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Ela despontou mais nova que Pelé. E isso é alerta para a luta desigual das mulheres no futebol

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Daniela Alves abraçou projeto e assumiu recém-criada equipe sub-17 do Corinthians

Daniela Alves abraçou projeto e assumiu recém-criada equipe sub-17 do Corinthians

Divulgação/Corinthians

Mais que motivo de orgulho, trata-se de um alerta para a desigualdade de gênero no futebol: a ex-meia-atacante Daniela Alves despontou no futebol mais nova até mesmo do que Pelé. Mas por conta da ausência de qualquer tipo de introdução decente de jovens mulheres no esporte. O problema existe ainda hoje, mais de duas décadas depois do pontapé inicial de Dani Alves, mas vem aos poucos sendo revisto com medidas como a do Corinthians, que criou em 2019 sua equipe sub-17 feminina e contratou a ex-jogadora para o cargo de técnica.

Comandante das adolescentes do Corinthians que sonham em se tornar jogadoras, Daniela Alves é mais que uma treinadora. É uma inspiração. Alguém que, mais nova do que elas, já jogava não apenas em times profissionais, mas na própria Seleção Brasileira principal.

Daniela Alves durante peneiras do Sub-17 realizadas no Parque São Jorge

Daniela Alves durante peneiras do Sub-17 realizadas no Parque São Jorge

Divulgação/@sccpfeminino

"Hoje elas têm uma pessoa à frente que entende do assunto, fez o que elas fazem hoje. Falo com propriedade. A confiança fica maior de você ter alguém à frente que jogou, fez sua história e consegue passar os ensinamentos para elas. Isso que é a vantagem. Elas têm alguém que pode ser referência (...) Quando eu falo, elas abrem os ouvidos e os olhos, atentas a todos os detalhes. É muito gratificante e prazeroso isso", disse Dani Alves.

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Em entrevista concedida ao Meu Timão para este 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Daniela, hoje com 35 anos de idade, contou um pouco sobre sua trajetória no futebol. O assunto não foram as já conhecidas conquistas de medalhas olímpicas, pan-americanas e de Copa do Mundo. A treinadora do Corinthians Sub-17 pegou o túnel do tempo, voltou para a década de 90 e recordou quando, ainda pré-adolescente, já disputava posição com adultas em seletivas e equipes femininas. Para efeito de comparação: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, iniciou sua carreira no Santos com 15 anos; na Seleção, com 16. Já Dani Alves...

"Não existia idade pra gente, porque não tinha categoria de base para mulher na época. Só tinha categoria. E ela era o futebol feminino. Podiam ter meninas de 12 anos e até 30 anos ou mais nas seletivas. Tanto que comecei com 12 para 13 anos a jogar com a equipe adulta. Com 15, fui convocada para a Seleção Brasileira principal", contou a ex-jogadora.

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Ainda em meados do ensino fundamental na escola, Dani Alves já se arriscava contra adultas nas peneiras de clubes da capital paulista. Com 12 anos, passou em seletivas no Palmeiras e no Juventus, mas precisou descartar as vagas porque a distância de sua casa para os locais de treinamento a impediria de seguir estudando. Foi quando surgiu chance na Portuguesa.

"O treinador (da Portuguesa) não me queria na seletiva, porque eu era muito nova, tinha recém-feito 13 anos. Meu treinador (pessoal) insistiu para que eu fosse só passear, só acompanhar as outras meninas que ele estava levando para a seletiva. E lá nos testes o treinador da Portuguesa acabou gostando de mim e ficando comigo", lembrou.

Maior e mais forte fisicamente que a média das meninas de sua idade, Daniela Alves não demorou para se tornar peça-chave naquela equipe da Portuguesa. Ainda com 13 anos, em sua primeira temporada, em 1997, já se tornou titular num torneio que contava até mesmo com jogadoras quarentonas. "Estreei contra o Vasco da Gama. Entrei na partida e nunca mais saí. Engatei os jogos no ano seguinte, com 14 anos. E com 15 eu já estava na Seleção Brasileira principal jogando com as adultas", relatou.

Daniela, camisa 5, em foto da Seleção no início dos anos 2000

Daniela, camisa 5, em foto da Seleção no início dos anos 2000

Arquivo pessoal

Na Seleção, mais precisamente às vésperas da Copa do Mundo Feminina de 1999, Daniela sofreu com a questão etária. A Fifa exigia idade mínima de 16 anos; com apenas 15, a meia-atacante, então convocada para a equipe canarinha, acabou cortada por "falta de idade".

Em 2002, a entidade que comanda o futebol mundial criou o Mundial Feminino Sub-20. Mas clubes brasileiros (e sul-americanos) não acompanharam a tendência – a maioria não tinha até outro dia atrás nem mesmo equipe feminina principal. Pouco adiantou, portanto, a CBF criar sua seleção de base no início dos anos 2000 se as meninas por aqui não tinham agremiação onde jogar no dia a dia. Prova disso é o Brasil (nem qualquer vizinho latino-americano) ter chegado a uma final em nove edições do torneio sub-20.

