Análise tática Corinthians x Ceará: um bom jogo, mas com muito a melhorar

O Corinthians jogou bem? No primeiro tempo sim, mas no segundo não...ainda assim, aparentemente houve evolução. Mas a pergunta que mais tenho recebido é: o time está mudando ou está sendo mais do mesmo? Bem, a resposta é bem ampla, e não é fácil de dar um simples resumo. Pois enquanto alguns jogadores chamaram a atenção, há perguntas que somente os mais observadores estão fazendo. E nesse resumo tático do jogo contra o Ceará, iremos ver algumas dessas questões.

Dessa vez, me preocupei em apenas apontar fatos específicos, sem me prender a momentos de jogo. Até porque realmente muitos detalhes chamaram a atenção. Uma delas é algo que muitos torcedores já admitiram: que o Ceará, se tivesse algum capricho, poderiam até ter empatado o jogo. Afinal, enfrentamos um dos melhores times do Campeonato Brasileiro, que vem fazendo uma boa campanha. Outro fator é a supervalorização de alguns jogadores em demérito de outros. Mas vamos aos detalhes.

POSICIONAMENTO EM CAMPO

O Corinthians jogou num 4-3-3 alternando para um 2-3-5 em ataque ou 3-1-5-1 – finalmente algo com 3 zagueiros! -, retendo Fábio Santos na defesa na maior parte do tempo e avançando Roni. Mas ainda assim o método de ataque permaneceu inalterado: como podem ver no mapa de calor, o Corinthians concentrou muitos passes pelos lados direito do campo. Porém, como o Ceará conseguia pressionar pelo meio – como mostra o mapa de posicionamento – o Corinthians se viu obrigado a manter o time sob marcação de média a baixa no segundo tempo. O mapa de passes mostrará isso.

Notem o espaço vazio que deixaram para o Messias (3). Isso permitiu as infiltrações de Roni e Adson.

FINALIZAÇÕES

Notem a parca quantidade de finalizações do Corinthians: 6 no total, com 3 a gol – os gols de Adson e Renato Augusto – e 3 pra fora, dados por Adson (que não aparece porque o chute foi bem alto!), Renato Augusto e Gil. Mas foi o Ceará quem teve bem mais chances de finalização. O detalhe aqui é que, se for olhar os outros jogos, verão que a quantidade que o Corinthians e o adversário finalizam é bem próxima ao que vimos hoje, comprovando que foi pelas falhas de posicionamento e quebras de linha de Ceará que resultou do que deu.

ATAQUE POSICIONAL

Ataques posicionais são ataques a partir de princípios adotados pelo time, como amplitude, profundidade, jogo entre linhas, triangulações e por aí vai. Os certos estão em azul, os errados estão em vermelho e o verde foi o que resultou em gol. Notem que os lances certos foram em dois fundamentos: ligação direta e passe profundo. Os dois gols de Adson marcados no mapa foi em um lançamento direto e de um lance de amplitude fora do comum de Fábio Santos. Agora os lances errados, em sua maioria, foram oriundos ou de lances de amplitude ou de ligação direta, provando que o Corinthians continua sendo extremamente previsível.

POSSE DE BOLA

A diferença aqui é que os lances de gol estão em amarelo. Observem que a maioria da posse de bola foram para trás, para a direita/esquerda e para os lados do campo (amplitude). Notem que a maioria das perdas de posse de bola foram adivinhem aonde? Pelos lados do campo e no nosso campo de defesa, explicando a marcação média pra alta do Ceará, principalmente no segundo tempo.

PASSES

A explicação sobre a posse de bola é a mesma nesse mapa aqui. Os passes errados do Corinthians foram em lugares muito específicos, e vocês podem ver pelas setas o quanto o Corinthians continua sendo conservador taticamente. O Corinthians deu 164 passes no campo defensivo, 355 no meio-campo e 147 no campo de ataque. Notem que eles concentraram a maior parte dos passes no lado direito com Gustavo Silva intercalando com Fagner e Gustavo SIlva, mas como sabemos, o maior perigo veio pelo lado esquerdo com Adson, que se infiltrava no meio.

Esses dois mapas de passes foram filtrados no meio campo , sendo que o de cima representam os passes dados pra frente e o de baixo representam os passes dados pra trás. Notem que o Corinthians deixou de criar perigos no campo de ataque para manter a posse de bola no meio e para manter a estratégia de ataque por amplitude, e isso é grave.

ANÁLISE DE JOGADORES

Giuliano entrou para atuar como uma mistura de volante box-to-box e regista, como evidencia o mapa de calor. Errando apenas 3 passes e dando uma assistência, com 3 duelos ganhos no chão de 7 e 2 duelos aéreos ganhos de 3, certamente foi um dos melhores em campo.

