João Bengla
Desde a drástica queda de receita a partir de 2014 com o início do pagamento do Estádio o Corinthians teve duas boas temporadas:
- 2015, com Tite aproveitando bem o espólio de um recente período de bonança;
- 2017, só possível graças a um conjunto de fatores (nenhum deles planejado pela diretoria), como um trabalho técnico competente, humilde e alinhado a uma filosofia de jogo consolidada no clube, um bom aproveitamento (forçado) da base e um craque iluminado renascido de uma carreira praticante acabada;
Depois disso, três anos pavorosos, de resultados e desempenho sofríveis, longe de títulos relevantes e flertes não raros com o rebaixamento.
É claro que a (outrora superada) troca constante de treinadores ou mesmo a equivocada tentativa de “mudança de filosofia de jogo”, atrapalharam bastante o desempenho nesses anos. Mas é quase consenso, seja na imprensa, seja entre os torcedores, que os elencos à disposição não estavam no patamar de briga por algo grande.
Tudo isso, no entanto, com um preocupante detalhe: mesmo
Com uma queda constante de receita, sempre estivemos entres as três maiores folhas salariais do pais.
Taxas, comissões, e favorecimento de empresários contribuem pra essa situação? Óbvio que sim. Temos que nos livrar desse bando. Mas mesmo quando a atual quadrilha age visando de fato uma melhora na qualidade do elenco, ela é feita de forma equivocada, trazendo uma infinidade de jogadores medianos, no máximo bons, de nível semelhante ao disponível na base, e com os quais normalmente se tem pouca paciência, invariavelmente sendo emprestados antes mesmo de completar uma única temporada.
Com isso cria-se um círculo vicioso, onde os gastos equivocados só aumentam a dívida a curto prazo, que tira completamente a capacidade de investimento em peças pontuais que de fato elevariam o patamar do time, obrigando o clube, a cada derrota de grande repercussão, “buscar reforços”, rigorosamente da mesma forma descrito acima.
Acabar com as mamatas faz parte da solucao? Indiscutivelmente. Mas isso é tão consenso que não é o que se pretende discutir aqui.
O fato é que apenas estancar a sangria das falcatruas não é suficiente para por em ordem as contas de um clube que tem mais da metade do seu faturamento comprometido com dívidas a curto prazo.
Passa também, inevitavelmente, por assumir um papel de coadjuvante no âmbito esportivo - papel esse que já vimos desempenando - mas com um detalhe: gastos salariais compatíveI com essa posição. Na atual situação do Corinthians é impensável termos algo maior do que a décima folha de pagamento do país.
Zero contratações de peso; oportunidades pontuais de mercado em jogadores não craques, mas experientes ou de eficiência destacada em algum setor; muita utilização da base; trabalho técnico a longo prazo;
A torcida está disposta a aceitar isso? Um time seguro para não cair, e nada mais? Pelo menos três anos assumindo que não ganharemos nada?
Seriam os mesmo três anos que acabaram de passar. Igualmente sem nada de relevante para se comemorar, mas sem devaneios e ilusões. Sem humilhações dentro e (principalmente) fora de campo. Uma postura humilde para o Corinthians reconquistar no cenário esportivo, de forma permanente, um lugar condizente ao seu tamanho.