Giovani
Perdemos por preguiça do Lucca que não marcava...
em Bate-Papo da Torcida > Para discutir futebol é preciso estuda-lo
Em resposta ao tópico:
PAINEL TÁTICO por Leonardo Miranda
O futebol diferente e corajoso do Audax - estamos preparados para ele?
Fernando Diniz é um cara diferente. Assim como o futebol praticado pelo Audax, finalista do Paulistão. Entender o futebol que o time de Osasco joga é um exercício de inteligência e criatividade. Esqueça os números e o que você aprendeu com seu pai: o Audax tenta resgatar um futebol muito brasileiro e que de inovador não tem nada.
O time aposta em conceitos táticos complexos como troca de posições, inversão de funções e todos trocando passes até chegar ao gol. Perdeu a bola? Todo mundo volta ou tenta sufocar lá na frente, pra recuperar a bola perto do gol adversário. A saída é limpa, mas não é sempre limpa - o Audax não é “o time que não dá chutão”, mas sim o time que sai com o goleiro na medida do possível, arrisca, vai pra frente.
Quer dizer que Fernando Diniz não se inspira em Guardiola? Não. Não fez estágio no Bayern? Também não. Não tem nada de mirabolante? Nada. A grande inspiração é o futebol de rua: rodas de bobinho sem robotização de funções, prazer em jogar, espírito vencedor e ousadia para fazer mais e mais gols.
Pra tudo isso acontecer é preciso uma relação quase de pai e filho. Formado em psicologia, Diniz é conhecido por ser nervoso e cobrar os jogadores. Ele mesmo diz que faz isso como uma forma de se cobrar. Sim, pois no Audax não tem um chefe. Nem quem obedece. Todos têm liberdade de decisão, opinando sobre o que acham ou não bom e tentam ser, antes de bons jogadores, boas pessoas. “Você tem que fazer o jogador ser uma pessoa melhor”, disse o técnico em uma palestra sobre tática que o blog viu em 2015.
Sim, o Audax serve como inspiração para um futebol melhor, com propósito social, com jogo bonito! Mas estamos preparados para ele?
A primeira vitória do Audax contra um dos grandes do paulista foi…há apenas 1 mês, contra o Palmeiras. Antes disso, o “time que não dá chutão” era muitas vezes motivo de chacota, tratado como bizarrice. Na primeira derrota, chavões da década de 1960 voltavam pra explicar o que não se entendia. Estamos prontos?
Não. Culpa nossa, hora de assumir. No Brasil, o endeusamento ao jogo de posse de bola, como esse do Audax ou dos elogiados Barcelona e Bayern, fica no imaginário. Na vontade. Nos clubes, torcedores, dirigentes e jornalistas não admitem ou não têm paciência com trabalhos de início que precisam de tempo. 3 jogos sem vitória? Talvez o técnico não seja tão bom.
Tempo. Resultado. Sempre eles! Tite já não é mais técnico de Seleção porque perdeu do Palmeiras e do Audax. Fernando Diniz virou gênio e antes era louco. Como implantar uma ideia como a do Audax se chamam seu treino de invenção? Se te acusam de professor pardal na 1º derrota? Como falar de periodização tática se muita gente nem sabe o que é isso?
Pra pensar. Talvez o contexto e o desconhecimento do jogo falam mais alto. Afinal, as perguntas ficam no “time sem chutão”, explicar mais é coisa de “neotático”. Estamos dispostos a entender, compreender e dar o tempo necessário para fazer uma folha de 400 mil se tornar um time finalista? No Audax demorou 3 anos. E em times grandes, com cobrança e pressões?
Pra pensar, de novo. O bom técnico de futebol não é aquele que só ganha, mas sim o que convence de que sua ideia, seu modelo de jogo é melhor. Diniz tem isso - convence, inspira, muda a vida de jogadores antes considerados refugos e que agora fazem golaços na Arena Corinthians. É preciso valorizar o Audax - e sair do comum, dar chance pros mais novos, abrir a mente e o coração para o diferente.
Utopia? Pode ser. Mas como Diniz falaria, ou melhor, como Carl Jung falou: 'ser normal é uma meta dos fracassados'. Ser normal é tudo o que o Audax não quer.