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Síndrome de Peter Pan

O artilheiro: decepção para colega e torcedores

Arte; WFJR

Jô, o homem que não soube amadurecer

Opinião de Walter Falceta

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A chamada Síndrome de Peter Pan ganhou lugar na psicologia pop há quase 40 anos, com o livro do mesmo nome, escrito por Dan Kiley. Completa-se com a frase "homens que nunca amadurecem". Nem carece de explicação, certo?

Aqui, de cabeça, vou dar exemplos contrários, de gente nossa que amadureceu para valer: Zé Maria, Wladimir, Cabeção, Idário, Neco, Teleco e Basílio.

Essa galera cumpria seu dever mesmo lavada em sangue, com dedo fraturado, com feridas profundas nos pés, com o joelho deslocado, com o braço rompido amarrado ao corpo; por vezes, cozinhando na febre de 39 graus.

Esses aí, mais do que tudo, são grandes almas, profissionais competentes e seres humanos de primeira linha. Curiosamente, nenhum dele se tornou um milionário. Acompanhei, por exemplo, Cabeção e Idário em seus últimos dias. Vidas modestas, sem ostentação.

Gostamos de Jô. Ele é simpático, bom papo, bacanudo. Já marcou gols importantes para nós. Mas, ao contrário desses caras citados acima, é somente um moleque veterano. Personifica estes tempos líquidos ao qual alude o sociólogo Zygmunt Bauman. Sua marca é o descomprometimento.

Já em fim de carreira, embolsava mensalmente, por aqui, algo em torno de R$ 700 mil mensais, uma fortuna para qualquer brasileiro. Esse valor era pago, direta ou indiretamente, por mim, por você, ou seja, pelo povão que tem no Corinthians sua fonte de alegria e esperança.

No clube, no entanto, agia como um irresponsável menino leite com pera. Vou tentar recordar sua trajetória recente. Corrijam-me em caso de equívoco. Em março do ano passado, a Covid-19 matava a rodo. Era para todo mundo ficar em casa, dentro do possível.

Mas nosso artilheiro considerou que a regra somente servia para os outros. Foi para um resort com Otero. Nessa época, havia pelo menos uma dúzia de colegas de trabalho dele com a doença. Sei que pegou mal no grupo, sim, embora ninguém tenha botado a boca no trombone. Gente próxima começou a se afastar dele.

Três meses depois, novamente em transe, ele cismou de usar uma chuteira verde clorofila. Um mano crescido no Terrão não pode alegar ignorância. E uma pessoa saudável, que não seja daltônica (e ele, efetivamente, não é) não pode insistir na tese de que o calçado era "azul".

Generosos, nós o perdoamos mais uma vez. De repente, porém, na noite funda, ele aparece na franja de uma festa pirata na ZL. Detalhe, a Covid-19 ainda matava de montão. Ele constrói a narrativa enrolada da camisa para um amigo, que curiosamente não seria recebida pelo amigo, mas por uma suposta amiga do amigo, ou amiga dele, a gente nem sabe mais.

O caso não tinha esfriado e ele surge em outro evento inadequado, uma festa de grife de roupas, cheia de negacionistas sem máscara. Jô não está ligando para a própria saúde nem para a saúde de amigos, colegas e familiares.

Aí, vem o fim de ano, e o sujeito resolve simplesmente sumir, dar um perdido em si mesmo, novamente depois de uma festa. Todo mundo em pânico, especialmente a família dele. Cadê? Sofreu um acidente? Foi sequestrado? Morreu? Caramba, mano, não faz isso! Foi o que pensamos todos.

Quando reaparece, ele resolve expor a cônjuge, falando publicamente de um casamento que supostamente acabou. Não é coisa para rede social, francamente. E já se absolve. A culpa supostamente é de más companhias.

Muda o ano, mas Jô não muda. O adolescente de 35 anos, após o aniversário, dá migué no trampo de novo. A turma dos panos quentes consegue segurá-lo mais uma vez. O grupo vê tudo com desagrado. Quem trabalha com disciplina se sente ofendido pela irresponsabilidade do indivíduo.

Jô perde a forma. Parece estar focado em outras coisas e não no futebol que paga seus boletos e engorda sua poupança milionária. Mas o Mister Lusitano o chama para uma conversa de pai para filho. Trocam ideias. O portuga pede comprometimento. Ele responde que, dessa vez, podem confiar nele.

Mas, como sempre, nada é cumprido. Surge a tal lesão, a receita de se manter quieto, em casa, tomando remédio, fazendo as compressas.

Ele considera, no entanto, como lembrou a colega Mayara Munhoz, em sua coluna, que a boa ideia é sair para um pagode, numa noite fria, em ambiente lotado de gente, inclusive torcedores que direta ou indiretamente pagam o seu salário.

Na tela distante, o Corinthians penava diante do modesto Cuiabá, mas o meninão sorria tranquilão, dedicado ao batuque, alheio ao drama de seus confrades mosqueteiros. Como torcedor, eu penso: porra, é preciso ser muito otário para naturalizar mais uma desfeita do nosso artilheiro.

E, de fato, desta vez, não passou batido. Jogadores, comissão técnica, diretoria e torcedores sensatos viram o copo transbordar.

Uma pena, Jô. Foram 284 jogos e 65 gols. Foi um dos homens do título de 2017. Mas chega. Jô repete o comportamento de muitos outros boleiros magnatas, que foram, desde cedo, apartados de suas obrigações, mimados e paparicados por cartolas e agentes tubarões.

Aqui, no pé da pirâmide, a galera rala para arrancar 0,5% do salário de Jô. E é assim que a gente cresce, se disciplina, aprende a respeitar regras e a respeitar os outros. Como me disse o eterno amigo Wladimir, o craque que mais vezes vestiu a camisa do Coringão: "o atleta de futebol precisa botar na cabeça que ele é um exemplo para a juventude".

Veja mais em: Jô .

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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