Polícia avalia indiciamento por crimes financeiros após depoimentos contraditórios no caso VaideBet
9.6 mil visualizações 88 comentários Reportar erro
Por Maria Beatriz de Teves e Matheus Quintino

Polícia avalia indiciamento por crimes financeiros após depoimentos contraditórios no caso VaideBet
Meu Timão
Nesta quarta-feira, o presidente do Corinthians, Augusto Melo, prestou depoimento na delegacia e encerrou a série de oitivas relacionadas ao caso VaideBet. Durante a semana, já haviam se apresentado Marcelo Mariano, ex-diretor administrativo do clube, e Sérgio Moura, ex-superintendente de marketing.
A reportagem do Meu Timão, que acompanhou de perto todos os dias de depoimentos na delegacia, apurou que as três versões apresentadas foram completamente divergentes. Alex Cassundé, sócio da empresa Rede Social Midia Design LTDA, que teria repassado cerca de R$ 1 milhão da intermediação a uma empresa considerada fantasma, também apresentou um depoimento contraditório aos do trio.
Além disso, nenhum dos depoentes apresentou qualquer evidência que comprove a relação entre eles e as empresas envolvidas no contrato com a VaideBet. As investigações seguem em andamento, e a expectativa é que o inquérito seja concluído até a primeira semana de maio. A polícia trabalha com a possibilidade de indiciamento por associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Caso positivo, os envolvidos serão indiciados e o caso será encaminhado ao Ministério Público, que analisará as provas coletadas. A partir daí, um promotor poderá apresentar uma denúncia formal ou optar pelo arquivamento do inquérito.
O delegado responsável pelo caso é Tiago Fernando Correia, do DPPC (Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania) e titular da 3ª Delegacia, especializada em casos de lavagem de dinheiro. As investigações também contam com a participação de Juliano Carvalho Atoji, promotor de Justiça do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
Relembre os depoimentos da semana
Marcelo Mariano
Marcelo Mariano, ex-diretor administrativo do Corinthians — que ainda atua no dia a dia do clube —, compareceu à delegacia na última segunda-feira. Ao fim da oitiva, seu advogado, Dr. Átila Machado, conversou com a imprensa e comentou os esclarecimentos prestados por seu cliente.
"Nós ficamos por três horas aqui no depoimento do Sr. Marcelo Mariano, que é sócio e conselheiro — inclusive foi diretor administrativo do clube. Ele teve a oportunidade de responder a todas as perguntas feitas, tanto pelo promotor de Justiça, Dr. Juliano, quanto pelo Dr. Tiago, delegado do caso", relatou o advogado de Marcelo Mariano.
"Ficou esclarecida e comprovada a absoluta inocência do Sr. Marcelo Mariano em relação a todos os fatos que estão sendo apurados. No mais, sobre o inquérito em si e o que foi, de fato, apurado e trazido ao processo — que também corre sob sigilo —, não podemos declinar esses fatos específicos. Mas podemos afirmar, com tranquilidade e responsabilidade, que tudo foi respondido e esclarecido, confirmando a inocência do Sr. Marcelo", complementou.
Sérgio Moura
O Meu Timão apurou que Sérgio Moura confirmou ter sido o responsável por levar Cassundé ao Corinthians. No entanto, os depoimentos apresentam divergências em relação aos detalhes das reuniões, aos responsáveis pelos contatos e à forma como o dono da empresa foi, de fato, inserido no contexto do clube.
Após os esclarecimentos de Sérgio Moura na última terça-feira, o advogado Dr. José Roberto Rodrigues saiu em defesa do cliente e afirmou que ele colaborou com todas as perguntas.
"O depoimento, assim como o Sérgio fez desde o início, quando colocou à disposição o cargo de superintendente de marketing para que as investigações tomassem o melhor curso possível, foi prestado com total transparência. Ele veio, respondeu todas as perguntas, tanto do Dr. Juliano, promotor de Justiça, quanto do Dr. Tiago, delegado. Não restou dúvida de que, em momento algum, o Sérgio agiu de má-fé ou tenha praticado qualquer crime, como muitas vezes foi relatado", destacou à imprensa na delegacia.
"No que diz respeito ao inquérito policial, ele corre sob sigilo. Nós não temos autorização — e nem podemos — divulgar qualquer informação que conste ali. Logicamente, sei que vocês vão acabar sabendo, mas essas informações não sairão nem de mim, nem do meu escritório. O que posso adiantar é que o Sérgio respondeu a tudo, não houve nenhuma intercorrência durante o ato, e tudo correu da melhor forma possível. Acredito que isso será demonstrado futuramente em um possível relatório final, a ser elaborado pela autoridade policial", complementou.
Augusto Melo
Augusto Melo foi o último a prestar depoimento na delegacia. Após a Justiça negar o pedido de adiamento protocolado por sua defesa, o presidente do Corinthians compareceu e participou de uma oitiva que durou cerca de três horas nesta quarta-feira.
Em entrevista à imprensa após prestar esclarecimentos às autoridades, Augusto demonstrou tranquilidade e afirmou ter sido totalmente transparente durante o depoimento. Ele esteve acompanhado de seu advogado, Ricardo Cury.
"Foi um depoimento muito tranquilo, muito cordial, fui muito bem recebido. O resto é eles que vão ter que dar o resultado final, isso é mais a parte jurídica, o doutor (advogado) entende mais, pode falar melhor para você. O que eu posso dizer que foi muito tranquilo. Desde o começo, desde o dia da negociação, tudo que foi feito foi falado, sempre deixei muito claro isso, muito transparente. Desde o dia que eu conheci a patrocinadora e que eu negociei com a patrocinadora. Então desde esse dia foi muito tranquilo e foi isso que foi falado aqui, foi esclarecido. A minha realidade é uma só e tudo que aconteceu foi isso, foi o que falamos aqui", afirmou Augusto.
Questionado sobre a presença de Cassundé, Augusto foi interrompido por seu advogado. A defesa afirmou que pretende manter em sigilo as partes técnicas do inquérito, embora o presidente tenha reforçado que “está tudo documentado”.
"Um esclarecimento pra todos. O inquérito tramita em absoluto sigilo e é assim que deve tramitar o inquérito policial. Nós ficamos aí quase três horas respondendo a uma série de perguntas, o presidente respondeu a todas as perguntas, tem coisas de mérito que não podem ser antecipadas, em respeito ao trabalho da polícia, em respeito ao trabalho do Ministério Público, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). Eu orientei o presidente nessa coletiva breve que nós estamos realizando de respeitar esse sigilo. Todos os esclarecimentos que o presidente devia prestar foram prestados e o que nós temos a dizer nesse momento é apenas isso do ponto de vista jurídico. A defesa técnica orientou isso em respeito ao trabalho do Ministério Público. (O caso) está prestes a ser encerrado", afirmou Cury.
"A minha conversa só foi lá no começo e depois o jurídico cuidou de tudo, está tudo em contrato, cara. Está tudo documentado", complementou Augusto.