Das ruas à Casa do Povo: torcedor que viralizou por camisa improvisada conhece a Arena
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Por Andrew Sousa e Danilo Augusto, na Arena Corinthians
Restavam poucas horas para o embate entre Corinthians e Millonarios e ele estava inquieto. A ansiedade, afinal, é mais do que normal para uma primeira vez. Não, não estamos falando de Osmar Loss, que fez sua estreia como técnico alvinegro. O jogo desta quinta-feira teve outro estreante: Vilson de Paula, morador de rua que viralizou com uma camisa personalizada do Timão, enfim conheceu sua casa.
"Estou na expectativa aqui, emocionado. O relógio não anda, meu", dizia, pouco antes de rumar a Itaquera ao lado da equipe do Meu Timão e de Bruno Vasconcelos, corinthiano que o ajudou a fazer tratamento dentário.
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No caminho para o estádio, o assunto não foi Carille, Loss, Pedrinho ou a classificação na Libertadores. Pela atual condição, Seu Vilson não tem tantas informações do presente - acompanha um jogo ou outro em um bar. A alternativa, então, foi falar do passado. Wladimir, a final de 1977 e outros craques da década de 80 foram relembrados pelo corinthiano.
A pressa para entrar em casa era visível. Prova disso foi a vontade de descer do carro assim que viu a Arena. Vestido com sua camisa personalizada, teve de esperar até o estacionamento. Assim que desembarcou, manteve o ritmo.
"Ele parecia não acreditar que estava ali. Entramos no prédio Oeste e o Vilson ficou encantado, totalmente inquieto. Tentávamos tirar foto, mas ele não parava", conta Bruno.
Observando tudo, o visitante de primeira viagem só parou quando viu a taça do Paulistão de 1977. A ação foi imediata: colocou sua camisa ao lado da taça e se emocionou. Se antes do tratamento dentário a vergonha não o permitia sorrir, na Arena o sorriso não saiu do seu rosto.
Ao chegar no camarote do Fiel Torcedor e enfim ver o gramado do estádio, lembrou de seus tempos nos campos de várzea. Relatando uma vasta trajetória como jogador, fez questão de contar um de seus mais belos feitos: um gol do meio de campo. Pelo jeito, o goleiro se arrependeu muito de ficar adiantado...
Voltando ao jogo, seu Vilson demorou um pouco a se conectar com a partida. Visivelmente impressionado com o que estava vivendo, passou os primeiros minutos do embate observando tudo a sua volta - além de desfrutar do buffet oferecido no camarote. Depois que "se acostumou" com a situação, focou na partida.
"Vai dar, vai dar...", dizia, enquanto o Corinthians perdia uma enorme quantidade de oportunidades. O gol do Millonarios foi um banho de água fria. A partir desse momento, o otimismo deu lugar ao nervosismo. A tensão foi colocada para fora - de forma bem humorada - quando o bandeira anulou o que seria o empate alvinegro.
"Seu filho de uma unha", gritou Vilson, evitando o palavrão pela proximidade com algumas crianças corinthianas.
Apesar da decepção pela derrota, o resultado dentro de campo foi um pequeno detalhe na noite dessa quinta-feira. Morador de rua há 20 anos, Vilson enfim entrou em casa. Para ele, o jogo contra o Millonarios vai ter um lugar tão especial na sua memória quanto aquele eterno Paulistão de 1977.
"A experiência foi fantástica. Ele se sentiu bem à vontade, cantou, dançou, comeu e viveu seu sonho", resume Bruno.
Na rua ou na Arena. Acompanhando um jogo da porta de um bar ou do camarote. Com a camisa feita a mão ou a oficial. Seu Vilson de Paula é um desses torcedores que provam o que é a essência do Corinthians: o povo.