Luciano Cancian
Bela história
em Bate-Papo da Torcida > A primeira invasão não foi no Maracanã... História fantástica!
Em resposta ao tópico:
Aquela é considerada a primeira das muitas invasões promovidas pela torcida do Corinthians, como a do Maracanã em 1976 e a do Japão em 2012.
Era a última rodada do Campeonato Paulista de 1930, disputada já no dia 4 de janeiro do ano seguinte, 1931. Para garantir o tricampeonato, o Timão, bi em 1928/29, tinha que vencer o Santos na Vila Belmiro. O adversário precisava ganhar para provocar um jogo extra contra o próprio Corinthians.
Em 1979, o hoje falecido Francisco Picciochi, mais conhecido como “Tan-Tan”, ex-atleta do clube e um dos líderes da então Torcida Uniformizada do Corinthians, deu o seguinte depoimento sobre aquela invasão, publicado em um especial da revista Placar, da Editora Abril, sobre a história do Corinthians:
&Amp;Ldquo;Guardadas as proporções, essa euforia de hoje é até brincadeira perto do que fizemos naquele domingo. Não existiam estradas boas, carro não era coisa para qualquer um, o dinheiro andava curto e ninguém fazia campanhas por rádio. Era tudo no peito e na raça, e lotamos oito composições do trem que saía da Estação da Luz e do Brás. Cada uma das composições levava dez vagões e não tinha espaço para mais ninguém. O preço da passagem era três mil-réis, ida e volta, e fazia um calor dos diabos. Coisa de 40 graus. As arquibancadas eram de madeira e estalavam como gravetos no fogo. Os bombeiros precisavam jogar muita água na torcida e na madeira, para que muita gente não morresse de insolação ou queimada em um grande incêndio. O Santos marcou primeiro [Feitiço, logo aos dois minutos], a torcida começou a gritar e o primeiro tempo terminou 2 a 1 [Gambinha, aos 20, e Filó, aos 27, para o Corinthians]. No segundo fizemos mais três [De Maria aos 14, Gambinha aos 16 e Napoli aos 27] e eles um [Victor aos 35]. Com 5 a 2, invadimos o campo e a festa começou lá mesmo, terminando em São Paulo, já no dia seguinte. Pegamos o trem de volta e muitos torcedores vieram em cima dos vagões, sem camisa e cantando. A Estação da Luz estava abarrotada de gente com rojões e bandeirolas. Acho que tinha mais gente do que tinha no aeroporto de Congonhas depois daquela decisão contra o Fluminense, no Rio de Janeiro, em 1976. A festa durou muitas horas e eu sei que muitos daqueles torcedores que voltaram em cima do trem morreram de pneumonia e de tuberculose, vítimas do vento e do calor das máquinas”.
Naquele domingo, 4 de janeiro de 1931, o Corinthians foi tricampeão paulista pela segunda das três vezes em sua história jogando com Tuffy, Grané e Del Debbio; Leone, Guimarães e Munhoz; Filó, Napoli, Gambinha, Rato e De Maria. O técnico era Virgílio Montarini. O Santos jogou com Athiê (futuro presidente santista durante quase toda a Era Pelé), Aristides e Meira; Osvaldo, Hugo e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Victor e Evangelista. O técnico era Ramón Platero. O árbitro foi Victorino Silvestre.