Roberto de Andrade nunca cumpriu promessa de contenção de gastos feita logo que se elegeu presidente: sua gestão elevou despesas, alongou dívidas e torrou receitas.
Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, tem cumprido o roteiro comum entre cartolas do futebol brasileiro. Logo que venceu a eleição, em 7 de fevereiro de 2015, àquela altura pressionado para aceitar a alta demanda salarial do peruano Paolo Guerrero, prometeu austeridade. 'Vamos trabalhar internamente, fazendo diminuições de despesas e aumentando receitas. Não tem segredo', disse o dirigente na ocasião. O discurso foi contradito pelas práticas de Andrade nos dois anos a seguir. O Corinthians não reduziu despesas nem aumentou receitas, muito menos aproveitou um ano de bonança financeira como o de 2016 para aliviar seu endividamento.
As finanças do Corinthians em 2016 (Foto: ÉPOCA)
Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, tem cumprido o roteiro comum entre cartolas do futebol brasileiro. Logo que venceu a eleição, em 7 de fevereiro de 2015, àquela altura pressionado para aceitar a alta demanda salarial do peruano Paolo Guerrero, prometeu austeridade. 'Vamos trabalhar internamente, fazendo diminuições de despesas e aumentando receitas. Não tem segredo', disse o dirigente na ocasião. O discurso foi contradito pelas práticas de Andrade nos dois anos a seguir. O Corinthians não reduziu despesas nem aumentou receitas, muito menos aproveitou um ano de bonança financeira como o de 2016 para aliviar seu endividamento.
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A maior parte dos problemas de Andrade foi deixada para trás pelos antecessores, Andrés Sanchez e Mário Gobbi. O maior deles, a Arena Corinthians. O impacto negativo que o estádio gerou nas contas do clube em 2016 foi de R$ 73 milhões, valor que se divide em duas partes. De um lado, o time deixou de arrecadar R$ 48 milhões em bilheterias e outras receitas que foram integralmente dedicadas às dívidas da construção da Arena. É uma receita que adversários, como Palmeiras e Flamengo, têm. Por outro lado, o Corinthians ainda precisou tirar R$ 25 milhões de seu caixa e mandar para a conta bancária do estádio para sanar despesas que estavam descobertas.
Outro abacaxi herdado pelo atual presidente foi o elenco. Os atletas que formaram o time de 2015, campeão brasileiro, tinham direitos econômicos demais nas mãos de empresários. O resultado disso foi perverso. Quando vendeu metade do time titular para equipes estrangeiras no início de 2016, boa parte da China, o Corinthians negociou R$ 144 milhões. Mas praticamente a metade disso, R$ 70 milhões, foi parar nos bolsos de terceiros. O clube, de fato, recebeu só R$ 74 milhões. A bomba estourou em Andrade, mas foram Sanchez e Gobbi, com a prática de ceder percentuais de direitos econômicos a empresários para levantar dinheiro, que a prepararam. Os erros dos antecessores não inocentam, no entanto, o atual mandatário corintiano. Andrade teve uma oportunidade enorme em 2016 de colocar as contas do clube no eixo. O Corinthians recebeu R$ 81 milhões da TV Globo a título de luvas por um novo contrato de direitos de transmissão, válido de 2019 a 2024. Isso, mais os R$ 74 milhões arrecadados com o desmonte do time hexacampeão, poderia ter sido usado para aliviar o endividamento. Não aconteceu. O cartola – ameaçado por um processo de impeachment motivado por fraudes em documentos relativos ao estádio – tomou a decisão de aumentar os investimentos em aquisições de atletas. Uma escolha que, como fizeram Sanchez e Gobbi, Andrade deixará para o futuro presidente arcar com as consequências.
A dívida do Corinthians se manteve inalterada em números brutos: continuou nos mesmos R$ 362 milhões que já estava em 2015. O que mudou foi o perfil dela. O endividamento de curto prazo, que precisa ser quitado em até um ano, foi reduzido de 45% para 38%. Isso indica que Andrade usou o dinheiro excedente não para reduzir, mas para esticar o pagamento das dívidas do time. De um outro ponto de vista, ao mesmo tempo que a dívida bancária alvinegra foi reduzida de 23% para 14%, a dívida trabalhista, resultado de calotes em jogadores que vão à Justiça do Trabalho para cobrar seus vencimentos atrasados, aumentou de 8% para 13%. O Corinthians hoje deve menos a bancos, mas deve mais a atletas, ambas dívidas igualmente perigosas porque comprometem facilmente receitas.
As dívidas não diminuíram, mas as receitas aumentaram muito, de R$ 264 milhões para R$ 415 milhões, todo o reajuste motivado pelo novo acordo de TV já mencionado. Onde foi parar todo esse dinheiro, então? Uma parte dele aumentou salários e despesas administrativas do clube, apesar de o elenco corintiano nitidamente não ter a mesma qualidade técnica do que foi campeão nacional em 2015. Outra parte, já citada, foi drenada pela Arena Corinthians. E uma outra parte foi para aquisições. O Corinthians gastou R$ 53 milhões em investimentos de atletas, muito mais do que os R$ 9 milhões que tinha despendido em 2015 na mesma finalidade.
Os dados revelam que aquele discurso de austeridade da eleição, em fevereiro de 2015, ficou para trás sem ter sido cumprido por um ano sequer. Nas duas temporadas de Andrade à frente do clube, o Corinthians elevou despesas, comprometeu receitas com TV de um período distante de seu mandato e apenas alongou dívidas, que se mantiveram do mesmo tamanho que já estavam. O dinheiro excedente já acabou e, para 2017, o orçamento corintiano prevê novo prejuízo de R$ 36 milhões. Mais atletas serão vendidos. Novos empréstimos bancários serão tomados. Assim Andrade prepara a seu sucessor um terreno tão ruim quanto o que herdou de Sanchez.
Fonte: http://epoca.globo.com/esporte/epoca-esporte-clube/noticia/2017/05/financas-do-corinthians-chance-de-aliviar-dividas-foi-chutada-para-escanteio.html As finanças do Corinthians: a chance de aliviar as dívidas foi chutada para escanteio - ÉPOCA |... epoca.globo.com