Dia Mundial contra Homofobia: a discriminação (não) estampada por trás da camisa 24
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Por Lucas Faraldo
Nesta quinta-feira, 17 de maio, é festejado o Dia Internacional contra a Homofobia. A discriminação contra gays, lésbicas e também bissexuais e transexuais está presente no universo do futebol – também do Corinthians, portanto. E talvez um dos mais sutis (e infantis) exemplos disso seja o mito ainda existente por trás da camisa de número 24.
Tratando-se de um portal segmentado de notícias do Corinthians, o Meu Timão traz o panorama do ponto de vista alvinegro: o último jogador da equipe do Parque São Jorge a utilizar a camisa 24 em competições que não obrigam numeração fixa foi Cássio, em 2012.
Ele ficou com a famigerada camisa porque estreou pelo clube na Libertadores, competição que exige numeração de 1 a 30 para os jogadores inscritos por cada agremiação. Na sequência, engatando titularidade no Campeonato Brasileiro daquela temporada, continuou a utilizar o número por inércia. Assim que Alex foi negociado e deixou a 12 vaga, o goleiro pediu à diretoria para trocar e vestir a camisa que mantém até os dias atuais.
"Isso daí já está com os dias contados, o número 24 vai mudar já", disse Cássio, ao CQC, em julho de 2012, após ser "zoado" pelo repórter e humorista Felipe Andreoli.
A discriminação diz respeito ao significado do número no jogo do bicho. A tradicional (e ilegal) bolsa de apostas liga o 24 ao veado, animal popularmente associado a homossexuais. Por conta disso, tal camisa fica vaga nos clubes de futebol brasileiros sempre que possível.
"O número remete ao preconceito de uma maneira chula. A atitude de um jogador ao vestir o número 24 seria de uma boa repercussão e um ato de coragem. Num país que está numa fase em que a intolerância está forte, é necessário um ato como esse", disse Jorge Monteiro, colaborador do Respeito Futebol Clube, coletivo contra preconceito no futebol, em entrevista concedida ao Meu Timão.
A numerologia também ajuda a entender o porquê de o 24 ser associado quase que folcloricamente à homossexualidade. Segundo estudiosos dos números, o 2 tem forte ligação com mulheres; o 4, por sua vez, com a ideia de construção. De tal forma, a junção dos dois algarismos faz uma espécie de menção à construção da figura feminina.
"O ambiente do futebol é completamente machista e preconceituoso", sintetizou um funcionário do Corinthians em conversa informal com a reportagem do Meu Timão.
24 é só 1
O mito por trás da camisa 24 é só um dos muitos exemplos de práticas homofóbicas no futebol. Outros são: a utilização do termo "bambi" como ofensa, gritos de "bicha" contra goleiros adversários, expulsão de gays de torcidas organizadas, etc...
Na visão de quem luta pela causa LGBT, um caminho para fortalecer o combate ao preconceito (seja no futebol ou fora dele) é a punição legal contra aqueles que discriminam, em ação similar ao que já ocorre nos casos de crimes de injúria racial e racismo.
"A ofensa da torcida contra goleiros com a palavra bicha é tão sem sentido que nos revolta, porque parece ser um crime ser homossexual, uma doença. E o combate contra isso é a conscientização geral do público e leis que punam esse crime de uma maneira exemplar. Só assim poderíamos sonhar com tais barbaridades sendo sanadas", explicou Monteiro.
Que num breve 17 de maio não precisemos mais discutir práticas homofóbicas no futebol. Que torcedores e jogadores abracem essa luta. Que a camisa 24 um dia deixe de ser tabu.