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Dinheiro sim, espaço não
A vaquinha no Corinthians: só querem o dinheiro da Fiel?
Opinião de Jorge Freitas
Com a ausência de jogos, a notícia que mais chamou atenção no Corinthians neste final de semana foi a possibilidade de se realizar uma vaquinha com a finalidade de quitar as pendências financeiras da nossa Neo Química Arena.
Esta não é a primeira vez que a torcida corinthiana se empenha para ajudar o clube na consolidação do sonhado estádio, que embora construído, traz um déficit financeiro terrível e impede que tenhamos a renda dos jogos nas contas do clube.
A princípio, a ideia parece não ter sido muito bem vista pela diretoria, mas, diante da insistência da Gaviões da Fiel, houve uma mudança de pensamento, que se consolidou com a declaração do superintendente de marketing da equipe, José Colagrossi Neto, afirmando que "nos próximos dias iremos discutir as ideias e apresentaremos um plano" para ajudar o clube a sair dessa situação difícil.
A vaquinha, pensada na força que a torcida tem e sempre teve de carregar esse time nas costas, é quase uma ótima ideia. Com 30 milhões de torcedores, é possível imaginar que mesmo que não se quite 100% do que devemos para a Caixa, talvez consigamos diminuir o tempo da dívida e, enfim, encerrar esse acordo que tem jogado o time num buraco financeiro sem fundo.
Entretanto, há uma condição fundamental que me faz "torcer o nariz" para essa iniciativa e que implicaria diretamente na minha intenção de ajudar o clube.
Atualmente, sabemos bem, o Corinthians se tornou um clube de poucos, recheado de negociações estranhas, dominado por empresários e por um grupo de gestores que prometem renovar o clube, mas não dão um passo sequer para essa medida.
À torcida, coube nos últimos anos, apenas a marginalização do processo decisório da equipe, já que o Fiel Torcedor não tem direito a voto e é tratado literalmente como um público em espetáculo, sem opção de interferir no comando do clube, mesmo que esteja clara a incompetência daqueles que comandam atualmente o time.
Vale destacar que, em enquete realizada pelo Meu Timão para saber quem a Fiel gostaria de ver como novo presidente do Corinthians, o candidato da situação Duílio Monteiro Alves foi o menos votado, ficando abaixo dos concorrentes Mario Gobbi e Augusto Melo. Entretanto, foi exatamente Duílio o vencedor da eleição, o que ilustrou perfeitamente como somos excluídos do clube.
Ou seja, o corinthiano, hoje, é visto pela diretoria e por conselheiros apenas como um público-alvo de produtos que trazem dinheiro para dentro dos cofres corinthianos. Em poucas palavras, somos aqueles que levam dinheiro para o clube enquanto tantos outros retiram, inexplicavelmente.
Então como ajudar numa vaquinha sem que se tenha, de fato, renovação e transparência dentro do clube? Como colocar dinheiro sem que possamos eleger nosso presidente na próxima eleição? Como quitar uma dívida sabendo que a diretoria pode fazer tantas outras com empresários, direitos de imagem e fornecedores? Por que pagar pela conduta de ex-presidente e seus amigos?
É certo ajudar financeiramente e deixar impune quem colocou a equipe nesse buraco?
Uma condição fundamental para a ajuda é o direito a voto do Fiel Torcedor, pois este Corinthians, do jeito que está, é impossível de ajudar, já que o corinthiano não pode aceitar este papel de corrigir as condutas estranhas e a incompetência de outros.
Lembremos o que disse Miguel Battaglia, primeiro presidente do clube: "O Corinthians é um time do povo e o povo é quem vai fazer o time". Certamente, Battaglia não falava apenas de ajuda financeira, mas de força política.
Se querem nosso dinheiro, a contrapartida é nos dar espaço.
Assim veremos se quem está lá dentro se preocupa mais com o clube ou com o status de comandá-lo.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.