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Análise perfeita do Julio Gomes sobre Alexandre Pato! VALE A PENA LER

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Publicado no Fórum do Meu Timão em 24/10/2013 às 11:48
Por Guilherme Serezani (@shark.serezani)

Eu já corri muito atrás de Alexandre Pato. Na chegada dele ao Milan, trabalhava como correspondente da Band e cobria futebol por toda a Europa. Nossa, como ele deu trabalho… Foi dos jogadores mais difíceis de conseguir entrevistar. E aí, nas entrevistas, nunca saía nada demais. Nas vezes em que encontrei, achei Alexandre Pato meio… infantil. Meio bobo, se for escolher uma palavra mais pesada.

Não gosto muito desses julgamentos por momentos tão fugazes. São apenas os julgamentos que ficam para mim, as impressões que eu vou tirando das pessoas conforme vou conhecendo, vendo, ouvindo. Pato era um rapaz saindo da adolescência, afinal. Do interior do Brasil para uma cidade como Milão, um dos maiores clubes da Europa. Talvez eu fosse tão bobo quanto ele com a mesma idade.

Os anos se passaram e Pato chegou aqui ao Corinthians. Não entrevistei, não encontrei, não procurei Alexandre Pato. Tudo o que eu vejo e ouço é o mesmo que vocês veem e ouvem. E, admito, minhas impressões sobre ele não mudaram. Pato me dá a constante ideia de enorme talento desperdiçado, um jogador que poderia ter sido muito mais do que é e será se tivesse mais foco. Não chamarei de comprometimento. Não ter foco, não ter “noção”, digamos, é muito menos pior do que não ter comprometimento. E acusar alguém de falta de comprometimento é algo muito duro e grave, que requer conhecimento do caráter, do comportamento no dia a dia, etc.

Quando Pato estreou na seleção brasileira com um gol, era um jogo em Londres, o amigo Renato Ribeiro, da Globo, um dos grandes repórteres deste país, virou para mim na zona mista do Emirates e disse: “Julio, estamos ferrados. Apareceu o novo Ronaldo, vamos ter que cobrir cada minuto da vida desse cara”. E eu concordei. Concordei com ênfase.

Pato era um iluminado. E craque. Ou, ao menos, projeto promissor de craque. A chama foi se apagando. Muito mais do que a falta de futebol, essa falta de foco, chamarei assim, fez com que Pato se queimasse com Dunga na Olimpíada, ficando fora da Copa. Fez com que se queimasse com Felipão, certamente ficando fora da próxima Copa. E fez com que se queimasse com a torcida toda do Corinthians. E isso não é força de expressão.

O pênalti perdido em Porto Alegre foi a cereja do bolo. Os jogos estranhos, em que ele parecia aéreo, foram muitos ao longo do ano. Os gols, que também foram muitos, foram eclipsados pelos momentos de sumiço. Alguns segundos antes da cobrança na Arena Grêmio, eu brinquei em meu Twitter:

“O bom é que o Pato não tá nem aí”.

Profecia? Não. Apenas a imagem que eu tenho dele. Que possivelmente não seja a mais correta. Mas expressa a tal “falta de foco”. Tem que ser meio louco para fazer o que ele fez. Bater um pênalti decisivo de forma tão arriscada, contra um goleiro que é histórico em cobranças de pênaltis e com quem ele trabalhou por anos no Milan.

Esses caras com um parafuso a menos são os que se alternam entre bestas e bestiais. É muita coragem. Ou muita burrice. Ou as duas coisas. Quem não se importa na mesma medida de outras pessoas, pois se importa do seu jeito, não tem medo. Só que às vezes dá certo, às vezes, não.

Pato não faltou com respeito para com o Corinthians. Pato tomou uma decisão errada. Uma decisão de quem vive nesse mundo meio à parte, esse mundo da lua, essa falta de noção exata das coisas. Vive em um mundo que não entende que o outro lá, que vive em outro mundo (que também não é o meu) pode interpretar aquilo como uma falta de respeito e, consequentemente, um passe livre para enchê-lo de #$!@% da.

Simples. Se é para errar, melhor errar de outra forma. Mas Pato não pensava em errar. Pensava apenas na melhor maneira de acertar. Só que sem medir a consequência em caso de tropeço. Errou.

O cara errou um pênalti. Paciência. O clube que contratou, pagando milhões, que decida se é demitido, se fica, o que seja. Essa é a hora em que precisamos entender o verdadeiro significado da palavra profissionalismo. Corinthians, Pato e jornalistas: não pode faltar profissionalismo nessa hora.

Não temos que ser coniventes com “pressão”, #$!@% da, ameaças, etc. Nem a ele, muito menos a família. Tem que acabar com essa cultura equivocada, aceitar como justificativas algumas máximas do tipo “o futebol mexe com paixão”, “tem que entender o lado do torcedor” etc. Que xinguem no estádio, nada mais. Que se expressem na arquibancada, que é lugar de torcedor, e não no CT do clube ou na casa dos jogadores ou em aeroportos.

Eu só espero que alguns colegas de imprensa apaixonados não considerem “certo” e “merecido” o que eventualmente pode acontecer com Pato. É leviano falar “tem que cobrar o cara, mas sem violência”. Sabemos muito bem que muitos cérebros por aí vão entender somente a primeira parte da frase e ignorar a segunda. Nós, jornalistas, temos uma responsabilidade muito grande nas mãos. Em nossas canetas, teclados e microfones. Não podemos incitar a “pressão” que promete vir por aí, não podemos seguir achando que “é normal” todo esse tipo de absurdo que acontece no futebol. Não podemos nem mesmo dar voz a quem não tem que ter voz.

Analisando o quadro geral, acho que não haverá mais condições, pelo menos de forma imediata, de Pato seguir jogando pelo clube. Mas essa tem que ser uma decisão de quem controla o clube. E quem controla o clube, aliás, já passou da hora de não dar mais ouvidos para grupos organizados que se apossaram deste e de outros clubes.

A Alexandre Pato, desejo o melhor. Nunca é tarde para amadurecer, para compreender os outros mundos que fazem intersecção com esse que é só dele. Que tome decisões melhores no futuro. E nada mais.

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