"O Brasil perde de bagagem. Quando as meninas vão disputar um campeonato fora, um Mundial, uma Olimpíada, qualquer torneio, fica visível que a falta de base que essas meninas tiveram prejudica na Seleção. As meninas de outros países estão na frente hoje porque têm trabalho de base, igual aqui no Brasil tem no masculino. Estados Unidos sempre foi referência no feminino. Lá o futebol é mais visto como um esporte feminino, agora que está crescendo as categorias masculinas por lá", argumentou Daniela Alves, veterana de Seleção.

Em tempo: a Copa do Mundo Masculina Sub-20 existe desde 1977. Argentina e Brasil são os maiores vencedores, com seis e cinco títulos, respectivamente. Principal torneio brasileiro masculino de base, a Copa São Paulo de Futebol Júnior existe desde 1969, há meio século.

Confira mais da entrevista de Daniela Alves ao Meu Timão

Luta feminina no futebol

"É uma coisa mais cultural, aqui no Brasil futebol sempre foi visto um esporte mais masculino. Hoje esse preconceito já reduziu quase a zero. Onde você tem uma escolinha, geralmente tem uma menina brincando no meio dos meninos. Isso cresceu muito no Brasil. Antigamente era muita exceção, e, quando tinha, a menina era hostilizada. Ideal seria a igualdade, o esporte ser livre para qualquer um praticar. Esporte é saúde. O ideal mesmo seria ter espaços para que as meninas pudessem praticar, utilizar os mesmos espaços que os meninos."

Situação atual da categoria feminina no Brasil

"Infelizmente hoje estão impondo aos clubes formar suas equipes femininas de futebol, mas o ideal seria o clube fazer isso por contra própria, não por imposição de uma entidade maior. No começo sabemos que ainda vai ser com dificuldade, nada imposto é muito bem aceito. E sabemos que dirigentes costumam ser pessoas mais antigas, com mentalidade mais diferente. Mas creio que o futebol feminino não volta mais, só tende a crescer daqui pra frente."

Uma nova era para as mulheres no futebol brasileiro

"Por mais que seja imposto, vai gerar essa rivalidade de camisa. Aí os rivais vão ver que o Corinthians está muito acima. E vão querer se estruturar mais."

"A igualdade de gênero está mais perto que longe hoje. É o que eu vejo. Antigamente estava bem mais distante. Hoje já conseguimos colocar ao povo brasileiro que a modalidade existe, que ela é tão boa de se acompanhar como a masculina. São toques refinados, são jogadas de classe que existem na modalidade. Esse ano vai ser bem competitivo para a modalidade, porque os clubes grandes, de camisa, montaram suas equipes. Isso traz de volta as jogadores brasileiras boas que estão no exterior, eleva a qualidade do nosso futebol feminino. Por mais que seja imposto, vai gerar essa rivalidade de camisa, um Corinthians x Palmeiras, Corinthians x São Paulo. Aí os rivais vão ver que o Corinthians está muito acima, por conta da estrutura, da comissão técnica existente há anos. E vão querer se estruturar mais, não vão aceitar derrotas para um rival. Isso atrai atenção das torcidas também."

Corinthians é o atual campeão brasileiro feminino

Corinthians é o atual campeão brasileiro feminino

Bruno Teixeira/Agência Corinthians

Disparidade ainda gritante

"Está bem distante ainda, óbvio. Principalmente em termos salariais. Um mês de salário de um atleta de ponta do masculino paga a folha salarial de dois, três anos de uma equipe do feminino. Mas a gente continua lutando, brigando por essa igualdade, mostrando competência e trabalho."

Primeiras impressões do Sub-17 do Corinthians

"Melhores possíveis. São meninas de várias idades, abertas ao aprendizado. Quando eu falo, elas abrem os ouvidos e os olhos, atentas a todos os detalhes. Elas mostram que querem mesmo, entendeu? São meninas de diversos lugares em busca do sonho delas."

Nota da redação: as principais competições femininas que o Sub-17 do Corinthians disputará em 2019 são o Brasileiro e o Paulista, com início previsto para julho e agosto, respectivamente.

Boa surpresa nas peneiras

"O nível da seletiva foi bem alto comparado à minha época. Quando comecei a jogar, em seletivas passava uma, passavam duas meninas. E nessa que fizemos, mesmo sendo categoria de base, com meninas mais novas, às vezes sem base, foi bem surpreendente porque apareceram meninas de vários lugares com nível técnico muito bom. Isso foi muito prazeroso."

Veja mais em: Corinthians feminino, Base do Corinthians e Especiais do Meu Timão.

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