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Presidente do Corinthians é criticado por Comunidade Armênia por uso da palavra 'turco'; entenda

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Por Meu Timão

Andrés Sanchez utilizou o termo turco na última coletiva que concedeu, no sábado passado

Rodrigo Coca / Agência Corinthians

Uma declaração do presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, no último sábado, dia 25, não foi bem aceita na Comunidade Armênia do Brasil. Em um dos trechos da conversa com os jornalistas, o mandatário alvinegro usa o termo "turco" para falar sobre o ex-diretor Sergio Janikian, que é de descendência armênia.

"Sabe qual o problema, Fernandinho? Tem gente falando que o corinthiano, o quinto andar, o Parque São Jorge precisava de professor de português. O duro é que é um turco indicando professor de português. Mas, infelizmente, realmente, muitos corinthianos precisam, como eu sou um, não tenho formação universitária, fiz o ginásio mal feito, mas se a gente precisar realmente nós, corinthianos, vamos procurar ter capacidade para melhorar nosso português. Não precisamos de um turco indicar não", declarou Andrés Sanchez, em um momento mais desabafo, pois não havia sido perguntado sobre nada.

O problema é que o termo "turco" é bastante ofensivo para o povo armênio. Existe um conflito histórico entre os dois povos, que já dura mais de 100 anos. Entre os diversos embates, está o que é conhecido como Genocídio Armênio (ou Holocausto Armênio), que durante a Primeira Guerra Mundial, culminou na morte de quase 1,5 milhão de armênios.

A declaração, então, gerou uma carta aberta da Comunidade Armênia no Brasil. No texto, a comunidade diz que "se sentiu indignada com relação à generalização atribuída a um brasileiro descendente de armênios" e que "a história de sofrimento do nosso povo (...) não pode ser arranhada ou desprezada com colocações dessa natureza".

O texto ainda pede uma retratação por parte de Andrés Sanchez - veja abaixo.

Sergio Janikian foi diretor de futebol do Corinthians durante o mandato de Roberto de Andrade, em 2015. Ele é conhecido pela famosa frase do "presente de Deus" em relação ao Guaraní, do Paraguai, também em 2015.

Resposta de Andrés Sanchez

Na manhã desta quinta-feira, o presidente Andrés Sanchez divulgou uma carta em resposta à Comunidade Armênia do Brasil. No texto, o mandatário diz que não vai se justificar e pede desculpa.

"Saber que feri os sentimentos nacionais de um povo tão sofrido me enche de tristeza. Não já justificativa, meu linguajar solto teve o condão de ferir um povo altivo, mas machucado, algo que viola os mais básicos ensinamentos recebidos pelos meus pais", diz.

Andrés ainda diz que errou ao falar em nome do Corinthians, um clube conhecido por apoiar as causas minoritárias. O texto finaliza com a seguinte mensagem: "E, como presidente, declarar, em alto e bom som, em nome do Corinthians: 'Somos todos armênios!'" - veja na íntegra abaixo.

Confira a carta aberta da Comunidade Armênia do Brasil

"São Paulo, 29 de julho de 2020.

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO SPORT CLUB CORINTHIANS PAULISTA SR. ANDRÉS NAVARRO SANCHEZ

A Comunidade Armênia do Brasil vem respeitosamente se manifestar sobre a entrevista coletiva concedida pelo notório presidente do Sport Club Corinthians Paulista Andrés Navarro Sanchez, em 25 de julho de 2020.

Em abril de 1915, o Império Turco Otomano perpetrou contra o povo armênio aquele que seria conhecido como o primeiro genocídio do Século 20, em que cerca de 1,5 milhão de armênios foram perseguidos e massacrados de maneira vil e impiedosa.

Com relação a este triste evento, o Sr. Andrés Navarro Sanchez nos honrou com a permissão da entrada de uma faixa alusiva a este genocídio, carregada pelo time, no jogo Corinthians e Chapecoense, realizado em 24/04/2019.

Esta nobre consideração nos deixou muito honrados e ensejou de nossa parte os devidos agradecimentos em carta enviada diretamente ao Sr. Andrés Navarro Sanchez.

Sendo assim, nossa perplexidade transcende os assuntos internos do Sport Club Corinthians Paulista e as diferenças que possam existir dentro das várias correntes internas do clube.

O fato é que nossa Comunidade se sentiu indignada com relação à generalização atribuída a um brasileiro descendente de armênios que faz parte do clube, chamando-o de turco durante entrevista coletiva que foi concedida no último sábado, dia 25 de julho deste ano, a todos os grandes órgãos da imprensa esportiva.

A história de sofrimento de nosso povo impingida pelo Império Turco Otomano não pode ser arranhada ou desprezada com colocações dessa natureza.

