'Por que Tite deveria ter dito não', por Fernando Martinho
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Por Meu Timão
O Corinthians já superou a saída de Tite e contratou um novo treinador que conquistou sua primeira vitória neste sábado. Ainda assim, um texto bem elaborado de Fernando Martinho, colunista do Doentes por Futebol, faz refletir se, para o bem do futebol, o treinador não deveria ter se posicionado contra a CBF.
Por que Tite deveria ter dito não
"A começar por ter assinado — com razão — uma petição para a renúncia do mandatário da CBF, Marco Polo Del Neto. Em seguida, o principal dos motivos: ele é o melhor treinador que o Brasil produziu nos últimos tempos. Com larga vantagem. Não precisa compará-lo a Dunga. É covardia até. Como diria Mauro Cezar Pereira, Dunga carecia de preparo e capacidade intelectual para estar à frente da Seleção Brasileira, sobretudo, após um 7 a 1.
Voltando a Tite. Se ele era o melhor, então por que recusar a coroação? Um grande exemplo de fidelidade a princípios e valores que Tite poderia ter seguido os passos: Carlos Bianchi. O lendário treinador argentino dominou o futebol sul-americano como ninguém na história. Ganhou as Libertadores de 1994, 2000, 2001 e 2003 — foi vice em 2004 —, e as Copas Intercontinentais de 94, 2000 e 2003. Após a renúncia de Marcelo Bielsa do comando da Seleção Argentina, o clamor popular por Bianchi que já estava desvinculado do Boca, levaram Julio Grondona à convida-lo para o cargo.
A negativa foi contundente. A alegação foi querer estar mais perto da família. Disse oficialmente não querer compromissos longos. Um ano mais tarde aceitou trabalhar no Atlético de Madrid a 10 mil quilômetros de distância Buenos Aires e de sua família. O La Nación cravou na época, que enquanto Julio Grondona fosse o presidente da AFA, ele não dirigiria a Seleção.
Se Tite recusasse a proposta, ganharia uma eterna lembrança como “o homem que disse não à Seleção”. Iriam especular que a proposta financeira não agradou, como ocorreu de fato com Muricy Ramalho em 2010, na época que a CBF era dirigida por Ricardo Teixeira. Um bom contrato com o Fluminense e sua patrocinadora Unimed naquele momento, mantiveram Muricy no Tricolor Carioca.
Mas Tite fez diferente. Aceitou. Respondeu que vai fazer o trabalho dele. O trabalho dele é treinar um time. Quem o escolheu para fazer esse trabalho foi Marco Polo Del Nero. Poderia sim ter recusado. Ele era o único que poderia.
A Seleção Argentina precisava de Bianchi. Bianchi não precisou dela. A Seleção Brasileira precisa de Tite, e Tite parece precisar da Seleção."
Fernando Martinho é editor da Revista Corner. Esse texto foi originalmente publicado no Doentes por Futebol e gentilmente cedido ao Meu Timão.