Conselheira do Corinthians conta luta por representação feminina no clube; órgão tem 5% de mulheres
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Por Meu Timão
Conselheira recém-eleita do Corinthians, Analu Tomé é uma das raras presenças femininas no órgão fiscalizador corinthiano. Com apenas dez mulheres entre os 200 eleitos em novembro do ano passado para o triênio 2021-23, ela contou como é lutar por um lugar no clube e o processo de inclusão feminina cada vez maior no Timão.
"Muitas mulheres que, hoje, estão na arquibancada, sentem que conquistaram seu espaço. Até pouco tempo atrás, quando uma mulher chegava à arquibancada, os homens cantavam: 'El, el, el, buc*** da fiel'. Para fugir disso, a gente se vestia que nem homem: camisetona, bermudão. A gente não queria chamar a atenção. Quem vem dessa época conquistou, com esse custo, o próprio espaço, e está na zona de conforto. Agora, temos que lutar para podermos participar de caravanas, do conselho e de tudo", afirmou ela ao Uol Esporte.
Frequentar o estádio para assistir a jogos do time do coração se tornou realidade quando Analu já era adulta. "Foi quando conheci os Gaviões da Fiel e me associei a eles. O estádio se tornou parte do meu dia a dia, e a minha trajetória política no Corinthians começou aí: dentro da torcida organizada", relembrou a conselheira da chapa Reconstruir, atualmente com 51 anos.
"Eu estava de boa assim, tocando um programa sobre futebol na rádio, indo aos jogos, até que foi criado um núcleo de estudos dentro do Corinthians. Pouco depois, houve a ideia de criar um núcleo voltado a estudos de gênero, do qual fui convidada a participar", contou ela, uma das idealizadoras do movimento Toda Poderosa Corinthiana.
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"Além de mim, outras 12 meninas estavam no grupo. Quando começamos a pesquisar a história da mulher corintiana, descobrimos que, por mais presente que estávamos, não havia registros sobre a presença de mulheres na torcida. A nossa história nunca foi contada. Então, decidimos começar do zero e contar a nossa história. Assim surgiu o movimento 'Toda Poderosa Corinthiana", relatou.
Analu ainda fez questão de reclamar da truculência da Polícia Militar nos estádios, colocando as ações do órgão do Estado como as mais preocupantes que acompanhou nas suas décadas de arquibancada.
"Eu falo que o meu maior medo dentro de um estádio é a Polícia Militar. Ela trata o torcedor como um meliante. A gente tá pagando ingresso, somos clientes, mas não é desse jeito que somos tratados dentro do estádio. Eu já apanhei da Polícia Militar dentro do estádio. Teve um jogo que pra gente sair eles fizeram tipo um corredor polonês, jogaram cavalo em cima da gente. Era criança correndo, derrubando cadeirante. A PM é muito truculenta, sempre foi. Se você, como torcedora, pede uma informação para a polícia, eles te olham como se você fosse um delinquente", afirmou.
Apesar disso, Analu afirma perceber o machismo entre os conselheiros e conta que a comunicação com os homens da cúpula alvinegra, ao menos neste contato inicial, é bastante difícil.
"Nós, como mulheres, já sabemos. Para ser ouvida, a gente tem que falar uma, duas, três, quatro vezes, levantar o tom. Eu vejo isso já nos grupos dos quais participo. Se eu falo alguma coisa, muitos não ligam. Aí, um outro conselheiro fala uma besteira qualquer e todo mundo curte, sabe? É muito mais difícil de ser ouvida. Para nós, mulheres, não basta só ter um projeto. Também é ser ouvida, respeitada, antes de as pessoas aceitarem o seu projeto. É ser ouvida e respeitada. Para a mulher tem vários obstáculos, muito mais do que para os homens. Quando a gente começa a falar da importância da inclusão, a pensar em um projeto focado em gênero, já dizem que vai começar o 'mi mi mi'. É uma luta", concluiu à publicação.