Uma boa equipe é forjada no poder ofensivo-criativo com todos participando, sem demérito de jogadores e independente de qualquer esquema tático – isso deveria ser o básico de qualquer time. Hoje o Corinthians demonstrou que tem potencial pra tudo isso, com Vitinho surpreendendo o mais pessimista dos torcedores – Eduardo Bueno, o Peninha, diria ao torcedor: “e tu, na tua ignorância, não sabes que Vitinho é craque de bola, melhor que esses perna de pau!” (Eduardo Bueno é gremista, mas fiz questão de pegar o bordão dele e ainda afirmar que ele “veste a camisa errada!” (!)). Mas eu sou mais bonzinho do que o Peninha!

Brincadeiras à parte – gosto muito do trabalho dele como historiador –, Vitinho realmente provou nesse jogo que tem condições de ser titular, com funções bem interessantes para o time. Garanto que se Luan estivesse novamente de falso 9, o time renderia muito mais com ele, Vitinho, Gustavo Silva e Mateus Vital. Vamos ao jogo.

PRIMEIRO TEMPO

Depois de muita cobrança da torcida, Sylvinho resolveu colocar apenas um jovem de titular: Vitinho, um excelente meia-articulador que joga nas duas pontas e como meia-atacante, que é a sua posição de origem. O Corinthians jogou num 4-2-4-1 alternando para um 4-2-4 em ataque, e defensivamente era um 4-5-1.

Apesar do gol não validado do Gustavo Silva – com assistência do Vitinho –, o time começou bem ofensivo. Vitinho, Mateus Vital e Cantillo articulavam as jogadas; Vital e Vitinho trocavam de posições constantemente dependendo do objetivo. Aos 27 minutos, Sylvinho pediu para o Vitinho também inverter na direita...e ele estava totalmente livre pela direita quando Gustavo Silva fez um belo lance individual e chutou rasteiro na trave. Mas isso serviu para mostrar a polivalência de movimentação do Vitinho. Diferente dos outros jogos, o time estava mais compactado nos outros jogos, favorecendo e muito os meias.

Jô, porém, estava longe de jogar bem: claramente lento, com fortes dificuldades de locomoção, fazia bem a parede porém não acompanhava os meias rápidos.

O problema do time não conseguir chegar ao ataque se devia a exploração constante e exclusiva no Gustavo Silva e a sua consequente marcação previsível. Não à toa, o Corinthians sofria para atacar. Por mais que Vitinho fosse explorado pelo meio, a marcação por indução do Sport fazia com que o Corinthians se limitasse a um tipo de lance específico. Mas então, numa inversão primorosa do Matheus Vital para o Gustavo Silva, este cruza rasteiro para o gol contra do Iago Maidana – e tanto Gabriel quanto Jô estavam no lance.

O Corinthians concentrou muitos passes no meio-campo, mas gostei do fato de os passes serem bem divididos - apesar de Vitinho ter tido a oportunidade de passar apenas 17 vezes na bola, e os passes deveriam ser exploradas por ele se quisessem ser efetivos no ataque, uma vez que Vitinho é um meia-articulador. Vital, então, só teve a oportunidade de passar apenas 16 vezes.

O Corinthians finalizou muito, mas pouco preciso: 9 finalizações, sendo que nenhum no alvo, 5 fora, 4 bloqueados de alguma forma e 1 na trave. 1 foi na pequena área, 6 na marca do pênalti e 2 de fora da área.

SEGUNDO TEMPO

O segundo tempo começou com pressão do Sport. Mas após uma cobrança de escanteio, Jô finalmente fez um gol. E no lance seguinte, um passe errado da zaga leonina faz com que Vital tome a bola pelo meio e finaliza para o gol, e o goleiro quase tomou um frango – e essa sequência de lances certamente animou o torcedor que quer ver um time que brigue o tempo todo mesmo estando na frente.