Como agravo a esta situação, nesta semana o povo armênio foi mais uma vez covardemente atacado pelo Governo do Azerbaijão com o apoio explícito do Governo turco.

Na certeza de vossa compreensão e autocrítica, com a dimensão histórica dos fatos e considerando a grande estima que temos por sua pessoa, estamos certos de que haverá de sua parte a devida retratação para com a Comunidade Armênia do Brasil.

Atenciosamente,

Associação Beneficente de Damas Brasil Armênia HOM filial Arpi - Silva V. Kahtalian
Associação Beneficente de Damas Brasil Armênia HOM filialMassis -Sonia Sanazar Tarpinian
Associação Cultural Armênia De São Paulo – ACASP - TroGomidé - Nigol Nigoghosian
Associação Educacional e Cultural Hamazkayin - Garo Hovhannesian
Comunidade Armênia de Osasco - Paulo Tarpinian Junior
CNA – Conselho Nacional Armênia do Brasil - Vartine Simone Kalaidjian
Diocese da Igreja Apostólica Armênia do Brasil - Bispo Nareg Berberian
Presidente do Conselho Representativo da DIAAB - André Kissajikian
Presidente da Diretoria Executiva de SP da DIAAB - Dikran Kiulhtzian
Fundo Nacional Armênia - João Carlos Boyadjian
Igreja Central Evangélica Armênia de São Paulo -Vartan Moumdjian
Paróquia Armênia Católica São Gregório Iluminador - Padre Antonio Francisco Lelo
Sama - Clube Armênio - Sérgio Krikor Arakelian
Sociedade Beneficente e Cultural Marachá - Azad Gananian
União Geral Armênia de Beneficência - Haig Apovian
Diocese da Igreja Apostólica Armênia do Brasil
Fundo Nacional Armênia"

Confira a carta de resposta do presidente Andrés Sanchez

"São Paulo, 30 de julho de 2020.

Apesar de nunca ter citado "Armênia", ou "povo Armênio", a Comunidade Armênia do Brasil, através de seus vários legítimos representantes, oficiou ao Corinthians seu desagrado pelos termos por mim utilizados em entrevista recente, considerados ofensivos.

Escrevo não para me justificar e sim para pedir desculpas. Saber que feri os sentimentos nacionais de um povo tão sofrido me enche de tristeza. Não há justificativa, meu linguajar solto teve o condão de ferir um povo altivo, mas machucado, algo que viola os mais básicos ensinamentos recebidos de meus pais.

Como indivíduo, cresci aprendendo a defender a igualdade dos grupos e o respeito por suas histórias e tradições. Minha atuação social e política foi sempre na defesa da autodeterminação dos povos, da acolhida das diferenças e da busca por reparação e superação das injustiças cometidas. Ao violar esta missão - por entristecer a comunidade armênia - falhei e me penitencio. Convoco meu passado de defensor das causas das minorias como evidência de que não há em mim uma célula que conscientemente agrediria um povo com a responsabilidade devida aos armênios, no Brasil e no Mundo.

Mas, quando errei, falava não como Andrés Sanchez e sim como Presidente do Corinthians, o que agrava meu erro. Realmente, campeões no futebol somos frequentemente, mas nem sempre, como ocorre em qualquer esporte. Entretanto, guerreiros das causas minoritárias sempre fomos e sempre seremos. O epiteto "maloqueiro e sofredor" ilustra o comprometimento nosso com todos os injustiçados, porque assim espera e exige de nós o Bando de Loucos que somos. Não é por outra razão que sempre estivemos à frente na defesa das causas justas, seja no combate à discriminação aos negros, à violência física e econômica contra as mulheres, a reverência perante os direitos de judeus, palestinos e imigrantes, na mobilização da sociedade contra epidemias, doenças genéticas, além de apoiarmos a maior coleta de sangue nacional voluntária. Na política, nossa luta pela Democracia no Brasil já virou emblemática: é corintiana a vanguarda da solidariedade, do respeito às diferenças.

Notem que recruto estas ações não como atenuantes de meu erro e sim como agravantes. A postura de mim esperada pela nossa torcida, associados e conselheiros é aquela muito bem lembrada pela Comunidade, quando, no dia 24 de abril passado, entramos em campo homenageando os armênios do mundo todo, relembrando e repudiando o massacre selvagem que sofreram no início do século passado.

Como admirador dos feitos da comunidade armênia e parceiro na repulsa por atos que busquem diminuir a gravidade do sofrimento a ela imposto no passado e no presente, espero ser perdoado como ser humano pela minha falha. E, como Presidente, declarar, em alto e bom som, em nome do Corinthians: "SOMOS TODOS ARMÊNIOS".

Atenciosamente,

Andrés Navarro Sanchez"

Veja mais em: Andrés Sanchez.

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