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Corinthians: minha primeira seleção
Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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Opinião de Walter Falceta

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Corinthians: minha primeira seleção

Um símbolo vivo da brasilidade que abraça e agrega

Foto: Divulgação Oficial

Em 12 de Julho de 1998, a serviço do jornal O Estado de S. Paulo, testemunhei o fracasso do Brasil diante da França, no Stade de France. Os 3 a 0 caíram pesados também sobre os ânimos dos jornalistas.

Exatamente 16 anos depois, em outro 12 de Julho, presenciei, do anel superior do Mané Garrincha, em Brasília, o complemento do desastre nacional na Copa, com os 0 a 3 que nos foram impostos pela Holanda.

Nas duas ocasiões, senti que vícios brasileiros haviam nos afastado da glória. Na França, as traquinagens de Ronaldo e a irresponsabilidade dos chefes da delegação produziram as condições para o papelão.

Em 2014, escreveu-se a crônica do desastre anunciado. Como técnico do time canarinho, escalou-se aquele que havia determinado o rebaixamento do Palmeiras. Tite, o mais capacitado na época (e ainda hoje), assistiu aos jogos de sua poltrona doméstica.

Sem dúvida, a Seleção muitas vezes nos comove. Pouca gente sabe, mas sua primeira grande conquista foi o Campeonato Sulamericano de 1919. E quem mais brilhou na esquadra foi justamente o nosso Neco, primeiro ídolo corinthiano.

Ele anotou os dois gols do empate no jogo contra o Uruguai, em 26 de Maio daquele ano, o que gerou a necessidade de um novo confronto.

Neste embate final, foi dele a sensacional arrancada que culminou com o gol do título, anotado por Friedenreich.

Para o meu avô calabrês, não foi tão emocionante quanto nosso título paulista de 1916, mas rendeu, sim, uma festa.

Ora, mas se o assunto é seleção, e também Uruguai, adversário com o qual empatamos em 2 a 2, nesta quinta rodada das Eliminatórias da Copa de 2018, convém recordar o triste episódio de 1950.

Perdemos a decisão do torneio por 1 a 2. Os visitantes marcaram com Schiaffino e Ghiggia. O país chorou copiosamente. Passamos a duvidar de todas as nossas competências. Exercitamos ao máximo a síndrome de vira-latas. Arruinamo-nos.

Naquele episódio, que sejam destacados dois pecados sem remissão. Primeiramente, o oportunismo que marca nossa cultura política.

Antes do jogo, abandonou-se a preocupação com o futebol. Diante das câmeras fotográficas, os engravatados do executivo e do legislativo faziam-se de papagaios nos ombros dos atletas brasileiros.

Depois da grande malogro, como é costume aqui nesta Pindorama, a mídia e o povo furioso resolveram eleger um vilão; um só, para ser malhado como Judas, até o fim dos tempos.

Escolheram o goleiro, mesmo cientes de que a derrota decorrera de falhas coletivas. Barbosa faleceu na Praia Grande, em 2000, ainda assombrado pelos demônios acusatórios.

Cabe lembrar de situação inversa, aquela de 1970, quando o triunfo no México serviu para fazer a propaganda de um regime ditatorial e violento.

Mas, afinal, o que mais e melhor nos representa como nação?

Há um hino que nos faz cantar: “tu és orgulho dos desportistas do Brasil”. E que mais adiante declara: “és do Brasil (o quê? o quê?) o clube mais brasileiro”.

É mais brasileiro o nosso Timão justamente porque compõe a síntese de toda a nossa fantástica diversidade. É o clube do povo, de todo o povo.

Lá em 1910, no Bom Retiro, nossos heróis fundadores costumavam entoar uma canção anarquista, chamada Stornelli d’esilio, do italiano Pietro Gori, composta em 1895.

Seu verso principal é este: “nostra patria è il mondo intero”, que nem preciso traduzir. Pois este foi um princípio poderoso na formação do clube.

Nossos pioneiros não cultivavam preconceitos. O estatuto remanescente mais antigo é o de 1913. Ali, está bem claro que não existe restrição a nacionalidade, religião ou política. Podiam se associar todos os “indivíduos de bons costumes”.

E, assim, viramos a entidade esportiva de italianos, portugueses, espanhóis, sírios, libaneses, gregos, lituanos, japoneses. Tornamo-nos o clube dos afrodescendentes e dos tetranetos do índio Tabatinguera.

Nossas primeiras atas atestam que queríamos o Brasil inteiro, reunido em sua espetacular diversidade. Nosso objetivo era muito maior que formar uma boa equipe para o ludopédio.

Tínhamos uma biblioteca para gerar conscientização e promovíamos pic-nics e saraus. E, assim, patrocinamos convergências, reunindo as classes sociais numa mesma paixão.

Voltemos à inevitável comparação. A Seleção Brasileira, dominada por Marins e Del Neros, envolvida em negociatas mil, por vezes, pouco nos representa. Noutras ocasiões, desagrega, confunde e nos afasta da virtude.

O Corinthians, como milagre holístico, pelo contrário, é sempre fator de conciliação e de entendimento, estímulo aos que buscam a igualdade, a fraternidade e, sim, a prosperidade.

Ah, sou brasileiro, com muito orgulho e muito amor. Mas minha primeira seleção é a do Corinthians, resumo do melhor da brasilidade.

Se a ordem é vestir a esperança, melhor a camisa preta com listras brancas. Esta, sim, é manto sagrado de quem, na comunhão de todos os iguais, não desiste nunca.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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