Depois de seis meses fazendo ouvidos moucos aos pedidos do Corinthians para que aceitasse uma proposta e deixasse o clube para poder jogar, finalmente o atacante colombiano Stiven Mendoza fez as malas e partiu. Vai jogar até o fim do ano no Bahia, para alívio dos dirigentes corintianos. Lidar com ele e seu comportamento bipolar não era uma tarefa fácil.
Mendoza estava de volta ao Corinthians desde novembro, quando foi devolvido pelo New York City, o time que tinha Pirlo, Lampard e David Villa. Apesar de ter chegado no meio do campeonato e ter sofrido uma lesão que o deixou fora de alguns jogos, ele tinha feito cinco gols e sua contratação estava nos planos do técnico Patrick Vieira. Mas sua irresponsabilidade pôs tudo a perder.
No jogo de volta da Conferência Leste contra o Toronto, em Nova York, ele chegou ao estádio meia hora depois do horário combinado (o time não se concentrava para os jogos em casa, e os jogadores tinham um horário para se apresentar diretamente no estádio), foi cortado da partida e Vieira desistiu de tentar sua contratação. A última vez que entrou em campo foi no dia 30 de outubro, na partida de ida contra o Toronto.
Voltou ao Corinthians dizendo que queria ficar e lutar para ser titular, embora a diretoria desde o começo tenha deixado claro que não fazia parte dos planos e que o melhor para ele seria ir para outro clube. O técnico Fabio Carille gosta de seu futebol, mas o acha muito inconstante. Um dia arrebentava nos treinos, nos dois seguintes parecia um bicho-preguiça em campo. Sua indisciplina tática também era um problema, desde os tempos de Tite.
As propostas por Mendoza chegavam e ele as rechaçava. Algumas de imediato, em outras ele dava a entender que iria aceitar e no fim recusava – o que irritava muito os dirigentes. O atacante afirmava que se via em condição de ser titular no Corinthians e que acabaria conseguindo isso. Nem o fato de não ter sido inscrito no Paulistão o fez mudar de ideia. Além de confiar em seu futebol, o colombiano se baseava nos elogios que sempre recebeu do italianoMarco Materazzi (seu treinador na Índia em 2014 e 2015, ano em que foram campeões e Mendoza fez 13 gols em 16 jogos), na ótima impressão que causou a Roberto Donadoni quando fez um período de testes no Parma em 2014 (não ficou porque o clube estava quebrado financeiramente) e no que ouvia de Patrick Vieira nos Estados Unidos antes de pisar na bola.
No início do ano ele recusou ofertas da Ponte Preta, do Bahia e do Botafogo. A Ponte voltou à carga na reta final do Paulistão, pensando em contar com ele no Brasileiro, e até o zagueiro Yago (que foi companheiro de Mendoza no Corinthians) entrou no circuito para tentar convencê-lo. Mendoza continuou irredutível, e o clube de Campinas depois fechou com Emerson Sheik. O Grêmio também sondou o Corinthians, mas a conversa não chegou a avançar.
Pouco antes do início da Série B o Goiás tentou levá-lo. Financeiramente, era a melhor proposta para ele: R$ 150 mil por mês (ganhava R$ 130 mil no Corinthians), R$ 300 mil de luvas na assinatura do contrato e bônus por número de gols, jogos disputados e no caso de o time subir para a Série A. O meia Danilo, um de seus amigos no clube, falou bem a ele da estrutura do Goiás e da cidade de Goiânia. Mas Mendoza não quis saber. E fincou pé: no Brasil, só sairia para Flamengo, São Paulo ou Palmeiras.
O colombiano também não aceitou as ofertas que chegaram do exterior. E foram seis: Barcelona de Guayaquil, Jorge Wilstermann (ambos na Libertadores), uma de um clube da Segunda Divisão espanhola e três da Ásia: Coriea do Sul, Emirados Árabes Unidos e uma da Segunda Divisão da China.
Na Coreia o salário seria de 70 mil dólares (R$ 231 mil por mês). Nos Emirados, 800 mil dólares por ano (R$ 220 mil por mês). E o clube chinês se dispunha a comprá-lo por 3 milhões de dólares (R$ 9,9 milhões) e lhe oferecia 800 mil dólares no primeiro ano, 900 mil no segundo (R$ 247,5 mil por mês) e 1 milhão no terceiro (R$ 275 mil por mês).
Nada feito. Mendoza disse ao escritório colombiano que cuida de sua carreira que só iria para a Europa se fosse para um time de médio para cima, nunca na Segunda Divisão. E que para jogar na Ásia queria 2 milhões de dólares (R$ 6,6 milhões) por ano.
A direção corintiana chegou a pensar em afastá-lo do elenco como fez com Cristian, para tentar forçá-lo a aceitar alguma oferta. Mas no dia em que o gerente de futebol Alessandro ia chamá-lo para essa conversa o colombiano arrebentou no treino, fez três gols e deixou o dirigente sem clima para lhe dizer que a partir do dia seguinte não treinaria mais sob as ordens de Carille. E o clube foi empurrando o caso com a barriga, à espera de que um dia Mendoza acordasse disposto a sair.
Esse dia chegou, mas o negócio já não foi tão bom como teria sido se ele tivesse ido para Salvador no início do ano. Naquela ocasião o Bahia se comprometia a pagar integralmente o salário, agora o Corinthians tem de arcar com metade (R$ 65 mil).
Na Colômbia, o staff que cuida de sua carreira lamenta que ele tenha saído com quase seis meses de atraso. Se estivesse jogando desde janeiro, acreditam que na janela de julho/agosto conseguiriam arrumar um clube europeu que o comprasse. Agora, terão de esperar pelo menos mais seis meses.
Se depois do empréstimo para o Bahia não surgir uma proposta de um clube que lhe agrade, talvez o cabo de guerra com o Corinthians se repita no início de 2018 – o contrato de Mendoza vai até dezembro do ano que vem. E ninguém no clube quer nem pensar nisso.
FONTE: http://chuteirafc.cartacapital.com.br/reportagem-mendoza-diretoria-corinthians/ #reportagem: Como Mendoza quase enlouqueceu a diretoria do Corinthians - Chuteira FC Veja como o colombiano Mendoza irritou a diretoria do Corinthians por ter recusado dez propostas (seis delas do exterior) antes de aceitar ir para o Bahia chuteirafc.cartacapital.com.br