões de outros que se foram e os que continuam carregando essa bandeira. Porém, o maior orgulho e satisfação em torcer para esse glorioso time é saber que ele cumpre à risca um dos lemas principais de sua torcida que é: “jogai por nós”. E esta camisa, cada vez que entrar em campo, para mim, jogará em memória do meu pai.
Este é o passaporte do Sr. Daniel, corinthiano nato!