Vítor Pereira contou como enxerga o futebol brasileiro e também fez autocríticas

Vítor Pereira contou como enxerga o futebol brasileiro e também fez autocríticas

Foto: Rodrigo Coca / Agência Corinthians

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Abriu o coração

Vítor cita criação familiar, faz metáforas e usa palavras duras para falar sobre futebol brasileiro

Por Julia Raya e Rodrigo Vessoni

O técnico Vítor Pereira marcou presença na Brasil Futebol Expo nesta segunda-feira para dar uma palestra e falar sobre sua relação com o futebol. Depois de fazer uma breve análise sobre a equipe do Corinthians no último compromisso, contra o Internacional , o treinador português expandiu sua área de análise para todo o futebol brasileiro.

De início, Vítor Pereira retomou uma frase dita por ele mesmo em entrevista coletiva recentemente. O treinador voltou a explicar a questão de não se prender a trabalhos que não acredita e que não lhe dão liberdade para agir como quiser. O português, então, foi sincero ao dizer que não esconde nada da torcida e que não admite que outros nomes do clube, que não de sua comissão técnica, queiram interferir em seu trabalho.

"Há projetos neste momento, neste país, que tem outras condições para ganhar. Claramente tem outras. E esses projetos é que tem que ser 'os bois chamados pelos nomes', como dizemos no meu país. Temos que apontar os clubes estruturados, com dinheiro e elenco para brigar por títulos. Não atribuam essa responsabilidade a quem não tem condições objetivas para ganhar títulos. Muitas vezes são fantasias, só que eu infelizmente, quando disse em uma preleção e fui infeliz, o que quis dizer é que estou a dar o meu melhor, estou no futebol brasileiro para ajudar a evoluir, se as pessoas quiserem. Se não quiserem, sigo a minha vida. Eu tenho a minha vida completamente estabilizada com base no trabalho. Não preciso dizer mentiras, vir aqui em frente à torcida do Corinthians ou ao presidente e dizer entendimento seja do que for", iniciou, se explicando.

"Eu tomo decisões com base no que tenho, um líder que quer ser líder não pode baixar a cueca, fazer o que os outros querem por causa de pressão. Quando começarem a segurar vosso emprego, a fazer no futebol, começarem a fazer porque não tem condições, para 'comer com merda', essa é a mensagem. Quando disse a declaração infeliz, era para dizer que 'não como com merda'. Não dou possibilidade a ninguém para se meter no meu trabalho. Mesmo antes de ter dinheiro eu já era assim, já saí de clubes porque queriam se meter na área técnica e eu não dou um milímetro ao presidente para se meter no meu trabalho", completou logo em seguida.

Veja um dos trechos de Vítor Pereira em vídeo

Em seguida, Vítor falou sobree sua própria maneira de lidar com o futebol. O treinador citou sua criação familiar e a relação com seu pai para justificar a maneira fria como lida com alguns assuntos e até reconheceu este como um defeito.

"Nós crescemos a lutar por nosso espaço. Eu cresci a lutar por meu espaço e por isso sou tão competitivo. Não sou nada afetivo, muito pouco. Posso ser afetivo, mas nunca me habituaram a dizer 'Vitor, você jogou muito bem', meu pai nunca foi assim. Falava quando fui bem, mal, pouco concentrado, e eu sou assim. Eu construí minha carreira e sou essa pessoa, não sou carinhoso porque eu não tive essa experiência e hoje isso marca minha carreira. Sou um treinador que exige de si próprio e de quem trabalha comigo. Em alguns momentos consigo ser um pouco afetivo, mas muito mais exigência e isso é um problema", expôs o profissional.

Ainda sobre sua relação com o futebol e outros profissionais, o corinthiano também frisou sua dificuldade de lidar com quem "tem merda na cabeça". O português pontuou as distintas maneiras de criação de cada atleta e ressaltou o fato de que os jovens saem de casa cada vez mais jovens para se dedicar ao futebol, o que os afasta de uma boa criação ao lado dos pais e lhes dá muita autonomia, causando muitas vezes "choque" de ideias.

"Tem gente que só tem merda na cabeça, eu tenho muita dificuldade de lidar com gente assim. Porque tenho dificuldade de esquecer meus valores morais e achar que o rendimento é mais importante, e eu tenho que tirar rendimento de quem for. O que acontece com a maioria é que não tiveram a possibilidade... saíram cedo de casa, ai os miúdos saem de casa pra ser jogador, mas sai cada vez mais cedo, que dizer que nunca vão ter os pais por perto desse jeito. A volta deles vão ter pessoas, como eu, que vão ver um futuro talento, mas eles não tem muito jeito, pensam que estão sempre certos, o treinador sempre errado, tudo que ele disser está certo... os valores, somos educados cada um com valores, mas depois esses chocam com quem está à volta deles", afirmou o treinador.

"Muitos, quando são ricos, não ligam pra sua volta, quando são pobres, não querem nada com nada. Criam um mundo fictício, que não é real, é virtual, que ninguém pode dizer que não, contrariar eles, ai chega uma pessoa como eu que afronta, diz não, diz na cara, aí isso gera conflito. Muito de ser treinador é gerir conflitos, e isso desgasta. A pressão vem de fora também, vem de torcida, mídia, essa pressão, pra mim, é o que eu preciso. A pressão que desgasta é tomar decisões a toda hora, gerir conflitos toda hora... quanto mais conheço das pessoas, mais gosto dos animais", continuou em seguida.

"Às vezes fico desiludido pela desonestidade intelectual. Nós temos que ser honestos, temos filhos e temos que ser exemplos. Não é construída uma vida na ilusão, eu falo muitas vezes que o castelo de areia vai embora com uma onda. Vem duas derrotas seguidas e, ao invés do Corinthians brigar por título, vai para o meio da tabela. Isto é o futebol", finalizou.

Veja mais em: Vítor Pereira e Elenco do Corinthians.

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