“Oi. Eu sou o Chicão. O Chicão do Corinthians. Meu telefone tocou. Era 2007. Final de 2007. Era o Corinthians no outro lado da linha. Meu telefone tocou, o clube me fez uma proposta e eu aceitei. Eu não pensei duas vezes. Algumas pessoas disseram que eu estava louco. Tinha um grupo de times da Série A me procurando. Eu respondi que eu jogaria pelo Corinthians até na Serie C. Porque era meu sonho. Era o Corinthians. A voz do corintiano é maior do que qualquer divisão, situação, oposição. Meu telefone tocou. Me disseram que eu estava louco. E quer saber? Tinham razão. Eu virei mais um no bando deles em janeiro de 2008. Talvez o mais louco pelo Corinthians. Foi onde tudo começou. Meu pontapé de entrada no Parque São Jorge. Eu sou o Chicão. O Chicão do Corinthians. Eu peguei a troca de CT. Os gramados ruins da Série B. Os meninos da base dando o sangue com a gente. Eu trabalhei com grandes professores. Mano Menezes e Tite. Joguei com craques como Ronaldo e Roberto Carlos. Mas – apesar da qualidade imensa desses gênios – a cobrança de falta sempre foi tarefa minha. Minha casa – no começo – foi o Pacaembu. Subimos com título. Ganhamos Campeonato Paulista. Copa do Brasil. Mas faltava uma coisa. Não só para nós do elenco. Mas para a torcida do Corinthians. Faltava a Libertadores. Eu passei muitas dificuldades para chegar ao Corinthians. Sujei muito o uniforme, suei demais o meu corpo, dei meu sangue. No Mogi Mirim. Na Portuguesa Santista. No América. No Juventude. No Figueirense. Eu queria orgulhar minha família. Eu consegui. 2010. 2011. 2012. Eliminações. Pressão. O Tite ficou. O Tite foi nosso professor, nosso pai, nossa estrela. Nosso ponto de equilíbrio. 2012. Libertadores. Eu sou o Chicão. Que fazia dupla de zaga com o Leandro Castán. Que viu o Cássio se esticar e evitar o chute do Diego Souza. Que torceu quando o Paulinho subiu no último andar e tirou o Vasco do Pacaembu. Eu sou o Chicão. Que gritou em campo. Que ouviu você, corintiano, berrar na arquibancada. Na Argentina, antes do jogo contra o Boca, meu telefone não parou. Mais de 100 ligações. Meu avô Messias tinha falecido. Pensei: volto para São Paulo ou fico? Resolvi ficar. Para orgulhar meu avô. Ele queria que eu vencesse. Eu prometi: vamos ganhar e vou dedicar o título para o meu avô. Poucos souberam disso. Quatro de julho de 2012. Eu ouvi o grito da torcida quando a gente chegou no Pacaembu. Quando o ônibus estacionou no estádio. Quando fomos para o aquecimento. Quando o professor falou com o elenco. Quando nós subimos do vestiário para o campo. Eu ouvi o seu grito quando meu telefone tocou, em 2007. Quando nós subimos juntos. Eu ouvi o berro corintiano esperando ser outra vez o que você sempre foi. Ser campeão. Ser o Corinthians de sempre. Meu avô Messias subiu aquela escada comigo. Meu avô vestiu nosso uniforme. Ganhou com a gente. Dividiu cada bola comigo. Instruiu cada companheiro comigo. Me defendeu enquanto eu defendia o Corinthians. Era o mesmo grito. O mesmo hino. A mesma paixão. O Corinthians não é medido pela situação. É medido pelo tamanho da história. Pela altura do berro. Pelo amor da Fiel torcida. Eu sou o Chicão. O Chicão do Corinthians. O neto do Messias. Minha prova de amor foi a concentração em campo. A seriedade não só na final, contra o Boca Júniors. Mas diante de todos os adversários. Do mais fraco ao mais forte. Do mais rico ao mais pobre. Eu sou o Chicão. Eu quase fiz um gol de falta. Passou perto. Eu vi o Alex cruzar. O Jorge Henrique desviar. O Danilo passar de calcanhar. Emerson chutar com o peito do pé. Eu não só ouvi, mas eu também berrei com a torcida. Um grito de desabafo. De amor. Eu vi o zagueiro deles errar o passe. Eu vi o Sheik arrancar e tocar no canto do goleiro. A bola entrar lentamente. Eu sei que meu avô viu tudo que aconteceu naquela e em outras finais. Eu arranquei com todos os companheiros desde que meu telefone tocou. Eu disse sim. Era o Corinthians. Me chamaram de louco quando eu entrei no bando. Eu acertei em cheio. Eu sou o neto do Messias. O Chicão. Eu sou o Chicão do Corinthians. Eu sou o xerife da Fiel.”