Passes

Notem que a maioria dos passes dados por ele foram próximos aos apontados pelo mapa de calor, em sua maioria pelos lados e indo para o lado direito para dar suporte ao Fagner e ao Gustavo Silva. Agora notem que Adson não teve esse luxo todo.

Posse de bola

Aqui foram filtrados pela origem dos passes, ou seja, quem passou para Giuliano. Notem que os maiores passadores foram da defesa em lançamentos diretos e do meio-campo em passes compridos. Nem preciso dizer o quanto isso é grave.

Adson é outro caso emblemático. Ele circulou boa parte do campo, mas como vimos antes, ele não teve o mesmo apoio por parte do Giuliano. Chama a atenção que os posicionamentos dele na área são claramente contra a ideologia do Sylvinho, como já é sabido, mas foi isso o que deu certo nesse jogo. Com 6 passes errados e uma assistência, 2 gols, um pra fora e um bloqueado, certamente foi o homem do jogo.

Passes

Notem que, para manter o estilo do Sylvinho, ele passou mais vezes a bola a partir do lado esquerdo, curto e para trás devido a marcação por indução.

Posse de bola

Agora notem as posses de bola recebidas que ele teve. Como Adson foi um dos meias que receberam pouco a bola, ele tentava circular por todo o campo para tentar receber essas bolas, principalmente no ataque – e como ele não tinha o aporte necessário nem de Giuliano e nem de Gabriel, ele acabava perdendo essas bolas por falta de apoio. Na boa parte dos lances perigosos, Roni era quem o apoiava, contando inclusive com uma assistência dele. Isso é devido a visão do treinador em jogar exclusivamente sob amplitude, o que faz com que o meio seja mais marcável, exatamente como vimos nos últimos jogos.

Agora, um nome que é pouco falado é o do Roni, porque ele foi um dos melhores em campo e imprescindível pra essa vitória. Com apenas 3 passes errados e 1 assistência pra gol, foi bastante preciso em muita coisa. Ele era a única ligação que Adson tinha. Foi essencial para impedir grandes perigos pelo nosso lado esquerdo.

O que mais me irrita nesse mapa de passes é o seguinte: com 28 minutos em campo, Renato Augusto recebeu proporcionalmente mais passes do que o Adson e até mesmo o Giuliano. Mais do que isso: dessa vez os passes com ele em campo foram concentrados tanto pelo meio quanto na esquerda, lugares esses que são desprestigiados quando Adson, Vitinho ou Mateus Vital estão jogando. E boa parte desses passes foram na frente.

CONCLUSÃO

Não gosto de ser um arauto da desgraça ou dar a impressão de perfeccionismo, mas é necessário evidenciar algumas políticas de jogo que não condizem com os conceitos básicos de um bom estilo de jogo. Apesar da grande vitória, algumas perguntas ficam: primeiro, porque só agora implantou um esquema de 3 zagueiros quando chega ao campo ofensivo, ainda que de forma altamente arriscada por armar a linha defensiva bem aberta? A desculpa de que não tinha jogadores pra isso é flagrantemente falsa: isso desde os tempos de Mancini ficou evidenciado, ainda mais quando Lázaro colocou Araos e ele teve um baita de um suporte, assim como Ramiro, o que mostra uma extrema parcialidade e demérito que me preocupa – e o Corinthians pode pagar caro por isso, principalmente se mantiver o esquema de ataque por amplitude, pois pode desmerecer Giuliano e Renato Augusto futuramente. Segundo, por que Adson, Mateus Vital, Vitinho, o próprio Roni e Araos não tiveram o mesmo aporte, em todos esses jogos, que Renato Augusto teve só com 28 minutos em campo? Proporcionalmente, eles possuem o mesmo nível de acerto que o Renato.

Essas perguntas são importantes que sejam ponderadas, pois podem ser importantes nos próximos, digamos, 4 jogos. Ter jogadores de qualidade nem sempre implica em manter o mesmo estilo de jogo. Mesmo que Roger Guedes venha, aí, mais do que nunca, será necessário abandonar a abordagem de ataque por amplitude, pois a supervalorização coletiva que haverá em cima dele fará que o Corinthians seja facilmente marcado, tal como acontece com Gustavo Silva. E isso sobrecarregará Giuliano e Renato Augusto.

Pois bem, o próximo jogo será contra o Athlético-PR, que apesar de vir de 3 derrotas, é um time complicado, muito incisivo em fazer marcação média pra alta e que gosta de explorar os buracos. Depois disso, enfrentaremos o limitadíssimo Grêmio, o Juventude e o Atlético-GO. Esses próximos jogos mostrarão muita coisa. Com o cargo ainda em jogo, Sylvinho terá que abrir mão de muita coisa. Adson mostrou que isso é possível, cabe ao técnico fazer a sua parte.

VAI, CORINTHIANS!