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Curiosidades
Um dia há 60 anos que uniu o Corinthians, meu trabalho e um filme ganhador do Oscar
Opinião de Tomás Rosolino
Para quem é assíduo no Meu Timão já ficou claro que sou fã de contar histórias, fazer links - salve, Sylvinho - com o passado e colocar em perspectiva o futuro do clube. Para isso, datas comemorativas são dos ganchos mais comuns nas pesquisas históricas e, nesta segunda, me deparei com uma daquelas relações inusitadas que acontecem muito raramente.
Ao procurar no fabuloso Almanaque do Timão sobre os jogos realizados nos dias 7 de junho pelo clube do Parque São Jorge me deparei com um amistoso realizado diante do Racing Club, da Argentina, em 1961. Por ser um grande adversário, cliquei no duelo para saber mais e, quem sabe, buscar uma história sobre para escrever a vocês, algo com o qual já me acostumei a fazer quase todo dia.
Para minha surpresa, porém, não foi ninguém do time do Corinthians, do local ou dos artilheiros que me chamou atenção. Nem mesmo havia ali um nome famoso da época, como às vezes surpreende ao encontrar confrontos contra Yashin e Di Stefano, para ficar em dois nomes que me saltaram aos olhos em outras oportunidades parecidas.
O Racing tinha logo de cara na escalação Anido e Mesias. Os dois jogadores passam longe de ser nomes automáticos entre torcedores do mundo todo, mas eu sabia que conhecia e já tinha ouvido. Segundos depois, veio a conexão com talvez o melhor filme que vi na vida.
"No és el mismo Anido, que Anido con Mesias", lê Sandoval (interpretado por Guillermo Francella), coadjuvante carismático numa primorosa cena de O Segredo dos Seus Olhos, filme argentino de 2009 que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro.
A frase é dita ao ler uma carta de um suspeito que ele e Benjamín, interpretado pelo grande Ricardo Darín, buscam pela cidade de Buenos Aires. A conversa se dá num bar com o Escrivão, apelido de um personagem fanático justamente pelo Racing.
"Anido e Mesias, zaga do Racing campeão de 1961", esclarece o torcedor, que ajuda a dupla a concluir que o suspeito, praticamente impossível de se encontrar, é um outro fanático pelo Racing - vou barrar os spoilers porque vale muito a pena assistir (essa cena específica está abaixo).
Após dizer quem eram Anido e Mesias, o Escrivão dá a escalação inteira daquele time campeão, que em meio à campanha vitoriosa veio a São Paulo encontrar o Timão. Fanático por futebol e pelo filme, li a lista disponível no Almanaque no mesmo ritmo do personagem, encontrando outras quatro peças iguais.
Para minha surpresa, ainda percebi que o goleiro era Ataulfo Sanches, outro citado pelo Escrivão na cena. "Reserva do grande Negri, jogou só 17 partidas entre 1957 e 61", declama o conhecedor. Uma delas, descobri hoje, contra o Corinthians.
A cena continua com o discurso sobre a paixão que nos acompanha a vida toda e fecha em um plano-sequência formidável no estádio Tomás Adolfo Ducó, do Huracán, onde continua a trama. Uma "viagem" que todo apaixonado por futebol merece fazer na vida.
Ah, o jogo? Terminou 2 a 2, com gols do centroavante Higino para o Corinthians, ainda no primeiro tempo, e una reação do Racing capitalizada por Borges e Belen.
Veja a cena completa, com legendas:
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.