Vitinho realmente fez um bom jogo. Num lance ofensivo aos 21 minutos, Jô puxou um ataque, tocando pra Vital, conseguindo um passe para Vitinho, tocando curto para Fábio Santos infiltrado, que não conseguiu tabelar em profundidade com Vitinho...e Fábio Santos me surpreendeu com a recomposição defensiva do contra-ataque realizado, com ele e Gil matando a jogada leonina. Noutro lance, Fábio Santo resolveu virar meia-atacante e construiu toda uma jogada com Vitinho e Gustavo Silva. Este cruzou pra Jô, com a bola batendo na perna dele e indo em direção à trave. Só por aí vocês conseguem perceber o poderio ofensivo-criativo do Vitinho.

Aos 30 minutos, Ramiro entraria no lugar do Gustavo Silva – e foi uma boa substituição, levando em conta o poder do Vitinho com alguém como Ramiro, que intercala bem os passes. No primeiro lance dele, Vital cruza e quase ele faz o gol de cabeça. Aos 33 ele estava posicionado na área – e só tinha um o marcando –, mas Vital não conseguiu cruzar devido ao lateral que cercou bem. Mas 36 minutos, o Sport diminuiu numa falha de Fagner em acompanhar o Trellez.

E então Sylvinho fez algo que a torcida detestou: apesar de ter colocado o centroavante Felipe Augusto, colocou Xavier e Roni, tirando Vitinho – uma clara tentativa de defender o time, uma vez que o Sport viria pra cima, e explorar os contra-ataques com a velocidade do Roni. Este teria uma oportunidade num contra-ataque após o cruzamento de Fagner, e no finalzinho, após um escanteio do Sport e sem goleiro – porque este foi na área – Ramiro dá um chute extremamente torto, com ele lamentando demais. E Roni estava livre, mas Ramiro não viu devido a concentração em chutar pelo fato do jogador do Sport estar próximo a ele e consequentemente haver o perigo da bola ser tomada.

OUTROS DETALHES

Apesar do número macabro de 666 passes do Corinthians (!), podemos ver que o Corinthians circulou muito pelo campo. Sport também, o jogo foi truncado no meio-campo, mas a marcação alta do Corinthians, firmemente cobrado pela torcida, foi aplicada e precisa.

Apesar de ter 78% dos passes, Vitinho foi muito útil na marcação em conjunto com Gustavo Silva, Mateus Vital e Cantillo. Perdeu muitas bolas devido a forte marcação do Sport, mas ele certamente jogou para merecer a titularidade. A movimentação em campo dele, como mostra o mapa de calor, é muito interessante – e ele, sendo um jogador veloz e preciso nos passes, certamente agrega muito ofensivamente. Talvez ele tenha ganhado a titularidade nesse jogo. Podem ter a certeza que, se ele tivesse como titular nos 2 últimos jogos, teria dado muito mais trabalho e poderíamos ter ganhado.

Cantillo acertou 9 bolas longas de 14 e errou 12 passes de 70. Apesar de ter errado passes que não costuma errar, ainda assim ele foi extremamente preciso e perigoso.

Me agradou e muito a transição de bola entre os jogadores. Quando a bola é rodada dessa forma, a tendência é ser agregável ofensivamente. Mas ainda é necessário melhorar muito – não a tática, porque é assim que se deve jogar, mas explorar tecnicamente os jogadores certos.

CONCLUSÃO

Foi uma boa vitória, mas o time está longe de convencer o torcedor, principalmente devido as substituições erradas do Sylvinho. Manter a ofensividade deveria ser a meta, e pra isso, Adson e Gabriel Pereira também deveriam entrar no time. E se tivesse que colocar um volante, era pra ser Luís Mandaca devido ao seu poder de passe.

Domingo teremos um jogo complicado com o Fluminense, que exigirá todo um poderio ofensivo, mais do que Sylvinho pode imaginar – e sim, ouso afirmar que Sylvinho não consiga pressupor isso. Porque o Fluminense tem o mesmo estilo do Bragantino, porém com as fraquezas do Sport – mas foi um time que venceu o Santos e o próprio Red Bull. Explorará e muito Fábio Santos com Caio Paulista e Calegari. O segredo pra vencer o Fluminense é marcação alta e aproveitar das falhas do mano-à-mano deles – mas será que isso será explorado por Sylvinho?

VAI, CORINTHIANS!