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As Brabas

Corinthians de Arthur Elias ganhou mais uma taça no último sábado

Staff Images/Conmebol

Novamente as meninas carregaram o Corinthians nas costas. E faz tempo que isso vem ocorrendo

Opinião de Rafael Castilho

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A conquista do tetracampeonato da Copa Libertadores da América, superando nosso principal rival, deve figurar na primeira prateleira das conquistas do Sport Club Corinthians Paulista.

Trata-se de uma conquista épica, da qual a história fará um grande juízo e para todo o sempre será lembrada.

A grandeza de uma conquista não se dá pelo tamanho do troféu, ou pelo nome da competição. São as circunstâncias que importam. O simbolismo dessa vitória tão importante.

Lembro das histórias que ouvi sobre as conquistas da Democracia Corinthiana em 82 e 83. Além se superar o rival dentro das quatro linhas, o Corinthians teve de superar o peso de ter se levantado contra o sistema. Muitos queriam ver o Corinthians na lona. Não era mais apenas um jogo ou um campeonato. Tratava-se da coragem, das ideias, da insubordinação, da ameaça de felicidade de um povo.

Com as meninas também foi assim esse ano. Elas ousaram se pronunciar quando muitos esperavam que elas permanecessem caladas. Ousaram levantar suas vozes quando muitos queriam que se fizessem de mortas. Foram brabas quando alguns as queriam obedientes.

Quando as mulheres se pronunciaram contra a contratação do técnico Cuca, o mundo caiu sobre elas. Alguns que apenas toleravam e fingiam alguma simpatia pelo futebol feminino, passaram a atacar. Foi estranho é muito triste de ver, mas muitos se sentiram na obrigação de torcer contra as meninas por paixões políticas absolutamente estranhas ao corinthianismo.

Pudera, a coragem de alguns é ameaçadora na medida em que acaba por revelar a covardia de outros.

Quando eu digo que as meninas têm carregado o Corinthians nas costas, não me refiro apenas aos títulos do futebol feminino em contraste com a ausência de títulos do masculino.

A verdade é que as mulheres têm superado todas as dificuldades e demonstrado grande amor pelo Corinthians. Numa triste realidade em que muitos pais se distanciam, quando não abandonam seus filhos, as mães corinthianas vêm transmitindo o corinthianismo para seus filhos, formando as próximas gerações. Não é raro ver as mulheres fazendo o corre para conseguir um ingresso para suas crianças. Levando ao jogo em seus braços. Enfeitando a casa com as cores do Corinthians em dias de jogos.

Essa dedicação se canaliza em energia que vai para dentro do campo. Emociona ver como as meninas correm e se entregam durante o jogo. Não existe bola perdida, não existe tempo para pensar no cansaço. Elas disputam todas as bolas com afinco. Elas possuem coragem, arriscam seus corpos, vivem o jogo e ao mesmo tempo jogam a vida. Natural emergir uma pergunta inevitável: já pensou se o masculino jogasse com esse amor e com essa garra?

Certa vez ouvi alguém dizer que as mulheres são os negros do mundo.

Pois bem, a luta incansável das mulheres, seja dentro de campo, sejam aquelas que resistem pelo direito de torcer, superando todos os preconceitos, nos coloca ainda e para sempre como o Time do Povo.

As mulheres são hoje a maioria da torcida do Corinthians. Também, o Corinthians é a maioria entre as mulheres. Isso não é por acaso. Com todos os problemas que enfrentamos. Mesmo com todas as coisas ruins que acontecem na nossa instituição, o Corinthians ainda é uma causa. Ainda permanece como um vetor para dar vez e voz ao seu povo.

E se as minas escolheram o Corinthians, é porque existe um sentido muito poderoso em tudo isso.

Nos braços e no amor dessas mulheres o Corinthians se acolhe. Não perde suas raizes, preserva sua identidade e se ergue como uma bandeira e uma esperança para sua gente.

Mulheres corinthianas, dentro e fora do campo, obrigado por existirem. Parabéns pela luta e pela consagração dessa vitória tão importante.

Vai Corinthians!

Veja mais em: Corinthians Feminino e Títulos do Corinthians Feminino .

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Por Rafael Castilho

Rafael Castilho é sociólogo, especializado em Política e Relações Internacionais e coordenador do NECO - Núcleo de Estudos do Corinthians. Ele está no Twitter como @Rafael_Castilho.

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  • Comentários mais curtidos

    Yusuke
    Yusuke Urameshi #2.887

    Não entendo o amor de uma galera aqui por um técnico medíocre, que sempre falou que ganhamos roubado e que não tem qualquer identificação com o clube.
    Se não gostam do futebol feminino, ok, mas ficar idolatrando estuprador/cúmplice por elas se posicionarem é ridículo.

  • Claudinei
    Claudinei Cyrino #2.734

    Dizer o quê após esse texto maravilhoso?
    Uma verdadeira obra prima.
    Posso dizer que hoje de manhã estava falando de Gabi Portinho Lelê, Thamires.
    Eu e meu filho falando das "BRABAS".
    5,10, anos atrás isso era impensável, hoje as Brabas conquistaram nossos corações e nos representam de verdade.
    Só posso agradecer por manterem esse nosso amor pelo Corinthians vivo, apesar dos desmandos do outro lado.
    Somos Corinthians.
    Parabéns, Parabéns, Parabéns.
    E obrigado pelo texto Rafael Castilho.

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  • Todos os comentários (29)

    Ca�que
    Caíque Olivera

    Parabéns pelo texto,

    Que privilégio temos nós em vivenciar esse momento, dentro do nosso clube. Costumo dizer que hoje as Brabas são um fragmento muito bem-sucedido da luta feminista no Brasil.

    E mais uma vez o Corinthians faz história nesse sentido. Desde essa final da Libertadores, passando pelo 8x0 no rival, estou com o coração eufórico.

    Não gosto de fazer comparações com o masculino, muitas vezes acho sem sentido. Mas quando você pergunta o que seria do time masculino se jogasse com a garra que elas jogam, foi absurdamente pertinente. Realmente, o que seria?

    Arrisco um palpite: seria a CONTINUIDADE do espírito desse clube, que desde seu nascimento carrega a expressão da luta da classe trabalhadora brasileira

  • Daniel
    Daniel Costa #1.727

    Concordo com tudo deste tópico. Nas sócias da vida, na hora das piadas e tiradas de sarro, elas salvam nosso momento. E faz tempo.

  • Admilson
    Admilson Leite #845

    Se uns tempos atrás admirava pouco, hoje admiro muito. São gatas, guerreiras, amam nosso coringão, representam. O masculino me faz vergonha, muito triste isso. Os empresários estão acabando com o masculino. Precisamos renascer das cinzas. Se isso tiver que passar pela B novamente, paciência. Mas nunca vou deixar de torcer pelo meu Timão

  • Itamar Morgado
    Itamar Morgado

    Será que um dia vamos jogar no nível delas?

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