Antonio Silva
Ele fez muitos gols!
em Bate-Papo da Torcida > O homem da virada
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Em uma São Paulo ainda arrasada pela Revolução Constitucionalista, um rapaz esguio de 19 anos, 1,76 m de altura e apenas 62 quilos vem a São Paulo com a Seleção Paranaense de futebol, perder para a temida Seleção Paulista por 7 x 4. Dos 4 gols paranaenses, 3 são dele.
Pouco tempo depois, de volta a Curitiba, recebe a visita de um empresário representando um grande clube de São Paulo: 'Rapaz, lá você pode ter a América!'
Reticente, consulta sua mãe que diz: 'O que vai ficar fazendo aqui? Ser apenas um sapateiro? Vá logo!'
Ele então embarca nessa aventura, hospedando-se numa pensão na Rua Guaianases, próximo a Praça Princesa Isabel, no centro. Ainda era uma época que o futebol começava a se profissionalizar. Era uma época em que o racismo começava a ser vencido no futebol, as equipes começavam a ter vários jogadores negros como ele em seus plantéis.
No seu primeiro jogo, o time perde de 4 x 0 para o Vasco da Gama. Ele então pensa: 'O que vim fazer aqui? Esse time é um abacaxi'.
Um diretor do clube então o acalma, dizendo que o time estava se reestruturando e que em pouco tempo a coisa iria melhorar. O rapaz decide ficar, para já no seu segundo jogo marcar o primeiro gol contra o Palestra Itália. No fim da partida, depois de inúmeras provocações e insultos, diz: 'Não gosto desse time de italianos'.
Ele ainda marcaria mais 14 gols contra esse time de italianos.
Uriel Fernandes, o Teleco jogou no Corinthians de 1934 a 1944. É o terceiro maior artilheiro do clube com 251 gols em 246 jogos, com uma média de 1,02 gols por jogo. Maior até do que a média do Pelé.
Artilheiro dos campeonatos paulistas de 35,36,37,39 e 41. Um centroavante clássico, que jogava entre os zagueiros. Muito técnico, tocava e chutava de primeira quase todas as bolas. Seu companheiro Tim, no ataque que contava ainda com Mendes, Luizinho e Imparato dizia:'Ele pegava a bola como viesse e mandava para as redes sem escolher o pé. Na corrida, de sem-pulo, parado. Era tudo a mesma coisa'.
Tal característica lhe rendeu a alcunha de 'O homem da virada'.
Não conseguia vaga na seleção brasileira, pois um tal de Leônidas da Silva era o centroavante titular e o nosso Teleco não tinha passaporte.
Foram 10 anos de muitas glórias e uma assustadora quantidade de gols pelo Corinthians.
Em 1944, depois de muitas contusões, resolveu encerrar a carreira. Com a fama, montou junto com Brandão, um certo centro-médio (equivalente hoje a um segundo volante), seu companheiro no Corinthians um bar na Vila Mariana chamado Bar e Restaurante do Esportista.
Infelizmente com a pouca experiência, endividou-se e perdeu todos os seus imóveis e todo o dinheiro de tantos anos de futebol para saudá-las, honrado que sempre foi.
Já seu amigo Brandão, abandonou essa coisa de bar e decidiu ser treinador de futebol. Ganhou alguns títulos, é verdade. Um deles, um campeonato paulista em 1977. Ficou mais conhecido como Oswaldo Brandão, o homem que acabou com a fila de 23 anos do Corinthians.
O Teleco, ainda tentou retomar a carreira pelo Santos, Juventus e Rio Claro sem muito sucesso. Posteriormente, foi contratado pelo próprio Corinthians para ser o diretor da sala de troféus do clube.
Em 22 de julho de 2000, aos 86 anos, Teleco deixou a diretoria da sala de troféus e a vida para ser história.
Enquanto entre nós, foi um troféu vivo desfilando entre as centenas de troféus de metal do Corinthians, o grande amor da sua vida.
Texto: Igor Rykovski
Fontes: Revista Placar, Almanaque do Corinthians e Wikipedia.
Teleco, o terceiro agachado da esquerda para a direita.
Teleco e sua famosa virada contra a Portuguesa de Desportos em 1941.
Teleco, o troféu entre troféus.