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Bom senso com urgência

Nonno Vincenzo: em 1918, no Bom Retiro, contra a Gripe Espanhola

Arquivo Famiglia Falcetta

Pandemia: bota juízo na sua cabeça, Duilio

Opinião de Walter Falceta

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Meu Nonno Vincenzo, bom calabrês, juntou-se ao Corinthians, em 1910, no Bom Retiro, ao ouvir as conversas dos trabalhadores que se reuniam na barbearia de Salvatore Battaglia, irmão de nosso primeiro presidente, Miguel Battaglia.

Em 1918, ele arregaçou as mangas para ajudar a erguer, em regime de mutirão, nosso primeiro estádio, na Ponte Grande. Era um de seus grandes orgulhos.

Naquele mesmo ano, ele se agregou às brigadas do Bom Retiro que foram combater a gripe espanhola, que tanto ceifou vidas em São Paulo, no Brasil e no mundo. Considerava a maior honra de sua vida.

O Corinthians havia subscrito oficialmente um programa de auxílio à Cruz Vermelha. Com o futebol corretamente paralisado, muitos corinthianistas de raiz se apresentaram como voluntários ao Desinfectório Central, atuando nas atividades de socorro sanitário.

A ignorância impede que muitos corinthianos saibam desses fatos. Estão abastecidos por gabinetes de ódio, pela escola da terra plana e pela imprensa comercial empenhada na alienação do torcedor.

Há quem acredite, por exemplo, que o futebol seja seguro durante a pandemia de Covid-19. Tolo engano. O esporte, no Brasil, é mais um vetor de transmissão da doença que está devastando nosso país.

Não é verdade que o ludopédio seja inofensivo. Jogos mobilizam inúmeros profissionais, além dos atletas. De membros de comissões técnicas a funcionários dos estádios, muitos dos quais contraíram a enfermidade nos últimos meses.

Por interesses econômicos, esses casos não são divulgados por clubes, federações e emissoras de TV, que dependem do produto futebol para manter seus gordos lucros.

Na Paraíba, o advogado Eduardo Araújo, diretor do São Paulo Crystal foi infectado. Tinha 33 anos. Sofreu, morreu e deixou sem pai o Davi, de 7 anos. Valeu a pena?

A doença levou também o presidente da Chapecoense, o Paulo Magro. O jogador Roberto, mesmo jovem, penou para se livrar do vírus. Chegou a ter 40% do pulmão comprometido. Perguntem a ele se foi uma "gripezinha".

A Covid também levou o querido técnico Marcelo Veiga, do São Bernardo, tão conhecido no futebol paulista. Era um cinquentão saudável.

A doença matou o massagista Jorginho, do Flamengo. E também dois vices de futebol: Biagio Peluzo, do Cruzeiro, e Marcão, do Grêmio.

Morreu o massagista das categorias de base do Vasco, o Luiz Henrique Ribeiro. No mesmo clube, registrou-se o falecimento do estimado enfermeiro Miro. O Botafogo precisou enterrar o querido auxiliar técnico Renê Weber.

A indústria da enganação e da ignorância, no entanto, diz ao torcedor ingênuo que "não morreu ninguém até agora". Desconsidera também parentes e amigos contaminados por atletas e membros das comissões técnicas.

Os casos são inúmeros, não somente no Brasil, mas no mundo.

Diante deste quadro, o Corinthians de Duílio Monteiro Alves resolve se meter numa aventura para atuar em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, em um estádio que, aliás, tem um posto público de atendimento médico.

Até ontem, no Brasil, havia morrido um em cada grupo de 722 brasileiros. Em Volta Redonda, um em cada grupo de 541.

Poucos perceberam a gravidade e a complexidade do problema. Um deles é o eminente professor Rafael Castilho, também colunista desde Meu Timão, conselheiro do clube.

Vale aqui o elogio aos corajosos conselheiros que, na noite deste 23 de Março, emitiram uma nota à presidência do clube, exigindo responsabilidade e a paralisação das atividades esportivas neste momento.

O valioso e histórico documento tem as assinaturas dos seguintes membros do CD:

Ana Lucia Tomé Órfão, Arcangelo Sforcin Filho, Armando José Terreri Rossi Mendonça, Caio Mora Ribeiro, Carla Dualib Sonnewend, Carlos Ojeda, Carlos Rafael Ferreira de Castilho, Ciro Dualib Sonnewend, Edson Médice Dualib, Edson Real Dualib, Fábio Antônio Palmieri, Fábio Francisco de Albuquerque Carrenho, Fabio Luiz da Silva, Fabricio José Parras Vicentim, Felipe Moreno, Germano Augusto, Jair João de Lima, Jair Nunes, Julio Kahan Mandel, Leonardo Romanholi Filho, Levon Kessadjikian Filho, Marcelo Arone Garcia, Marcelo Mariano dos Santos, Mirella Havir, Miriam Athie, Oldano Gonçalves de Carvalho, Paulo Roberto Bastos Pedro, Renata Ribeiro Rainone, Renato Campiteli Rodrigues, Rodrigo Vicente Bittar, Rozallah Santoro Júnior, Sergio Panes Domingues, Silvestre Fabbri, Ubiratan Mendonça Junior, Wagner Augusto Guedes Mohallem.

Não é preciso dizer que a sensatez manda evitar a desobediência ao que determinam as autoridades de saúde. Que os magnatas cartolas tenham a decência de respeitar e proteger aqueles que fazem e aqueles que sustentam o nosso futebol.

Veja mais em: Pandemia do coronavírus .

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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